(Continuação)
- Após ministrar a sagrada Comunhão, os MECs devem retirar (corretamente) as luvas que, sobretudo se a comunhão teve de ser na boca, podem ter entrado em contacto com fluidos corporais; atender a que não haja fragmentos visíveis aderentes às luvas (a recolher cuidadosa e reverentemente) e colocar as luvas num cesto de lixo indiferenciado (que deve estar disponível na casa do doente). Em seguida – e a recomendação aplica-se quer se tenham usado luvas quer não – higienizar as mãos com o gel; havendo familiaridade, pode ir-se à casa de banho e lavar as mãos com água e sabão; mas quanto menos se anda pela casa, melhor.
- Despedida: deixar as fotocópias usadas; recolocar a teca na bolsa que se levou; saudações de despedia cordiais mas sem contactos físicos.
- Manter a máscara no regresso à Igreja. Sempre que se põe e tira, há risco de contaminação; os profissionais de saúde usam-na durante horários de trabalho… Na Igreja, lavar as mãos (se possível, com água e sabão); desinfetar o exterior da teca (com álcool etílico a 70% ou mais); em relação ao interior, primeiro enche-se a teca com água de modo a diluir pequenos fragmentos da hóstia consagrada e depositar o conteúdo num vaso com água; como se lê no Ritual da Sagrada Comunhão e Culto do Mistério Eucarístico fora da Missa, n. 22, «a água empregada nessas abluções ou se bebe ou se deita em lugar conveniente», como pode ser o sumidouro da Igreja; por fim, higienizar também o interior com álcool etílico.
Resposta a um reparo
Quando foram publicadas as normas acordadas entre a Igreja e as autoridades de saúde em relação à comunhão, alguns setores (minoritários) da Igreja reclamaram: o uso de luvas para dar a comunhão – que em Portugal não é obrigatório mas que recomendamos, no caso da comunhão aos enfermos – seria contrário à fé na presença real de Cristo por dois motivos: a) O Corpo de Cristo não pode infetar ninguém; b) pode haver fragmentos do Pão Eucarístico nas luvas usadas para ministrar a Comunhão e que, depois, se descartam para o lixo.
- a) Respondemos com São Tomás de Aquino, o teólogo por excelência da doutrina da transubstanciação, por ele desenvolvida a partir de categorias filosóficas aristotélicas precisamente para explicar que a presença de Cristo na Eucaristia não deve ser entendida de forma física e local, mas metafísica e espiritual. Depois da transubstanciação, os acidentes do pão e do vinho subsistem (localizados pelos seus dados sensíveis) a partir da eterna e não localizável substância gloriosa do Ressuscitado. Cristo, porém, não está na Eucaristia localmente, mas mediante as dimensões da substância substituída do pão e do vinho. Mas não fica nelas circunscrito. A presença na modalidade da substância – conceito metafísico – implica ao mesmo tempo a não extensibilidade, a não espacialidade e a «incorporeidade» da presença eucarística de Cristo. «Real» não quer dizer «local». Por isso não recebe mais Cristo quem recebe maior quantidade da sagrada espécie; nem Cristo sofre quando se parte e reparte o Pão consagrado; nem se aflige ou entristece quando o encerramos no tabernáculo… A Cristo glorioso – o único que realmente existe – não sucede absolutamente nada nessas circunstâncias. Concluamos o raciocínio: a substância do Ressuscitado não pode ser infetada nem transmite vírus. Mas os acidentes do pão e do vinho, que se mantêm na existência como realidades criadas, assumidos pela Substância do Verbo incarnado, esses podem ser infetados e transmitir contágio. E o mesmo pode acontecer com os dedos do ministro e com os lábios do comungante. [cf. Summa Theologiae, IIIª q. 76 a. 5 co.].
- b) Todo o respeito é devido às partes fracionadas do pão eucarístico ou ao vinho consagrado subdividido por vários cálices em ordem à comunhão. Deve, porém, considerar-se escrupulosa uma excessiva preocupação em relação a migalhas minúsculas ou gotas diminutas. Já são Tomás de Aquino explicava que a presença real de Cristo nas espécies cessava no caso de uma alteração profunda destas quer no respeitante às suas qualidades (cor, sabor, etc.), quer no respeitante à quantidade das mesmas como seria o caso de uma fragmentação que pulverizasse o pão em partes tão diminutas que desaparecesse a espécie [cf. Summa Theologiae, IIIª q. 77 a. 4 co.].
Por isso, recomendamos aos MECs a máxima atenção e respeito em relação aos fragmentos. Como forma mais adequada de os tratar, as normas da Igreja prescrevem a ablução com água. Mas não se alimentem escrúpulos em relação a fragmentos «microscópicos» em que a própria espécie já desapareceu e, com ela, a presença real-substancial do Ressuscitado.
S.D.L.