Domingo XIX do Tempo Comum

Foto: Rui Saraiva

9 de Agosto de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura do Primeiro Livro dos Reis                                                               1 Reis 19,9a.11-13a

«Sai e permanece no monte à espera do Senhor».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 84 (85)

Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor e dai-nos a vossa salvação.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos                                  Rom 9,1-5

«Em Cristo digo a verdade, não minto, e disso me dá testemunho a consciência no Espírito Santo».

 

Aclamação ao Evangelho           Salmo 129 (130),5

Aleluia.

Eu confio no Senhor,

a minha alma espera na sua palavra.

 

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                         Mt 14,22-33

«Logo que a despediu, subiu a um monte, para orar a sós».

«O barco ia já no meio do mar, açoitado pelas ondas, pois o vento era contrário».

«Tende confiança. Sou Eu. Não temais».

 

Viver a Palavra

Numa primeira abordagem aos textos deste Domingo, contemplamos dois cenários que nos convidam ao descanso e ao repouso característico deste tempo de férias e lazer: na primeira leitura, Elias está sobre o monte e, no Evangelho, os discípulos navegam pelo mar. A montanha e o mar são destinos escolhidos para as merecidas e repousantes férias que preenchem a vida de tantos neste período do ano.

Contudo, quer Elias quer os discípulos não estão em férias e atravessam as dificuldades e exigências de quem procura Deus e de quem tantas vezes arrisca caminho sentindo a aridez da Sua ausência.

Elias anda fugido de si próprio e de Deus, longe da presença do seu Senhor a sua vida não conhece descanso nem sossego. Todos o procuram para o matar, o mundo perdeu o seu sentido e até Deus parece não ser mais o mesmo. Isolado nesta página da Escritura, Elias continua a ser conduzido e comandado por Deus que o salva da morte no deserto e que o liberta das próprias amarras, fazendo-o sair para fora do escuro e do medo da gruta, para abrir diante de si um caminho novo. Não são as manifestações violentas que fazem tremer e fender as montanhas que manifestam a presença de Deus, mas a «ligeira brisa», «a voz de um fino silêncio». A poderosa suavidade de Deus vem ao nosso encontro, liberta-nos dos escuros e sombrios lugares onde tantas vezes nos refugiamos para nos abrir à vigorosa novidade de vidas que se fazem brisa suave a ecoar no mundo a suave e reconfortante melodia do amor de Deus.

O insistente pedido que cantamos no salmo – «mostrai-nos, Senhor, o vosso amor e dai-nos a vossa salvação» reclama das nossas vidas a coragem de partir para que no mundo o amor e a salvação de Deus se manifestem. Só Deus ama em plenitude e só Ele pode oferecer a salvação mas conta connosco para a realização da Sua obra de amor. Como nos testemunha Paulo, somos chamados a viver impelidos pelo Espírito Santo. Conscientes da nossa filiação divina, somos convidados a testemunhar Cristo, único Salvador da humanidade, caminho que nos conduz ao Pai e fonte de serenidade diante das tempestades da vida.

A fome da multidão foi saciada e os discípulos são «obrigados» por Jesus a partir para a outra margem. Este texto é metáfora do caminho que a Igreja é chamada a viver no curso da história, no tempo entre a Páscoa e a parusia. Jesus está no alto, no cimo do monte a rezar. Ele é o Ressuscitado que está à direita do Pai a interceder por nós e os discípulos cumprem o mandato que lhes foi confiado enfrentando as exigências e as dificuldades de quem navega pelo desconhecido diante das adversidades da missão.

Os discípulos são enviados, mas não abandonados à sua sorte. Deus, em Jesus Cristo, revela de modo pleno e definitivo que não é indiferente às nossas dificuldades e dores, mas é o Emanuel, o Deus connosco que vem ao nosso encontro caminhando sobre as águas agitadas da nossa existência para nos assegurar que é mais forte do que qualquer mar açoitado pelo vento: «Tende confiança. Sou Eu. Não temais». Como é bom e belo, diante das dificuldades e exigências da missão, sentir esta voz forte e poderosa que nos convida à confiança, que nos garante a Sua presença e que dissipa os nossos medos e temores.

