Francisco: os colonialismos que tornam a família indefesa

Na sua mensagem à 75.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada há semanas, o bispo de Roma e papa, nesta época de pandemia, onde a ciência ainda não encontrou a cura, afirma que são os “colonialismos ideológicos” que mais se abatem sobre as pessoas mais vulneráveis: os descartados, os indefesos – crianças e idosos – e provocam uma situação de “orfandade”. Por isso, esta é a hora do nosso “comprometimento” coletivo com novos e anticoloniais objetivos, a favor do planeta e dos seres vivos. E mais diz: “No entanto, devemos admitir honestamente que embora algum progresso tenha sido feito, a capacidade limitada da comunidade internacional de cumprir suas promessas de cinco anos atrás me leva a reiterar que “devemos evitar qualquer tentação de cair em um nominalismo declaracionista com efeito tranquilizador nas consciências. Devemos zelar para que nossas instituições sejam realmente eficazes no combate a todos esses flagelos”. O caminho a seguir terá de ser claro. “Estamos, portanto, diante da escolha entre um de dois caminhos possíveis: um leva ao fortalecimento do multilateralismo, expressão de uma corresponsabilidade global renovada, uma solidariedade baseada na justiça e no cumprimento da paz e da unidade dos família humana, projeto de Deus sobre o mundo; a outra dá preferência a atitudes de autossuficiência, nacionalismo, protecionismo, individualismo e isolamento, deixando de fora os mais pobres, os mais vulneráveis, os habitantes das periferias existenciais. E certamente será prejudicial para toda a comunidade, causando automutilação a todos. E isso não deve prevalecer”.

O papa Francisco ao referir todas estas palavras não as diz só para “os outros” – esses “outros” por quem se reza incessantemente pela conversão -, mas para todas e todos nós, cristãos ou não, agnósticos ou ateus, na perspetiva de se construir a fraternidade humana, todos e todas somos Filhos de Deus. Seria ignóbil que esta mensagem só fosse dirigida aos “pagãos”, ela faz parte da descolonização das consciências, sejam elas de onde forem. Os cristãos e as cristãs devem saber que Francisco se dirige também a eles e elas.

Às vezes queremos estar de fora, o tal “efeito colonizador das consciências”, mas isso seria um fracasso total, é-nos dado seguir e caminhar nas periferias e com as periferias, mesmo que sejam as nossas “periferias mentais”. Estas [nossas] serão esboroadas quando soubermos construir o diálogo ativo mas dos outros.