
Por Alexandre Freire Duarte
Esta é a primeira vez que, nesta rúbrica, me reporto a um filme pelo qual não senti, do ponto de vista cinematográfico, grande apreço. Contudo, por “WWZ: Guerra Mundial” ter sido tantas vezes evocado, durante os pretéritos meses de confinamento, como uma metáfora da situação que estávamos a viver, creio que umas breves palavras sobre o mesmo poderão ser pertinentes.
Esta obra satura. Apesar de ter aspetos refrescantes, os efeitos especiais parecerem naturais e ter cenas cativantes mesmo no meio de um excesso de violência generalizada (embora não demasiadamente cruenta), o tom geral é enfadonho. Os atores parecem estar sempre desejosos de desaparecer e não houve o cuidado, ou a capacidade, de dar densidade humana às personagens mais salientes a ponto de lograrmos empatizar com elas.
O cenário de fundo do filme é o de um apocalipse de violentos “mortos-vivos” resultantes da proliferação, no meio de uma ansiedade geral, de um sinistro vírus para o qual não se conhece tratamento. O que, à primeira vista, parece tão irreal, não deixa de ter curiosas analogias com outra realidade com a qual somos bem mais familiares: o pecado e a sua transmissão. Desta forma, somos confrontados com o, bem real e muito mais horrível, horizonte do persistente cataclismo de “vivos-mortos”. Os que, pela recusa do amor, se entregam ao amor-próprio, ao apego aos bens e, num outro paralelismo com o que nestes dias anda a ludibriar as pessoas em nome do “povo”, ao despersonalizante instinto de multidões.
Por tal recusa, todos nós podemos tornar-nos em tristes simulacros do que somos: meras expressões daquela morte espiritual que ambiciona, de modo veloz, a morte biológica. Esta é, desse modo, transformada daquele último (e quiçá único) momento tangencialmente histórico em que podemos viver de modo humano (e cristão), num ameaçador sifão da vida, que tantos tentam barricar inutilmente mediante o não pensarem nele ou, até, anedotizarem-no.
O único modo de se inverter tal situação também é bem exibido neste filme, que na sua personagem principal tem um agradável modelo de paternidade e amor familiar. Não pela força da violência – que só leva à desintegração da inteligência, da vontade e dos afetos e, assim, a mais brutalidade –, mas, paradoxalmente, pela vulnerabilidade perseverante da bondade inteligente – que motiva a entrega compassiva de si mesmo em prol dos demais.
Que tudo isto soe, pelo menos a um cristão atento, a Jesus e à vida cristã pautada pela Sua vida espiritual, pode ter sido uma mera casualidade na intenção dos responsáveis deste filme. Todavia, a verdade é que eles acertaram em cheio na descrição do que é a natureza humana ferida pelo pecado. Este, e as suas consequências, não é ultrapassável senão desde o coração. Quer dizer: de “dentro para fora” (e não por coações exteriores) e “coração a coração” (e não em massa), numa conversão que nos fará querer que o amor seja o âmago da nossa vida.
(“WWZ: Guerra Mundial”: EUA, 2013; dirigido por Marc Forster, com Brad Pitt, James Badge Dale, Mireille Enos)