
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
A edição quotidiana de “L’Osservatore Romano” do passado dia 12 de setembro publicou uma carta dirigida pelo Prefeito da Congregação do Culto Divino aos Presidentes das Conferências Episcopais da Igreja Católica a propósito da celebração da Liturgia durante e após a pandemia do COVID 19. O documento, com data de 15 de agosto de 2020, foi aprovado e mandado publicar pelo Papa Francisco em audiência de 3 de setembro.
O título do documento, que é também o título deste artigo, diz o essencial do seu conteúdo. Vivemos – é uma constatação – tempos inéditos em que o esforço de impedir o contágio e proteger a saúde levou a medidas extremas de jejum da Eucaristia e afastamento das celebrações presenciais que põem em causa a dimensão comunitária que é constitutiva da Igreja e tem a sua fonte no mistério de Deus-Trindade. Mas «logo que as circunstâncias o permitam, é necessário e urgente retomar a normalidade da vida cristã, que tem o edifício igreja como casa e a celebração da liturgia, particularmente da Eucaristia, como o “cume para o qual tende a ação da Igreja e, simultaneamente, a fonte de onde promana toda a sua força” (SC 10)». A transmissão das celebrações pelos meios de comunicação social é um serviço precioso para quem não pode deslocar-se à Igreja por motivos de saúde ou outros. Mas «nenhuma transmissão se pode equiparar à participação pessoal ou a pode substituir. Aliás, estas transmissões, por si sós, correm o risco de nos afastarem de um encontro pessoal e íntimo com o Deus incarnado» que nos declara ser indispensável comer a sua carne e a beber o seu sangue (cf. Jo 6, 56). «Este contacto físico com o Senhor é vital, indispensável, insubstituível».
Destaque para o comentário da Carta à declaração determinada dos chamados «mártires do Domingo» (início do séc. IV) às autoridades que os acusavam do crime de reunião ilícita: «Sine Dominico non possumus»: não podemos passar sem Domingo! Como se explica, o terminante «não podemos» e a densidade de significação do termo «Dominicum» (o que é do Senhor) não se podem traduzir por uma só palavra. E expõem-se vários dos matizes e significados da expressão que são de uma atualidade gritante e que, por isso, nos limitamos a reproduzir:
- «Não podemos viver, ser cristãos, realizar em pleno a nossa humanidade e os desejos de bem e de felicidade que o nosso coração acalenta sem a Palavra do Senhor, que na celebração ganha corpo e se torna palavra viva, pronunciada por Deus para quem abre hoje o coração à escuta;
- Não podemos viver como cristãos sem participar no sacrifício da Cruz em que o Senhor Jesus se dá sem reservas para salvar, com a sua morte, o homem que estava morto por causa do pecado; o Redentor associa a si a humanidade e a reconduz ao Pai; no abraço do Crucifixo encontra luz e conforto todo o humano sofrimento;
- Não podemos viver sem o banquete da Eucarística, mesa do Senhor à qual somos convidados como filhos e irmãos para receber o próprio Cristo Ressuscitado, presente em corpo, sangue, alma e divindade como Pão do céu que nos sustenta nas alegrias e nas canseiras da peregrinação terrena;
- Não podemos viver sem a comunidade cristã, a família do Senhor: precisamos de encontrar os irmãos que partilham a filiação de Deus, a fraternidade de Cristo, a vocação e a procura da santidade e da salvação das suas almas na rica diversidade de idades, histórias pessoais, carismas e vocações;
- Não podemos viver sem a casa do Senhor, que é a nossa casa, sem os lugares santos onde nascemos para a fé, onde descobrimos a presença providente do Senhor e descobrimos o seu abraço misericordioso que levanta quem caiu, onde consagramos a nossa vocação no seguimento religioso ou no matrimónio, onde suplicamos e agradecemos, exultamos e choramos, onde confiamos ao Pai os nossos entes queridos que completaram a sua peregrinação terrena;
- Não podemos viver sem o dia do Senhor, sem o Domingo que dá luz e sentido ao suceder-se dos dias do trabalho e das responsabilidades familiares e sociais».