Por João Alves Dias
“Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força
ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!”(Ap 7,12)
Inspirado por esta oração de louvor da 1ª leitura e pelas palavras de D. Américo Aguiar na missa do Dia-de-Todos-os-Santos, na igreja de S. Domingos, em Lisboa, telefonei a um amigo que está doente e não pode sair de casa. Quando perguntei “Como estás?”, respondeu: – “Levanto-me todas as manhãs. Dois AVC não perdoam. Ando pouquinho. Estou vivo e tenho quem cuide de mim, graças a Deus.”. Na sua voz, esvaída e trémula, floriam sentimentos de gratidão.
Conheci-o em 1964. Era, então, empregado fabril e já vivia na casa, onde ainda mora, num bairro camarário de fraca nomeada.
Desde novo, foi um lutador pela vivência comunitária. Começou por, em 1966, fundar um clube no seu bairro cuja sede funcionou como polo agregador dos moradores que, vindos de ilhas diferentes, não se conheciam. Com a chegada de outras etnias, passou a ser também um espaço de convivência intercultural. Num ambiente descristianizado, era, ainda, uma “capela diferente” que o pároco aproveitava para estar com vizinhos que não encontrava noutros lugares. E foi precisamente um destes “cristãos periféricos”, como dizia D. Manuel Vieira Pinto, quem fez e ofereceu o sacrário para a capela que então se construiu no bairro.
Em 1995, ajudou a fundar uma associação destinada a acolher as crianças que vagueavam pelo bairro nos tempos não letivos. Eram convidadas a aparecer quando quisessem e havia sempre alguém que as acolhia e lhes oferecia atividades educativas. Com o tempo, a associação foi crescendo, com novas atividades que entusiasmavam a criançada, como a criação duma fanfarra. E foi ampliando e diversificando os serviços que continua a oferecer à comunidade, com especial atenção aos mais desprotegidos.
Pobre, esteve sempre disponível para os outros. Certo dia, ao saber que um amigo passava por momentos difíceis de abandono familiar, disse-lhe: – “Tenho vários filhos e minha casa não é grande mas, se precisares, haverá sempre um prato à mesa e uma cama para ti.” E acrescentou: – “Eu também já precisei e sempre um amigo me deu a mão”.
Quando ia para a baixa do Porto, levava umas moedas no bolso para dar a quem lhe pedisse porque, dizia, ”há sempre alguém que precisa mais que eu”.
Na sua atividade política, esteve ao lado dos mais pobres e, no serviço autárquico para que foi eleito, fez ouvir a voz dos setores mais marginalizados.
Em tudo, foi/é uma serena força de inclusão.
Como escreveu o Papa Francisco no número 69 da «Fratelli Tutti»: “Enquanto caminhamos, embatemos, inevitavelmente, no homem ferido. Hoje, há cada vez mais feridos. A inclusão ou exclusão da pessoa que sofre na margem da estrada define todos os projetos económicos, políticos, sociais e religiosos. Dia a dia enfrentamos a opção de ser bons samaritanos ou viandantes indiferentes que passam ao largo”.