Mensagem (89): Cidadanias

Para além de pregar Deus como fonte primeira do Amor e do destino beatífico a que somos chamados, que faz a Igreja? Insiste na edificação de uma sociedade de irmãos, onde todos “se deem bem”, colaboradora e, como tal, onde não caibam ódios, inimizades, roubos, maledicência e injustiça. A tal ponto que, por vezes, parece que só se insiste nesta tónica moralizadora coletiva em detrimento de outros núcleos da fé.

Mas esta também passa por aí: apelo à responsabilidade individual, afirmando a autonomia da pessoa; e valorização da vertente relacional, já que, abstraída da sociedade, a pessoa é uma miragem. Concilia-se, assim, a tensão impulsionadora jamais suportada pelas ideologias políticas de caráter individualista ou anarquista e pelas coletivistas que absorvem a sociedade, endeusando o Estado. Umas e outras, aniquilando sempre a própria pessoa.

No nosso tempo, é notório um sistema ideológico individualista, de base neomarxista, que intenta conciliar o pior destes dois extremos. E a sua imposição é tida como urgência revolucionária: não admite outas perspetivas; é pensamento único porque dogmático; vai ao ponto de proibir esse «luxo burguês» da objeção de consciência.

Tem um nome: ideologia de género. Fez percurso e conseguiu instalar os seus exércitos em pontos estratégicos: na cultura e nos «enlatados» da televisão, em famílias políticas e na ONU, nas Cimeiras internacionais e nas legislações dos Estados. Agora, é a sua imposição. Subtil. Muito subtilmente. Mas, por isso mesmo, mais perigosa.

Começa por doutrinar as crianças. E criou a Educação para a Cidadania. Claro que todos queremos educação para a vida em sociedade. Mas sob a beleza deste papel de embrulho, os conteúdos e objetivos quase não ultrapassam a ideologia do género: que a sexualidade é uma construção mental; que não tem qualquer sentido a anatomia masculina ou feminina; que cada um escolhe o sexo psicológico e biológico à la carte; que essa escolha é reversível sempre que se queira… No fundo, tolerância para cada um fazer o que quiser.

Nisto, antropologia originada na fé cristã e ideologia do género têm dificuldade em encontrar-se. É que estão em causa dois modelos antagónicos de futuro: ou a desagregação social do individualismo ou a edificação da sociedade humanizada e humanista.

Os muros de um grande edifício podem ser belos e resistentes. Mas se lhes entra a humidade, que quase nem se vê, mais tarde ou mais cedo, é a sua ruína.

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