Do toque de Finados anuncia-se o cantinho do Natal

Foto: Rui Saraiva

Mas, o momento atual é tão preocupante que o Natal ainda está longe. Vivemos uma grande crise sanitária, económica e social. Tempos de enorme incerteza. Mudanças diárias. Adaptações constantes. Gente que sofre tanto com a pandemia nos hospitais. Famílias e empresas num presente com pouco futuro. Seremos capazes da esperança?

Por Rui Saraiva

 

O aumento de contágios por covid-19 é cada vez maior. Batem-se recordes em toda a Europa. Aumentam os internamentos. Países que tinham apresentado um desempenho muito bom na resistência ao coronavírus na primavera e verão, como a Polónia e a República Checa, estão agora com problemas graves. Sucedem-se as medidas de confinamento local e de recolher obrigatório em muitos países europeus. A pandemia parece estar incontrolável.

Em Portugal, estamos em estado de calamidade. Os números não param de aumentar. Os hospitais estão a chegar ao limite da sua capacidade de resposta. Surgem os Centros Distritais de Retaguarda, como o que está instalado no Seminário do Bom Pastor, em Ermesinde, na diocese do Porto.

O primeiro-ministro, António Costa, em declarações aos jornalistas, avisou que não pode excluir medidas mais drásticas como por exemplo o recolher obrigatório. E elogiou a decisão da Assembleia da República de tornar obrigatório o uso de máscara na rua. A este propósito, registaram-se em Lisboa algumas pequenas manifestações de negacionistas das máscaras de proteção e vão-se lendo alguns tratados do absurdo sobre o mesmo assunto no comentário de “velhos do Restelo” que tudo sabem, mas nada acrescentam à nossa vida. Vivem no passado e de lá não vão sair.

Nos Finados, em dia de memória pelos Fiéis Defuntos, o toque é de fecho dos cemitérios. Já nem junto dos mortos estamos em segurança epidemiológica. Temos que nos confinar a esta decisão sanitária. Clara e compreensível. A tradicional visita aos entes queridos, no afago de uma flor, na conversa com familiares, parentes e amigos, não será possível nestes dias. De 30 de outubro a 3 de novembro haverá mesmo proibição de circulação entre concelhos. O perigo de contágio é muito elevado.

E o Natal? Como vai ser? É ainda cedo para dizer algo, mas pelo toque de Finados anuncia-se o cantinho do Natal. Confinado e em distanciamento. O registo de toque de recolhimento em que vamos viver os dias de Todos os Santos e de Finados, ou Fiéis Defuntos, já parece anunciar que no Natal vamos estar cada qual no seu cantinho. Como já foi avisando o presidente da República, teremos que repensar este ano a celebração do Natal.

A reunião de famílias, grandes e pequenas, num momento único de memória e de futuro, embalada pela força do nascimento de Jesus, provavelmente, não vai ser possível. Teremos todos que encontrar um cantinho para nós, os de casa e aí encontrarmos Jesus Menino. Certeza do caminho, da verdade e da vida que com Ele queremos celebrar. Na esperança que nos une a todos. Sobretudo, em tempo de pandemia.

Mas, o momento atual é tão preocupante que o Natal ainda está longe. Vivemos uma grande crise sanitária, económica e social. Tempos de enorme incerteza. Mudanças diárias. Adaptações constantes. Gente que sofre tanto com a pandemia nos hospitais. Famílias e empresas num presente com pouco futuro. Seremos capazes da esperança?