O mundo renovado dos avós

É bonito que o “Dia dos Avós” continue a celebrar-se na data litúrgica Ana e Joaquim, pais de Maria e por isso avós de Jesus, em 26 de julho. É um fruto apetitoso da nossa tradição religiosa e cultural. A laicidade ou o laicismo de algumas ideologias modernas que padecem de estrabismo e de falta de sentido histórico e cultural certamente se sentirão incómodas com este dado da tradição. Mas lea é das coisas bonitas que a sociedade guarda.

Uma das expressões mais bonitas da arte portuguesa são as chamadas “parentelas”, em que duas mulheres, mãe e filha, nos apresentam o Menino. Outra figuração mostra Joaquim e Ana com a filha Maria. São quadros de um fundo humanismo que infundem no sentido religioso a essencialidade do humano.

Os avós sempre desempenharam um papel fundamental  no acompanhamento e formação das novas gerações. Pessoas de qualquer idade guardam recordações ricas de sentido e de afetividade do seu relacionamento com os avós, especialmente os que são hoje também avós.

Na nossa sociedade de hoje, essa missão torna-se ainda mais evidente e essencial. Os problemas resultantes da mobilidade do trabalho, da proliferação de tarefas exigidas aos trabalhadores mais jovens, cuja dimensão familiar é frequentemente esquecida nas organizações do trabalho reforçam a necessidade do recurso aos avós como acolhimento e acompanhamento das crianças.

Ora aqui está um bem nascido de um mal. A ausência da relação próxima da criança com a mãe e o pai, que é uma limitação afetiva e educacional, é frequentemente suprida pela presença e pelo afeto dos avós, que passam a ser pais duas vezes.

Esta relação com os avós permite outro bem: o da presença criativa da tradição familiar e cultural das sociedades humanas, a superação dos males da tecnologia e até da valorização das suas funções. Permite a afirmação dos valores morais e familiares, esta relação de continuidade genética e afetiva que ajudam a construir novas personalidades.

No dizer da escritora Alice Vieira, “Os avós transmitem coisas que os outros não podem transmitir” (entrevista à Rádio Renascença e Ecclesia).

Este diálogo entre gerações adquire uma força construtora da personalidade como não é possível outra. A relação com os avós não é apenas funcional, deve ser uma relação umbilical da personalidade, da inteligência e sobretudo do coração. O diálogo de gerações é uma componente essencial da formação da personalidade. Da personalidade das crianças, dos jovens, dos pais e dos avós. Não são apenas os avós que enriquecem humanamente as crianças: são também as crianças que enriquecem emocionalmente os avós.

Aqui fica, pois, a homenagem de Voz Portucalense a todos os avós, raiz dos pais e das crianças de hoje e semente de uma nova sociedade, que esperamos mais humanizada.

CF