Covid-19: Jovens vós sois o agora de Deus

Por Maria Teresa Folhadela

Voluntária na JMJ 2019 no Panamá

Com estas palavras, o Papa Francisco dizia-nos na Jornada Mundial da Juventude do Panamá, em janeiro 2019, que o nosso tempo não é futuro. Deus conta connosco aqui e agora.

E o nosso querido Papa Francisco, que tanto tem reforçado que só saímos desta crise, quando nos reconhecermos irmãos e juntos no mesmo barco, tem procurado também no seu pontificado colocar os jovens como uma voz ativa da Igreja, tal como já o faziam os seus queridos antecessores.

Neste tempo de confinamento, houve várias coisas, que me marcaram, uma delas foi sem dúvida, a forma como os jovens através dos movimentos, dos grupos de paróquias e catequeses, continuaram o seu trabalho apostólico, numa pastoral da amizade de forma digital.

Estes jovens, o agora de Deus, não hesitaram em aderir às plataformas digitais e a transformar a vida da Igreja, como viram a sua vida da escola, da faculdade e do trabalho serem transformadas para o digital.

Nas Equipas de Jovens de Nossa Senhora, movimento do qual faço parte, consegui gozar e saborear, internamente, tudo aquilo, que os jovens fizeram para outros jovens e para quem se quisesse associar às iniciativas. Os tantos vídeos, os podcasts de orações, uma peregrinação de cinco dias virtual, com missas, testemunhos, um concerto em streaming a Nossa Senhora, o compromisso virtual de mais 300 equipistas com o movimento e um terço com o Cardeal Sr. Dom Tolentino de Mendonça com os nossos amigos equipistas do Brasil. Além disso, conseguimos em família viver estas propostas, e recordo com saudade e numa oração de memória aquela tarde de 27 de março, quando acabámos mais cedo o trabalho no nosso co-work improvisado, e nos sentámos no sofá a ver o Papa Francisco a subir aquelas escadas de São Pedro. E quando também todos no sofá, nos emocionamos, quando o Sr. Cardeal Dom António Marto, nos consagrava ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, num acto de profunda comunhão e fé que juntou diversos países.

Nesta pandemia, reforcei aquilo que mais agradeço ter aprendido nas EJNS, que a Igreja é a minha Mãe e que somos uma família. E por isso, sabemos sempre que podemos contar com a nossa mãe em cada dia, com o seu cuidado, a sua ternura e os seus sábios conselhos, e temos de cuidar uns dos outros, como nas famílias. Também reparei que o Espírito Santo é motor da vida na Igreja, e estou certa de que guiou os nossos bispos, em cada decisão, coerentemente tomada. Agradeço muito a Deus, aquilo que talvez seja das coisas que os jovens mais procuram e anseiam, a coerência vivida na Igreja, nestes tempos difíceis.

Voltando ao agora de Deus, e a esta inquietação, lembro-me também de tantos jovens que conheço que organizaram projetos de ação social, como o Projeto “Comvidas”, o Vizinho Amigo, e tantos outros que se fizeram presentes nas visitas à distância aos avós, a todos os que ajudaram do Banco Alimentar, e tantos profissionais de saúde jovens a serem anjos de cabeceira dos doentes. Vimos nestes dias, a santidade da porta ao lado que o Papa Francisco tanto fala. Uma santidade que não começa no dia em que somos perfeitinhos, mas que começa agora. Os jovens podem ser santos já.

Hoje, somos chamados a pensar o pós-crise, dentro da crise. Diariamente, temos de procurar ser reflexo e testemunho, próprios deste tempo. Atentos aos outros, cuidadosos com os mais velhos, coerentes com que dizemos e fazemos. E pacientes, muito pacientes. Não precisamos de saber as respostas todas, nem o que vem a seguir. Somos convidados a tomar parte desta reconstrução, e se necessário, como nos dizia o Papa “hagan lío” porque não se pode pensar o futuro das próximas gerações, sem as convocar! Não se pode fazer pastoral juvenil para os jovens se não os chamarmos, não podemos desejar uma Igreja jovem, se não os convidarmos. E sobretudo, neste tempo em que na Igreja de Portugal, vimos um pulsar de uma resposta jovem, temos de convocar todos, ninguém pode ficar de fora! Temos de caminhar juntos: famílias, bispos, padres, idosos, consagrados, leigos, paróquias, jovens. Hoje é o tempo de com fidelidade criativa, questionarmos o porquê de se ter feito sempre assim. Este tempo mostrou que o “sempre assim” não é a resposta final.

É tempo de pormos a “Cristo Vive” na vida, de a tirarmos do papel. Pensarmos ainda mais uma Igreja de jovens, para jovens e com os jovens. Que não deixa ninguém de fora, que é profundamente centrada em Cristo Ressuscitado e faz pontes entre as várias gerações. E por isso, chamem-nos. Convoquem-nos a pensar, façam com que não cheguemos só quando tudo já estiver pronto. Tomar parte não é chegar no fim. Tomar parte é caminharmos juntos desde o início, para que possamos sonhar juntos aquilo que podemos fazer para transformar o mundo agora.