
Por M. Correia Fernandes
Quem tenha seguido nas Universidades portuguesas os estudos de Filologia ou os programas de Estudos Literários das diversas línguas encontrou no caminho o volume chamado Teoria da Literatura, da autoria de Vítor Manuel de Aguiar e Silva, que constituiu livro de texto e de consulta de muitas cadeiras da especialidade nas diversas universidades. A primeira edição é datada de 1967, produzida pela Livraria Almedina de Coimbra, mas a obra acolheu numerosas edições e reimpressões.
Neste ano de 2020 o Prémio Camões, o maior prémio para galardoar os cultores (escritores, linguistas, investigadores e divulgadores) da Língua Portuguesa nos diversos países onde é língua oficial, foi atribuído a uma personalidade do mundo da investigação, crítica literária, e ensaio, como aconteceu com Eduardo Lourenço e António Cândido de Sousa (Brasil), ao Professor jubilado da Universidade do Minho, Vítor Manuel de Aguiar e Silva. Natural de Penalva do Castelo (Viseu), nascido em 1939, formou-se na Universidade de Coimbra e ali se doutorou e se tornou professor catedrático, tendo depois transitado para a Universidade do Minho, onde desempenhou também as funções de Vice-Reitor.
Além dos seus trabalhos de investigação em teoria da Literatura e dos movimentos literários (com obras como “A estrutura do Romance”-1974, ou “Teoria e Metodologia Literárias”- 1990), ou os estudos sobre o maneirismo e o barroco, distinguiu-se pela sua investigação e análise sobre a obra de Luís de Camões, estudando o cânone da lírica camoniana (1968), e a cuja análise temática se dedicou sobretudo a partir dos anos 1990, investigações que culminaram na coordenação do “Dicionário de Luís de Camões” (Editorial Caminho,2011), em que se reúnem artigos de consagrados estudiosos, e que constitui a mais ampla visão sobre a genialidade do autor de “Os Lusíadas”.
Importa lembrar que o nome de Vítor Aguiar e Silva não é novidade no domínio dos prémios sobre investigação e estudos literários. É Doutor Honoris Causa pela Universidades de Lisboa e dos Açores e Académico de Mérito da Academia das Ciências de Lisboa. Recebeu o Prémio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora (2002) e o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Recebeu também a “Insignia de Oro” da Universidade de Santiago de Compostela e o Prémio de Cidadania Cultural Vasco Graça Moura (2018).
O Prémio Camões, agora atribuído (2020) reconhece o seu contributo para a valorização da Língua e da Cultura Portuguesas.
Segundo opiniões recolhidas por vários órgãos de comunicação social, o autor manifestou-se “tão comovido que não consigo alinhar duas palavras” (Público, 27.out.20).
O Prémio Camões
Lembrar que o prémio distingue um autor de língua portuguesa pelo conjunto da sua obra, sendo atribuído anualmente, alternadamente no território de cada um dos países, Portugal e Brasil que o criaram por acordo celebrado em 1988 e depois reformulado em 1999.
O prémio consiste num valor pecuniário fixado pelos dois Estados, sendo atualmente de cem mil euros. Para atribuição é constituído um júri composto por personalidades dos seus Estados de língua oficial portuguesa.
O Júri deste ano, 32.ª edição do Prémio, foi constituído pelos professores universitários Clara Rowland, (Portugal), Carlos Mendes de Sousa (Portugal), Antonio Cícero (Brasil); António Hohlfeldt (Brasil); pelo escritor Tony Tcheka (Guiné-Bissau); e Nataniel Ngomane, professor universitário (Moçambique).
Segundo a ata divulgada da reunião do júri desta 32ª edição realizada em Lisboa, “a atribuição do Prémio Camões a Vítor Aguiar e Silva reconhece a importância transversal da sua obra ensaística, e o seu papel activo relativamente às questões da política da língua portuguesa e ao cânone das literaturas de língua portuguesa.”
A ata acentua ainda que os seus estudos de teoria literária influenciaram a fisionomia dos estudos literários em todos os países de língua portuguesa, referindo especificamente a importância da sua “Teoria da Literatura” e a relevância do seu contributo para o aprofundamento dos estudos sobre a obra de Luís de Camões.
A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, sublinhou as qualidades intelectuais e académicas, e o perfil humanista da sua investigação.
Lembra-se que Vítor Aguiar e Silva sucede a Chico Buarque de Holanda, premiado em 2019. Entre os portugueses que o precederam encontram-se os nomes de:
Miguel Torga, o primeiro a ser premiado, em 1989, e depois Vergílio Ferreira (1992), José Saramago (1995), Eduardo Lourenço (1996), Sophia de Mello Breyner Andresen (1999),
Eugénio de Andrade (2001), Maria Velho da Costa (2002), Agustina Bessa-Luís (2004), António Lobo Antunes (2007), Manuel António Pina (2011), Hélia Correia (2015), Manuel Alegre (2017).
O prémio foi até agora atribuído a 13 autores portugueses (incluindo o último), 13 brasileiros, 2 angolanos, 2 moçambicanos e a 2 cabo-verdianos. Entre os premiados registam-se seis mulheres, quatro portuguesas e duas brasileiras (Rachel Queiroz e Lygia Fagundes Telles), sendo que nenhuma dos países africanos até agora recebeu o prémio.
Em declarações ao Diário do Minho, da Diocese de Braga, Vítor Aguiar e Silva reconhece que o prémio constitui “a coroação de uma carreira” cujo percurso recorda como contributo para o conhecimento e defesa da Língua e Cultura Portuguesa. Entre os projetos, anuncia que “neste momento estou a reescrever a minha Teoria da Literatura, que terá uma nova edição”.
O Diário do Minho revela também que a Universidade do Minho recebeu com “júbilo” e “grande alegria” a distinção ao seu professor, bem como a Livraria Almedina, que editou a sua obra.