6 de Dezembro de 2020
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Isaías Is 40,1-5.9-11
«Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso».
Salmo Responsorial Salmo 84 (85)
Mostrai-nos o vosso amor e dai-nos a vossa salvação.
Leitura da Segunda Epístola de São Pedro 2 Pedro 3,8-14
«Nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça».
Aclamação ao Evangelho Lc 3,4.6
Aleluia.
Preparai o caminho do Senhor,
endireitai as suas veredas,
e toda a criatura verá a salvação de Deus.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 1,1-8
«Apareceu João Baptista no deserto, a proclamar um baptismo de penitência para remissão dos pecados».
«Eu baptizo-vos na água, mas Ele baptizar-vos-á no Espírito Santo».
Viver a Palavra
A vida cristã é caracterizada por um dinamismo de conversão que nos coloca permanentemente a caminho e nos faz desinstalar para abrir o nosso coração à perene novidade que brota do Evangelho. Deste modo, quantas vezes nos sentimos apenas no início deste caminho, aprendendo e reaprendendo a caminhar para uma resposta cada vez mais fiel ao Deus que vem ao nosso encontro e nos chama.
Ao ler o texto do Evangelho proposto para este Domingo, ficam a ecoar no meu coração as palavras que abrem o relato evangélico: «Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus». Nestas palavras de S. Marcos podemos afirmar que encontramos já o princípio e o fim do Evangelho: Boa Notícia que nos leva a conhecer e a confessar Jesus, como Cristo e como Filho de Deus. Como Cristo, isto é, como ungido do Pai pela força do Espírito Santo para proclamar a Boa Nova da Salvação e como Filho de Deus para nos fazer com Ele herdeiros da filiação divina. Estamos e estaremos sempre no princípio pois há tanto a conhecer, amar e colocar em prática para uma resposta mais fiel à Boa Notícia que em Jesus Cristo, Filho de Deus nos é revelada.
Num mundo marcado por tantas sombras e dificuldades, precisamos de boas notícias. Escutando ou lendo as notícias nas mais diversas plataformas informativas, invade-nos um conjunto de notícias marcadas pela violência, pela corrupção, a doença, o medo… Mais do que boas notícias, precisamos da Boa Notícia, a Boa Nova da salvação revelada em Cristo Jesus que nos ajuda a olhar para a realidade contemporânea com o realismo crente que não dissipa a esperança mas renova a confiança de que o tempo e a história estão nas mãos de Deus e que as realidades do tempo presente se inscrevem num horizonte de eternidade que nos excede e nos desafia a erguer os olhos para o céu, caminhando de pés bem assentes na terra, comprometendo-nos com as necessidades e anseios dos homens e mulheres do nosso tempo.
Este olhar de esperança sobre o tempo e a história é fundamental na nossa acção eclesial e desafia-nos a uma leitura kairológica da realidade, isto é, a olhar o tempo e a história como lugares onde Deus está já a actuar, pois o Seu amor precede, acompanha e rasga horizontes novos na nossa missão. Por isso, se é necessário evitar uma visão optimista quando desencarnada da realidade, também é necessário afastar um olhar pessimista que não permite olhar com esperança e ler a presença terna e misericordiosa de Deus que age e conduz a história: Deus aproxima-se no tempo e no espaço, dentro das pequenas coisas do dia-a-dia, à nossa porta e a cada despertar.
Por isso, é necessário ir ao deserto e escutar a voz de João Baptista que nos convida ao essencial da vida para que o acessório não nos impeça de escutar a voz de Deus que nos desafia à conversão. Quantas vezes ao ler este texto, penso como João Baptista falha no lugar onde desenvolve a sua acção. Porquê ir para o deserto, se o povo habita as cidades, vilas e aldeias? Não era mais conveniente ficar na cidade, nas praças e avenidas mais movimentadas para aí fazer ecoar o seu pregão? Contudo, o ruído, a pressa e a distracção não permitem escutar. João sabe que é necessário ser um sinal diferente para que a sua palavra possa ser escutada. Deste modo, indo para o deserto, João prega não apenas com as palavras mas com gestos proféticos que se fazem vida e que apontam para Aquele que vem e que é maior do que Ele.
