Será necessário colocar uma canga de bois, como Jeremias?

Por Joaquim Armindo

Num dos dias da semana passada, assisti a um debate sobre a “Casa Comum”, realizado pelo movimento “Cuidar da Casa Comum”. Entre os palestrantes estava um padre católico romano. A certa altura foi-lhe feita a seguinte pergunta: “Sabe explicar porque em Portugal o clero não presta nenhuma atenção à encíclica “Laudato Si`” e uma grande parte de agnósticos a ateus usam-na e conhecem-na e refletem sobre ela?” O sacerdote limitou-se a reconhecer o facto e a lamentar a falta de conhecimentos do clero português sobre a Criação. Esta pergunta, neste tempo do Jubileu pela Criação, em que mais documentação se apresentou e com a encíclica constitui um repositório muito grande, como sejam a “Querida Amazónia”,  “In cammino per la cura della casa comune – A cinque anni dalla Laudato si’ “ e, brevemente, “Todos Irmãos”, é sintomática daquilo que as pessoas sentem pelo desconhecimento das preocupações mais elementares pelo Cuidado da Criação. Se estes documentos, e muitos outros de tradições religiosas diferentes, passam à margem do clero da igreja, isso constitui um pecado que temos de assumir.

Verdade é, que o nosso povo pode interferir e informar-se, por si, da tremenda danificação que estamos a fazer à Natureza e não desconhecer o que é a “economia que mata” ou a alternativa a construir chamada “Economia de Francisco [de Assis]”. Deveremos, no entanto, os servos dos servos de Jesus, ser os primeiros a reconhecer que estamos a ser coniventes com o desrespeito pelo Grito da Terra e o Grito dos Pobres. Todos temos responsabilidades e muito mais aqueles que um dia assumiram a condição de servos de Jesus. Mais que voltar ao passado – como missas onde o padre está de costas para o povo, e este não entende o que ele diz-, o conhecimento desta magna questão, não pode só ficar pelos sonhos. Estes sonhos de Francisco – “Querida Amazónia” – são sinais que a Igreja, e nós, o seu clero, não estamos preocupados em vencer a iliteracia sobre as questões fundamentais da defesa da Criação.

Às vezes, penso, que será necessário fazer como Jeremias, o Profeta, (Jeremias, capítulo 27), e colocar uma canga de bois sobre os nossos ombros, para ver se alguém nos escuta. Ou então andar nu, como Isaías (Isaías, capítulo 20). Será necessário chegar nos nossos tempos a gestos destes para o clero português escutar o Grito da Terra e o Grito dos Pobres?