Como Pedro acredito que se é o Senhor também eu posso enfrentar o mar da vida mantendo o olhar fixo no Senhor. Contudo, quando desvio o meu olhar e atendo mais à violência do vento preciso de recentrar a minha vida e invocar uma e outra vez: «Salva-me, Senhor!» e sentirei de novo a mão do Senhor que me segura e liberta e que me garante que a eficácia da missão nasce da certeza da Sua mão forte que me ampara, segura e aponta o caminho certo.

 

Homiliário patrístico

Das cartas de Santo Ambrósio, bispo (Séc. IV)

Recebeste o ofício sacerdotal e, sentado à popa da Igreja, governas a barca contra a fúria das ondas. Segura bem o timão da fé, para que não te inquietem as violentas tempestades deste mundo. O mar é, sem dúvida, grande e espaçoso, mas não temas: Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas. Por isso, a Igreja do Senhor, edificada sobre a pedra apostólica, mantém-se segura entre os escolhos do mundo e, apoiada em tão sólido fundamento, permanece firme contra as investidas do mar em tempestade. Vê-se envolvida pelas ondas, mas não abalada; e embora muitas vezes os elementos deste mundo a sacudam com grande fragor, ela oferece aos navegantes cansados um porto seguro de salvação. Ela flutua no mar, mas navega também pelos rios, sobre aqueles rios de que se diz no salmo: Os rios levantam a sua voz.

São os rios que brotam do coração daqueles que beberam da água de Cristo e receberam o Espírito de Deus. Quando transbordam de graça espiritual, estes rios levantam a sua voz. Há também um rio que corre para os seus santos como uma torrente. Há um rio que alegra com as suas águas a alma tranquila e pacífica. Quem receber da plenitude deste rio, como João Evangelista, Pedro e Paulo, levanta a sua voz; e do mesmo modo que os Apóstolos difundiram até aos confins da terra a voz da pregação evangélica, também o que recebe deste rio começará a anunciar o Evangelho do Senhor Jesus. Recebe também tu da plenitude de Cristo, para que se faça ouvir também a tua voz. Recebe a água de Cristo, essa água que louva o Senhor. Recolhe a água dos numerosos lugares em que a deixam cair as nuvens dos Profetas.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. De 9 a de 16 de Agosto assinala-se a Semana Nacional da Mobilidade Humana. Em cada ano a Obra Católica Portuguesa das Migrações publica uma mensagem para assinalar esta semana. O tema da semana e a respectiva mensagem ainda não foram publicados mas brevemente serão divulgados no sítio oficial da respectiva Comissão Episcopal. Partindo desta mensagem, cada comunidade cristã é convidada a dinamizar esta semana sensibilizando os fiéis para o drama de tantos refugiados, formando para uma cultura de acolhimento e integração que fomente o respeito pela dignidade humana e a construção de um mundo mais justo e fraterno.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura requer uma especial atenção nas três frases que possuem uma oração adversativa iniciada com a conjunção «mas». É importante retirar toda a expressividade do texto para sublinhar que Deus se faz presente não nas manifestações mais violentas mas na «ligeira brisa». A segunda leitura é constituída essencialmente por suas frases com diversas orações. Esta construção textual requer uma preparação acurada que tenha especial atenção à pontuação, às pausas e respirações para uma articulada e eficaz proclamação do texto.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Lembrai-vos, Senhor, da vossa aliança  Az. Oliveira (NRMS 53| CEC II, p. 96-97); Salmo Responsorial:  Mostrai-nos o vosso amor (Sl 84) – F. Santos (CN 629); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Eu confio no Senhor  –  A. Cartageno (CN 49); Ofertório: Por vossa imensa bondade – A. Cartageno (CN 813); Comunhão: Senhor, eu creio que sois Cristo – F. Silva (CN 910); Pós-Comunhão: Cantarei ao Senhor – F. Silva (CN 284); Final: Grandes e admiráveis são as vossas obras – F. Santos (CN 520).