Domingo XXVII do Tempo Comum

Foto: João Lopes Cardoso

4 de Outubro de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro de Isaías                                                                       Is 5,1-7

«A vinha do Senhor do Universo é a casa de Israel, e os homens de Judá são a plantação escolhida».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 79 (80)

A vinha do Senhor é a casa de Israel.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses                                 Filip 4,6-9

«O que aprendestes, recebestes, ouvistes e vistes em mim é o que deveis praticar».

 

Aclamação ao Evangelho           cf. Jo 15,16

Aleluia.

Eu vos escolhi do mundo, para que vades e deis fruto,

e o vosso fruto permaneça, diz o Senhor.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                         Mt 21,33-43

«Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e levantou uma torre; depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe».

«A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular;tudo isto veio do Senhor e é admirável aos nossos olhos».

 

Viver a Palavra

O amor oferecido e recebido reciprocamente é fonte de uma imensa alegria e de uma profunda felicidade que todos nós já tivemos a oportunidade de experimentar. A experiência de amar e ser amado realiza o homem e a mulher na sua vocação para o amor e para a felicidade. Contudo, no arco da nossa existência, sejamos nós mais velhos ou mais novos, já fizemos a experiência da dureza de um amor não correspondido, da ingratidão face aos nossos gestos de carinho e bondade ou da indiferença diante do nosso esforço quotidiano de amar e servir aqueles que se cruzam connosco.

A Liturgia da Palavra deste Domingo, sobretudo a primeira leitura e o evangelho, são trechos de teologia da história, isto é, de uma releitura da história da salvação à luz da fé. Narram-nos um amor desmedido que tantas vezes não é correspondido. No cântico de amor à sua vinha que nos conta Isaías ou na parábola dos vinhateiros narrada por Jesus, contemplamos o amor que se faz cuidado, desvelo e atenção e uma resposta estéril, marcada pela ingratidão e falta de acolhimento.

A imagem da vinha remete-nos para o terreno exigente e difícil onde o agricultor investe o seu trabalho, cuidado e suor. Deus ama-nos e cuida de nós como um proprietário cuida da sua vinha: lavra o terreno, limpa as pedras, planta cepas escolhidas, ergue uma torre e escava um lagar.

«A vinha do Senhor é a casa de Israel». Nós somos a vinha amada e cuidada pelo Senhor. Somos obra das Suas mãos. Somos terreno fértil, lavrado pelas Suas mãos de oleiro. Somos terreno saxoso que Deus quer limpar para que o nosso coração empedernido possa frutificar. Somos cepas escolhidas e ungidas pelo Seu amor. Somos chamados a ser sentinelas vigilantes que no lagar da vida se purificam e oferecem para que o vinho da alegria possa inebriar o coração de cada homem e de cada mulher.

Contudo, quantas vezes produzimos agraços e não somos merecedores de todo este desvelo e cuidado. Quantas vezes não acolhemos os sinais enviados pelo Pai, nem tampouco o sinal maior do Seu amor revelado em Jesus Cristo. Como nos recorda a carta aos Hebreus «muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais» (Heb 1,1). Falou e continua a falar-nos. Criou-nos e por amor continua a acompanhar-nos e a recriar-nos com a força transformadora do Seu amor.

Deus não se cansa de nos amar e perdoar, mesmo que tantas vezes este amor não seja correspondido. Na nossa lógica humana retributiva e necessitada de reciprocidade, já teríamos desistido de amar quem parece não corresponder a tanto amor dispensado.

A nossa resposta será sempre insuficiente diante do imenso amor que Deus tem por cada um de nós. Todavia, as nossas fragilidades e limites não podem ser uma desculpa para a nossa inoperatividade e esterilidade. Pequenos e pecadores, amados por Deus, somos chamados a abrir o nosso coração à força transformadora da conversão que nos estimula a percorrer com alegria e entusiasmo a estrada da santidade e nos convida a ler a nossa história como uma história de salvação.

Como vinha amada e acarinhada por Deus, somos chamados a fazer das nossas vidas lugares que frutificam para que no mundo ecoe a mais bela melodia do amor e mesmo nos momentos de dificuldade e exigência, levantemos o nosso olhar para o céu e, tal como nos desafia S. Paulo: «apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e acções de graças».

 

Homiliário patrístico

Das Homilias de Orígenes, presbítero, sobre o Livro de Josué, (Séc. III)

Todos nós que acreditamos em Jesus Cristo somos chamados pedras vivas, segundo as palavras da Escritura: Vós, como pedras vivas, entrais na construção do templo espiritual, para constituirdes um sacerdócio santo, destinado a oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo.

Ora, quando se trata de pedras terrenas, sabemos que se colocam nos alicerces as mais sólidas e fortes para que se lhes possa confiar e sobrepor todo o peso do edifício; da mesma maneira, deve entender-se que também de entre as pedras vivas algumas estão colocadas nos alicerces deste edifício espiritual. Quais são essas pedras que estão colocadas nos alicerces? Os Apóstolos e os Profetas. É o que ensina Paulo quando diz: Construídos sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, tendo Jesus Cristo, nosso Senhor, como pedra angular.

Para te adaptares mais eficazmente, ó ouvinte, à construção deste edifício, para seres uma das pedras mais próximas do alicerce, repara que o próprio Cristo é o alicerce deste edifício que estamos a descrever. Assim se exprime o apóstolo Paulo: Ninguém pode colocar outro fundamento além do que foi colocado, que é Jesus Cristo. Felizes, portanto, aqueles que vão construindo edifícios religiosos e santos sobre tão nobre fundamento.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O dia 4 de Outubro é dia da memória litúrgica de S. Francisco de Assis. Este ano, por ser Domingo, não celebramos liturgicamente esta memória. Contudo, tendo em conta que no passado dia 24 de Maio o Papa nos convocou para um ano dedicado à sua Encíclica sobre o Cuidado da Casa Comum, Laudato Si’, este Domingo poderia ser a oportunidade para um conjunto de iniciativas que nos ajudem a valorizar a preocupação ecológica, apresentando o contributo cristão de uma ecologia integral que permita “chamar a atenção para o grito da terra e dos pobres” (Papa Francisco).
  2. Para os leitores: a primeira leitura abre com uma mensagem de amor e esperança, mas as expectativas são defraudadas. A proclamação desta leitura deve ter em conta esta variedade de sentimentos, com uma especial atenção para as frases interrogativas. Pronunciar as frases interrogativas evitando a tentação de acentuar apenas a palavra final e dando ênfase nas partículas interrogativas. A segunda leitura é marcada por um forte tom exortativo, sublinhado pelos diferentes verbos no modo imperativo. Pede-se especial atenção ao parágrafo onde se repete a expressão «tudo o que é» para que toda a mensagem seja bem compreendida e se tire partido da força semântica da repetição.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Aclamai a Deus toda a terra – F. Santos (CN 173); Salmo Responsorial:  A vinha do Senhor é a casa de Israel (Sl 79) –  M. Luís (SRML, p. 158-159); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eu vos escolhi do mundo… – Berthier (CN 45); Ofertório: Eu sou a verdadeira vide – C. Silva (CN 447); Comunhão: Formámos um só corpo – C. Silva (CN 501); Pós-Comunhão: Aquele que medita – C. Silva (CN 218); Final: Ao Deus do Universo – J. Santos (CN 209).