Um Tempo da Criação – 2020

Por Joaquim Armindo

Estamos a passar ou a viver, este mês, um Tempo da Criação, juntamente com todas as igrejas cristãs, e com todos e todas que colocam no seu quotidiana a luta contra a tirania que é a destruição dos bens que a todos pertencem. Por isso, este tempo é mais uma incisiva “lembrança”, para que todos reconheçamos aquilo que já tinha proclamado no século passado, que é uma reconciliação com a Natureza, pelo Conselho Mundial de Igrejas ou por Bartolomé I. Mais: “um tempo de conversão” de uma aliança que deverá ser duradoura com o grito da Terra Mãe, aliado ao grito de todos os explorados. É, por isso, um Tempo de Conversão, mais do que estabelecer eventos para isto ou aquilo, esquecendo que esta “conversão” não é temporária, nem pode ser. Uma conversão dos corações para um olhar ativo sobre a Natureza, no seu todo holístico, por isso, é, para nós, uma conversão ecológica definitiva, um diálogo com esta Terra e o Cosmos e todas as suas relações. O Pecado Ecológico é grave, é uma modificação de vida, onde caibam todos os seres viventes em harmoniosa canção.

Canção que junta todas as questões que nos dividem, sejam religiosas, culturais, económicas, ambientais ou sociais. Para ser verdadeiro, este “um tempo da criação”, é um espaço que se percorre, sem tempo e sem lugar. Uma caminhada que é percorrida sem fim e sem limite. Um dos documentos mais valiosos é a “Laudato Si`”, que tantos reduzem a uma ecologia ambiental. Este tempo não é redutível, mas amplo, na diversidade dos desafios reconciliadores, atendendo ao grito da Terra e do Cosmos e dos espoliados e pontapeados. Um Pecado Ecológico, que tem dentro de si os Pecados Económicos, da Coesão Social, do Ambiente e da Cultura. Aliás, assim também defende a Organização das Nações Unidas, no seu projeto de Desenvolvimento Sustentável, cada vez mais premente nesta época pandémica do COVID-19.

A “Querida Amazónia” de que nos fala Francisco, é uma “Querida Terra”, um “Querido Cosmos”, e os seus sonhos, são os nossos, aplicáveis, por muito que não queiram, a todo o Universo. Não pode esta urgente ação ficar dependente de um mês, mas ser o ponto de partida para a Ecologia Espiritual, que vencerá o Pecado Ecológico. Ou seja, proclamar este mês é sintonizar as nossas vidas, pela Reconciliação perpétua, derivada do Pecado Ecológico, que temos vindo a cometer. Só assim escutaremos o Grito da Terra e o Grito dos Pobres.