Bispos da Europa preocupados com o Pós Covid

Foto: João Lopes Cardoso

Por Secretariado Diocesano da Liturgia 

A Assembleia do Conselho das Conferências Episcopais Europeias tinha marcado para Praga a sua assembleia nos passados dias 25 e 26 de setembro de 2020. Mas o pico de contágios causados pelo Covid impediu os Bispos de se deslocarem à capital da República Checa. A assembleia não foi cancelada e realizou-se por teleconferência. Manteve-se o tema previsto: «A Igreja na Europa depois da pandemia. Perspetivas para a criação e para as comunidades». A desertificação da Missa Dominical parece ter sido preocupação dominante.

O Card. Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos fez soar o alarme desde a intervenção de abertura: «O prolongado jejum eucarístico fez perder o hábito da Missa dominical». Após o bloqueio das celebrações de portas abertas, imposto pelo coronavírus, a retoma das celebrações comunitárias deixa-nos indicações preocupantes.

É certo que a rarefeita prática do pós confinamento – desde o último domingo de maio, em Portugal – ainda não permite tirar ilações definitivas: a pandemia continua ativa e muitos fiéis, pertencentes a grupos considerados de risco, são aconselhados a permanecer em casa; acresce que na composição habitual das nossas assembleia é grande o peso dos escalões etários acima dos 65 anos pelo que era previsível que uma percentagem importante dos nossos «praticantes» habituais demorasse a retoma. Por outro lado, o distanciamento requerido para as celebrações comunitárias diminuiu drasticamente a «lotação» das igrejas dissuadindo muitos de se apresentarem para participar na Eucaristia das comunidades dotadas de espaços mais exíguos. E agora, com a diminuição das celebrações em espaços ao ar livre determinada pelas condições da meteorologia no Outono-Inverno, a tendência poderá ainda agravar-se.

Com todas essas justificações e contextualizações, há uma preocupação crescente perante a perspetiva não despicienda de que um número significativo de católicos praticantes possa ter perdido o hábito e o ritmo da Eucaristia dominical. «Urge uma nova evangelização – indicou o Cardeal Oullet na sua intervenção – que ajude os cristãos a descobrir que a Eucaristia não é só alimento espiritual para o nosso caminho, mas o testemunho feliz do encontro com o Ressuscitado que nos dá o Espírito de vida e de coragem na provação».

O papa Francisco acenou a este problema numa mensagem enviada ao Conselho em que recordou que «muitas atividades pastorais continuam à espera de reajustamento». De facto, «a experiência da pandemia marcou-nos intimamente a todos porque afetou de modo dramático um dos requisitos estruturais da existência, o da relação entre pessoas e na sociedade, subvertendo assim hábitos e relações que modificaram também as condições da vida social e económica. A própria vida eclesial foi afetada de modo significativo, obrigando a remodelar a prática religiosa».

O Papa Francisco elogia muitos sacerdotes e religiosos que empreenderam caminhos de serviço pastoral corajoso, testemunhando uma proximidade paterna e terna ao seu povo, de múltiplas formas: na provação da doença e da morte; nas situações de solidão devido ao confinamento, na busca de respostas inéditas às necessidades de formação cristã e de celebração… Perante a «explosão de novas pobrezas é necessário que esta fantasia da caridade continue, manifestando uma proximidade cada vez mais atenta e generosa para com os mais débeis».

Francisco convida a «reler espiritualmente» o tempo que temos vivido, assumindo a atitude do escriba que retira do seu tesouro coisas novas e antigas. Há que prosseguir no anúncio da esperança, na promoção de uma solidariedade efetiva, numa maior atenção  aos últimos, na redescoberta do Evangelho como fermento do sonho europeu. Tais são, para Francisco, os desafios que o pós-Covid lança às nossas comunidades cristãs da Europa.

Uma coisa parece certa: nos próximos tempos impõe-se-nos a pedagogia do chamado «preceito dominical». Não para reativarmos uma visão legalista do mesmo, acenando aos faltosos com o «pecado mortal» que estão a cometer, mas persuadindo-os de que a participação na Eucaristia dominical é de importância vital para o presente e futuro das comunidades cristãs e, portanto, para a própria fé e testemunho do Ressuscitado.

 

À atenção dos Ministros Extraordinários da Comunhão: a formação que lhes é destinada, em substituição dos encontros regionais, continua disponível no canal YouTube na seguinte ligação: https://youtu.be/XoR2DWucTIk