Mesa da Sala Capitular regressa à Sé do Porto

Foto: Rui Saraiva

Concluiu-se na semana finda o longo processo negocial que levou ao regresso da mesa da Sala Capitular da Sé do Porto ao seu lugar de origem. O imponente móvel está novamente no espaço para onde foi pensado e onde foi usado durante cerca de dois séculos. Com a boa vontade de diversas pessoas, foi obtido o consentimento para a transferência, em regime de depósito devidamente contratualizado, desde o Palácio Nacional de Sintra para a Casa do Cabido do Porto. É justo lembrar aqui a Presidente Sofia Cruz, para parte da Parques de Sintra, e duas pessoas que se ocuparam directamente com este assunto, ao Doutor Cláudio Marques e a Doutora Joana Amaral. O percurso desta peça foi esclarecido, há cerca de meio século pelo Prof. Flávio Gonçalves, e foi recapitulado e actualizado pela competência do Prof. Luís Carlos Amaral, sem o concurso científico do qual a deslocação não teria sido possível.

Construída pela mesma altura da edificação da Casa do Cabido, pelos anos 1723, a mesa seguiu outro destino em 1911, altura em que foi vendida em hasta pública a particulares. Tendo acabado propriedade do Estado em data posterior, há muito que se acalentava o esperança de que pudesse voltar ao seu lugar de origem. Foi isso que aconteceu agora. Entre os que acalentaram essa esperança é justo lembrar o Cónego Raimundo de Castro Meireles, que a morte levou há alguns anos.

O regresso foi possível devido a um novo clima de entendimento entre as instituições que felizmente vigora hoje no nosso país. Longe vai o tempo de afrontamento entre o Estado e a Igreja Católica que se seguiu à implantação do regime republicano, em 1910. Podemos hoje viver um tempo de entendimento mútuo e colaboração recíproca de que todos beneficiamos. O mesmo se diga das concepções sobre musealização, uma vez que faz caminho a ideia de que os objectos artísticos devem ser colocados, quanto possível, no lugar para onde onde foram pensados.

A Sala Capitular da Sé do Porto começa uma nova etapa da sua história, muito enriquecida com esta peça de mobiliário que sempre lhe pertenceu. Muitos turistas nacionais e estrangeiros podem apreciar esse lugar cheio de memória e de riqueza artística. O Cabido Portucalense, por sua vez, pode realizar as suas sessões mais solenes no mesmo espaço que foi usado pelos seus antepassados desde o século XVIII.