João não vive num palácio nem não ostenta poder e riquezas, a sua alegria é servir Aquele-que-Vem e vive na dependência de Deus e do Seu amor e faz dessa experiência a maior liberdade. João é o homem do deserto e aponta o essencial. João é provisório e lava com água as nossas banalidades, apontando o caminho para Aquele que deve ser o definitivo das nossas vidas.
Homiliário patrístico
Dos Comentários de Eusébio de Cesareia, bispo,
sobre o profeta Isaías (Séc. IV)
Uma voz clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas do nosso Deus. Declara abertamente o profeta Isaías que não é em Jerusalém, mas no deserto, que se há-de realizar esta profecia, isto é, a manifestação da glória do Senhor e o anúncio da salvação para toda a humanidade. E tudo isto se cumpriu historicamente e à letra, quando João Baptista pregou o advento salvador de Deus no deserto do Jordão, onde se manifestou a salvação de Deus. De facto, Cristo manifestou-Se e a sua glória apareceu claramente a todos, quando, depois do seu baptismo, se abriram os céus e o Espírito Santo, descendo em forma de pomba, repousou sobre Ele, enquanto se ouvia a voz do Pai que dava testemunho de seu Filho: Este é meu Filho muito amado: escutai-O.
Tudo isto se dizia, porque Deus havia de vir ao deserto, intransitável e inacessível desde sempre, que era a humanidade. Com efeito, todo o género humano era um deserto totalmente fechado ao conhecimento de Deus, e nele não podiam entrar os justos de Deus e os Profetas. É por isso que aquela voz manda abrir o caminho para o Verbo de Deus e aplanar seus obstáculos e asperezas, a fim de que o nosso Deus possa entrar quando vier. Preparai o caminho do Senhor. É esta a pregação evangélica e a nova consolação, que quer fazer chegar ao conhecimento de todos os homens a salvação de Deus.
Indicações litúrgico-pastorais
- A Liturgia da Palavra deste segundo Domingo do tempo de Adento é uma oportunidade de recordar aos fiéis a necessidade de preparar o Natal do Senhor com o Sacramento da Reconciliação. João Baptista que proclama um baptismo de penitência e exorta a preparar os caminhos do Senhor é sinal do constante apelo à conversão e à penitência que experimentamos no sacramento da reconciliação. Deste modo, a celebração deste Domingo constitui-se como uma ocasião propícia para convidar os fiéis à celebração deste sacramento. Os párocos e demais pastores devem empenhar-se em encontrar tempos e lugares de celebração deste sacramento adaptadas às actuais exigências epidemiológicas bem como às circunstâncias profissionais e familiares dos fiéis.
- Para os leitores: a primeira leitura é marcada por um forte tom exortativo. Deste modo, na proclamação deste texto haja uma atenção especial aos diversos verbos na forma imperativa, às repetições e frases exclamativas. Sem exagerar na dramaticidade da proclamação do texto, deve preparar-se de modo a colher toda a força expressiva que ele encerra. Na segunda leitura é necessário ter um especial cuidado com as frases longas e com diversas orações para uma articulada proclamação do texto. Pede-se também especial atenção nas duas frases que apresentam uma oração que termina com os dois pontos, pois é uma oração que introduz a frase que se segue.
Sugestões de cânticos
Entrada: Povo de Sião – F. Santos (CN 818); Acender da vela: Ó Divina sapiência – Jesus Cristo, Luz das Nações – F. Santos (CN 557); Salmo Responsorial: Mostrai-nos o vosso amor, dai-nos a vossa salvação (Sl 84) –M. Luís (SRML, p. 144-145); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Preparai o caminho do Senhor – F. Santos (BML 33); Ofertório: O Senhor virá no esplendor da sua glória – Az. Oliveira (CN 748); Comunhão: Levanta-te, Jerusalém, eis a tua luz – F. Santos (CN 578); Pós-Comunhão: Vinde, vinde, não tardeis, Senhor Jesus – M. Luís (CN 1013); Final: Derramai, ó Céus – F. Santos (CN 345).