Por Alexandre Freire Duarte
(“After – Depois da Verdade” * EUA, 2020; dirigido por Roger Kumble; com Josephine Langford, Hero Fiennes Tiffin e Gary Sinise)
“After – Depois da Verdade” não é uma obra-prima do cinema. Admito que a narrativa (baseada em factos reais) é poderosa; a direção é realista e belamente cuidada; os diálogos são habilmente inábeis (para se assemelharem ao que é comum a muitos jovens com a idade das suas personagens principais); e, entre outras qualidades, aborda com arguta sensibilidade um conjunto de temas delicados e pertinentes para os dias de hoje. Mas, dito isto, e apesar de ser um filme romântico acerca de um amor trágico, nota-se, face às orlas mais rugosas da vida juvenil atual, não só uma certa apatia, mas também alguma utopia.
Seja como for, este filme é uma longa reflexão sobre uns dos mais dolorosos imponderáveis da existência crente, inclusive quando esta é vivida de um modo consciente. Onde está Deus quando sofro? Onde está Deus quando me dirijo em petição, por vezes não (entendida como) atendida, a Ele? Onde está Deus quando tudo o que pensava ser a Sua vontade se desmorona por terra? Qual o meu lugar concreto numa eterna História de Amor que surge com páginas repletas de dúvidas, inseguranças, dilacerações e até desapontamentos (e revoltas) com Deus, os demais e comigo mesmo?
As respostas que este filme tenta dar a estas (e outras) questões são honestas. Porém, para quem o vier a ver desde uma perspetival católica, talvez pareçam um pouco insubstanciais. De facto, delas está ausente a compreensão, tão bela e verdadeira (conquanto bem entendida), do oferecimento do padecimento próprio, em união com o resultante do amor vivido por Cristo, em benefício dos demais. Contudo, e até porque nos calhou viver a atual pandemia, esta obra alerta-nos para o facto de que, embora tantas e tantas vezes evoquemos a desculpa da “falta de tempo” para não cuidarmos da nossa vida espiritual, haverá sempre um tempo para morrermos.
É para esta última evidência que o arco desta obra se dirige, através do enredar de diversas “sílabas tónicas” temáticas. Entre estas, duas são capitais: por um lado, o relevo de – inclusive quando tudo está a desabar na nossa vida (a ponto de só podermos sofrer sozinhos juntamente com um Deus “ausente”) – não deixarmos romper todos os vetores de acolhimento, bondade, diálogo, misericórdia e fortaleza; e, por outro lado, a realidade de que a verdadeira beleza de um sujeito é sempre algo característico do mais profundo do seu ser, e, assim, impossível de ser eliminada nele e do coração daquele que o ama.
Isto é tão fácil de ser dito, como difícil de ser vivido. Não obstante, se nos colocarmos nas mãos d’Aquele Deus-Amor que, na Cruz, Se colocou nas nossas mãos (cuidando de nós enquanto d’Ele o cuidamos, também nos demais), aperceber-nos-emos, tal como este filme patenteia, que em cada “via sem saída” em que nos possamos encontrar, há sempre um elevador (movido pelo amor, que se desdobra igualmente na fé e na esperança) que nos pode projetar para outro patamar de liberdade, sentido, serviço, significado e valor. Queiramos nós entrar nele.