Mensagem (98): Esperança

Como em tantos outros âmbitos, creio que a humanidade se divide ao meio no que se refere à esperança. Muitos, céticos quanto a tudo e a todos, orientam-se pela máxima derrotista: “Quem vive de esperança, morre de fome”. Outros, dão crédito e agarram-se com toda a força do seu viver aos conhecidos aforismos: “Enquanto há vida, há esperança” ou “A esperança é a última a morrer”.

Na mitologia romana, a esperança era figurada como deusa jovem, com flores na mão esquerda e a direita apoiada numa âncora, sinal de solidez ou certeza de não engano. Vestia de verde, cor da primavera e promessa de um outono de farta colheita, depois do amadurecimento do verão. Daí as flores e a âncora. Tudo isto compunha a ideia de que o bem e o justamente desejado haveriam de chegar.

O cristianismo, muito mais religião de futuro do que de passado, sempre viu a fé e a esperança como datações históricas, mas imprescindíveis, até à chegada definitiva do amor. Garante São Paulo, num hino sobre a perenidade do amor e do bem, muitas vezes escolhido pelos noivos para a liturgia do seu casamento: “Agora, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. Mas a maior de todas é o amor”. Porquê? Ele mesmo já o tinha dito, algumas frases antes: “O amor jamais passará”. O amor ou o Bem total, que é Deus, o “Sumo Bem”.

Não há, portanto, verdadeira perceção da mensagem cristã sem a esperança: ela como que se identifica com a pessoa caminhante. Porque sem ela não se chega ao amor ou ao bem. Por isso, o Catecismo da Igreja Católica (n. 1818) tece-lhe os maiores elogios: “Corresponde ao desejo de felicidade que Deus colocou no coração de todo o homem; assume os anseios que inspiram as atividades dos homens; protege contra o desânimo; sustenta no abatimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna; preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade”. Belo, não?

É. Porque somos pessoas de fé e de amor, não podemos ser menos de esperança. Sem ela, ficaríamos imóveis, colados ao chão, inativos. A esperança é caminhada mesmo quando as forças parecem faltar; é asas nos pés para atingir o bem possível; é canto melodioso que supera os soluços e as dores.

Nesta hora difícil, com a mão na âncora da esperança, repitamos as palavras de Jesus, tão divulgadas pelo Papa S. João Paulo II: “Não tenhais medo!”. O bem vai chegar! Ânimo!

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