Tribuna do Leitor: Confinamento nos lares, novo testemunho

Hoje, nos jornais e nos noticiários muito se escreve e fala do covid-19. Apresentam números e estatísticas, que nos metem medo e insegurança. Salientam os números. Esquecem-se das pessoas. Desconhecem a situação dramática dos doentes e famílias. Ignoram o sofrimento. Calem-se os números. Falem os dramas pungentes, que este vírus semeia nos infetados, famílias e Lares.

Movido por este desiderato, vou dar o meu testemunho vivencial num Lar. Há oito meses, que os idosos sofrem o impiedoso confinamento. Vivem enclausurados, há tanto tempo sem liberdade, sem carinho familiar e oprimidos por tantas normas restritivas, que lhes destroem o bem-estar, tiram a vontade de viver e provocam o aniquilamento psíquico e mental.

Algumas medidas impostas são de pequena perigosidade, mas de efeitos nefastos. Mas se um ou outro idoso se queixa, logo respondem: Estás mal? A porta está aberta. Ah! Se eles pudessem, o Lar esvaziava-se e elas ficavam desempregadas. Vivia connosco um idoso, que acompanhava a esposa acamada com alzheimer. Ele me dizia: Não as aguento. Animava-o. Mas… foi para casa.

Há pouco tempo, neste jornal, sugeri que todos os que orientam os Lares tivessem uma preparação em Gerontologia. Verificamos que a esperança de vida aumenta. Os nascimentos diminuem. Num futuro próximo os idosos serão muito mais, que os jovens. Não devemos pôr a esperança na eutanásia, tratando os velhos como pessoas inúteis, abandonando-os ou maltratando-os. Não caiamos na tentação de os colocar na prateleira, como objetos descartáveis. E muito menos não nos deixemos vencer pela ganância ruinosa das partilhas.

Na semana passada fizeram, aqui, os testes. Tudo negativo. Mas logo se apressaram a meter os idosos nos seus quartos, dia e noite, sem poder sair. Estes são pequenos, com duas camas e duas cadeiras, restando um exíguo espaço para se movimentarem.

Atualmente, nos Lares infetados, o vírus se tem manifestado assintomático. Além disso, ele só pode entrar por meio de uma das empregadas. Como ela cuida de vários idosos, não contamina uma só pessoa. Logo este último doloroso confinamento é inútil. Haja bom-senso!  Nem oito, nem oitenta! É que se não morrermos da doença do vírus, morreremos da cura!

P. Casimiro Alves – Lousada

ND: Este é mais um testemunho do drama vivido nos lares de idosos. Numerosos têm sido os avisos para os perigos do confinamento. Muitas mortes daí virão. Um artigo de Clara Barata no “Público” de hoje questiona a formulado confinamento e o deputado André Silva manifestou “enorme preocupação com a saúde e o equilíbrio mental face ao exagero das medidas de recolhimento obrigatório”. O presente testemunho deveria ser motivo de reflexão pelos que apenas veem a pandemia como números.