
Todos, cada um e cada uma, e os países, sonham em viver melhor. Viver melhor tem um sentido conotado com uma melhor qualidade de vida. Este viver melhor significa, uma melhoria dos serviços de saúde, educação, igualdade social, o cuidado com a natureza, a equidade de género e outros parâmetros, aliás definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), num “Índice de Desenvolvimento Humano”, muito para além daquilo que os países normalmente codificam como “Produto Interno Bruto”, e que, na sua génese, tem um paradigma da economia neocapitalista. A ONU reforça o seu pensamento numa “qualidade de vida”, mas ainda entendida duma forma materialista, ou seja, “viver melhor”, consiste em ter mais proveitos, para que se possa consumir mais, numa ética de progresso de consumo ilimitado, daquilo que falamos quando dizemos “crescimento”. Mas tudo o que “cresce” não significa que é “desenvolvido”. Poderíamos ir a um extremo e afirmar que “viver melhor” pode ser uma forma de colonização, porque para um “consumo ilimitado”, existem aqueles que “vivem melhor” e os outros que “vivem pior”.
Ora o “bem viver”, não é isso, porque se consubstancia numa atitude ética da suficiência, duma suficiência de toda a humanidade, e não dum clã, ou de um grupo de pessoas que “vivem melhor”, numa vivência colonialista. Isso pressupõe que o “bem viver”, inclui uma visão integradora e holística dos homens e das mulheres no cosmos. Pode não ser um “crescer”, mas é claramente um “desenvolver”. Desenvolver é uma harmonia com o todo, com os ecossistemas, numa atitude que o neoliberalismo não quer, baseado no lucro e no mercado, é o “consumo” que está à frente da vida. O consumo é o rejeitar o planeta, o desmoronar o universo, não é guardar e residir juntos com a Criação, não é uma atitude anticolonialista perante a terra que produz. O que Deus disse aos primeiros seres humanos, foi para cuidar da Criação, esta lhes daria tudo.
O “bem viver” integra em si todos os seres humanos ou não humanos, e a sã convivência entre todos. Esta é uma profunda comunhão com todas as energias do universo e com Deus. E aqui reside a espiritualidade que dá força a este “bem viver”.
Esta pandemia não será também do nosso “viver melhor” em vez do “bem viver”?
Consultar: www.portaldoenvelhecimento.org.br/revista e https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/leonardo-boff-o-viver-melhor-ou-o-bem-viver