Um santo pela voz de outros santos

Por João Alves Dias

Aproveitei os dias de “Todos-os-Santos” e “Fiéis Defuntos” para reler a Exortação Apostólica “Exsultate et Gaudete”. Detive-me no capítulo IV – “Algumas caraterísticas da Santidade no Mundo Atual”.

No número introdutório (110), o Papa Francisco adverte que irá referir apenas “alguns aspetos da chamada à santidade que tenham uma ressonância especial”.

E quais são? Ao longo de 47 números fala de «Suportação, Paciência e Mansidão» – «Alegria e Sentido de Humor» – «Ousadia e Ardor» – «Em Comunidade» – «Em Oração Permanente».

E vieram-me à mente três vidas exemplares que realizaram, cada um à sua maneira, estes conselhos: D. António Barroso, Padre Américo e D. António Francisco.

É consolador ler o que o venerável ”Pai Américo” disse de D. António Barroso na inauguração do bairro de Miragaia que tem o seu nome. “O Senhor D. António Barroso encheu a História. Coisas pequeninas tornaram-no um gigante.… Não sei se algum Bispo da História de Moçambique tenha ido ao Zumbo antes dele. Era uma jornada de 15 dias por carreiros gentílicos. Só ele mereceu ocupar e preocupar os homens do Terreiro do Paço naquele tempo. Duro, tenaz. Rebelde. Uma só cara. Não torceu nem quebrou! Só ele! Porém a sua grande loucura está no amor aos pobres. Desmandos. Imprudências. Coisas mal feitas – tudo. Um cordão que a Mãe lhe dera gastava-se aos bocadinhos, quando não havia dinheiro. Os seus familiares sabiam muito, sim, mas não tudo. Os grandes escondem-se!”

Foi com emoção que, no 5º “Dia da Voz Portucalense” em 2014, ouvi o bondoso D. António Francisco falar do seu venerável predecessor:

“Raras figuras da história religiosa dos séculos XIX e XX reuniram, como D. António Barroso, a admiração diante do seu dinamismo apostólico e da coragem da sua fé no contexto dos tempos frágeis do fim da Monarquia e dos desafios imensos colocados ao nosso País nos tempos conturbados do início da República. Em 21 de fevereiro de 1899, foi nomeado Bispo do Porto. Aqui recomeça a sua inesquecível ação pastoral, percorrendo a Diocese em visitas pastorais, cujos relatos da época nos revelam uma bondade profética e uma proximidade evangelizadora impressionante. A coragem manifestada frente às atitudes irresponsáveis do Governo da República face à Igreja e a sua decisão ao determinar que fosse lida em todas as paróquias da Diocese a Carta do Episcopado português levaram-no ao exílio, para onde parte a 7 de março de 1911. Depois de vários processos de intenção e de julgamentos que inclusivamente o levaram à prisão, D. António Barroso regressa do exílio que viveu na sua aldeia natal, em Remelhe, Barcelos, a 3 de abril de 1914, para retomar o seu múnus de Bispo do Porto, no dia seguinte, em celebração festiva nesta Sé.

Demos graças a Deus por este nosso Bispo que serviu a Igreja do Porto e a Igreja Universal, em tantas e delicadas frentes de missão”.

Diversos nos contextos e carismas, são luzeiros nos caminhos da santidade. Em todos, a mesma bondade que nos enche o coração.