No penúltimo Domingo do ano litúrgico, celebramos o Dia Mundial dos Pobres. O Papa Francisco, que o instituiu há quatro anos, lança também a palavra de ordem, retirada da Bíblia: “Estende a tua mão ao pobre” (Sir 7, 32). Mas quem é o pobre?
Há quem fale em vários géneros de pobreza: metafísica (condição de dependência em que nascemos), moral (tendência ao mal), existencial (vícios e hábitos criados pelo excesso de dinheiro), espiritual (carência da graça de Deus), religiosa (falta de fé), etc. E é verdade. Mas pobres, na conceção corrente, são os privados dos bens necessários para as necessidades fundamentais da vida: alimentação, alojamento, roupa, acesso a cuidados básicos de saúde, instrução/educação satisfatórias, cultura que lhes permita inserir-se na sociedade e emprego.
Quando falta algum destes sete bens fundamentais quase sempre a situação de carência se repercute nos outros. Dá-se uma espécie de efeito dominó que faz cair os outros bens. Por exemplo, a perda de trabalho ou salário em atraso pode favorecer os problemas de relacionamento familiar e conduzir à violência doméstica, porta aberta para a separação e para o divórcio, o qual, por sua vez, desemboca, frequentemente, no alcoolismo, na violência, na queda na condição de sem-abrigo e outras sujeições.
E não só nesta linha sincrónica. O pobre também o pode ser por «hereditariedade»: quanto mais baixo é o estádio socioeconómico dos pais, tanto maiores são os riscos de exclusão social dos filhos. Um exemplo: a inexistência crónica de bens económicos básicos tende a afastar as crianças da escolarização, indispensável para se «singrar na vida». A pobreza possui sempre uma base económica que se alarga a outros domínios.
Quantos são os pobres? Muitíssimos. No terceiro mundo, mas também no interior das nossas sociedades opulentas ocidentais. Sabemos que 2.800 milhões de pessoas –quase 50% da população mundial- vivem com menos de dois dólares por dia. E que em Portugal, na melhor das hipóteses, a taxa de pobreza ronda os 20 ou 22%. Mas que há quem afirme que chega aos 46%. Quase meio Portugal! Uma vergonha! E a situação que vivemos está a aumentar imensamente o seu número.
Deus é o eterno aliado dos pobres. Jesus declara-os “bem-aventurados porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3).
E nós?
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