Semana dos Seminários: gratidão, compromisso e esperança

Decorre de 1 a 8 de novembro a Semana dos Seminários 2020 com o tema: “Jesus chamou os que queria e foram ter com Ele” (Mc 3, 13). A Semana dos Seminários é um tempo para despertar três atitudes: gratidão, compromisso e esperança, como refere D. António Augusto Azevedo, Presidente da Comissão Episcopal para as Vocações e Ministérios, na sua Mensagem para esta Semana que aqui divulgamos:

A Semana dos Seminários de 2020 tem como fonte de inspiração a palavra do Evangelho: «Jesus chamou os que queria e foram ter com Ele» (Mc. 3,13). Ela apresenta de modo sintético os elementos estruturantes da vocação: o chamamento do Senhor e a resposta dos discípulos, confirmada pela decisão de ir ter com Ele.

A esta luz evangélica se entende melhor a natureza e a missão dos seminários como comunidades que congregam aqueles que o Senhor chamou à vocação sacerdotal e se dispuseram a ir ter com o Mestre para aprender com Ele e configurar a vida com a Sua, preparando-se assim para serem discípulos missionários.

Neste sentido se pronunciou a XV Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos de 2018, reafirmando que «os seminários e casas de formação são lugares de grande importância onde os jovens, chamados ao sacerdócio e à vida consagrada, aprofundam a sua escolha vocacional e a amadurecem no seguimento» (Documento Final, nº20).

A citada frase do Evangelho aparece num contexto em que as palavras e gestos de Jesus de Nazaré enchiam de espanto as multidões e a sua pessoa suscitava grande fascínio naqueles que O acompanhavam por toda a Galileia.

Volvidos vinte séculos, o referido Sínodo assinalou que «muitos jovens são fascinados pela figura de Jesus. A sua vida parece-lhes boa e bela, porque pobre e simples, feita de amizades sinceras e profundas, gasta generosamente com os irmãos, nunca fechada para ninguém, mas sempre disponível ao dom. A vida de Jesus permanece também hoje profundamente atraente e inspiradora; é para todos os jovens uma provocação que interpela» (Documento Final, nº 82).

O chamamento que o Senhor fez então, continua a fazê-lo nos nossos dias. Trata-se de uma escolha livre, uma eleição surpreendente, puro dom da graça divina e não resultado dos méritos ou propósitos humanos. A vocação sacerdotal é, de facto, da ordem do mistério, do mistério da liberdade divina que se entrelaça com a liberdade do homem. Àqueles que primeiro foram chamados, Jesus reafirmará mais tarde: «Não fostes vós que me escolhestes, fui Eu que vos escolhi a vós» (Jo.15,16), conferindo-lhes até a dignidade de amigos. O que Ele tem a oferecer aos seus escolhidos é uma história de amizade profunda, uma história de vida plena.

A resposta ao chamamento de Jesus suscitou nos primeiros discípulos a decisão de ir ter com Ele. Aproximar-se do Senhor, reunir-se com todos os que querem caminhar com Ele, é o desígnio de quem se dispõe a ser discípulo e sacerdote em nome de Cristo. A opção pela vida sacerdotal com o pedido de ingresso ao seminário, exige hoje, porventura mais do que noutras épocas, uma fé corajosa. Numa cultura que promove o provisório e induz ao experimentalismo, uma opção de tal radicalidade supõe uma fé capaz de arriscar, uma fé consciente de que é preciso deixar algumas pedras preciosas porque se encontrou o verdadeiro tesouro.

Desejo que esta Semana dos Seminários sirva para despertar em todos nós três atitudes: gratidão, compromisso e esperança.

Damos graças a Deus porque continua a chamar alguns para serem pastores do seu povo e por todos os jovens e adultos que souberam escutar e responder com generosidade, fazendo parte das comunidades dos vários seminários do país. Gratidão é devida também às equipas formadoras dos seminários e a todos os professores e colaboradores que se empenham na exigente tarefa de formar pastores.  Sem esquecer o justo reconhecimento aos seminários pelo seu incomparável papel histórico, desde os tempos de S. Bartolomeu dos Mártires, na renovação da Igreja e na formação humana e cristã de tantas gerações de jovens de todo o país, incluindo os que não foram ordenados.

O compromisso de todos para com o seminário é indispensável para que ele cumpra a sua missão. Essa responsabilidade é pedida, antes de mais, ao clero chamado a assumir o seu papel no processo formativo e a manifestar solicitude, comunhão e proximidade para com o seminário. Também às famílias e comunidades cristãs se pede que tenham consciência da importância do seu apoio e acompanhamento aos seminaristas. E os cristãos não esqueçam que o seu compromisso para com os seminários se pode manifestar de tantas formas: na oração, na ajuda material e outras expressões de interesse e preocupação.

Esperança é o sentimento que pode crescer em nós com a celebração desta semana. Ela funda-se na convicção de que Deus não abandona o seu povo, mas pela ação do Espírito, renova sempre a vida da Igreja e lhe abre caminhos novos. Depositamos também muita esperança nos seminaristas que estão a fazer o seu percurso formativo para serem, na altura própria, os pastores que a Igreja precisa, segundo o modelo de Cristo, Bom Pastor. E esperamos que os jovens e adultos a quem o Senhor continua a chamar não tenham medo e saibam responder com generosidade e alegria.

+António Augusto de Oliveira Azevedo

Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios