Nem stop, nem comemoração, mas caminho

Por Joaquim Armindo

Tenho ouvido, e com o necessário sublinhar, que estamos num ano de comemoração da encíclica Lautato Si`, e por isso teremos que agendar alguma coisa para a lembrar. Quando se refere isto, ouço um sinal de STOP à encíclica. Como se não existissem antes e depois outros documentos que na sua clareza são um caminho que queremos seguir. Antes da Laudato Si` já existiam outras intervenções para o Cuidado da Casa Comum, basta ler os mitos de origem que constituem os capítulos primeiro e segundo do livro do Génesis. Nós, planeta Terra, somos mesmo uma Casa Comum, nem Cidade, somos neste potentoso universo, que nos é desconhecido, longamente desconhecido. O Conselho Mundial de Igrejas (CMI) já deste os anos de sessenta do século passado o vinha a referir, agora com importantes documentos da Igreja Ortodoxa e a Laudato Si`, Querida Amazónia e, publicadas há poucas semanas, duzentas medidas que o Vaticano, quer colocar em prática, com a proclamação deste ano especial se é, por um lado, exercer uma prática sobre a teoria proclamada, por outro, é dizer à Igreja e a todas as mulheres e homens de boa-vontade, que não pode existir uma paragem nas lutas contra a desagregação da Humanidade e da Mãe Terra. Mais que uma comemoração, que encha de colóquios e cabeçalhos dos jornais, constitui a certeza de que não à volta atrás, por muito que tantos queiram, a comemoração é exercer nas comunidades paroquiais as práticas proféticas e práticas, para caminharmos em conjunto, senão atiraremos a Laudato Si` para o caixote do lixo da história, o que será um pecado capital, e antagónico ao Evangelho de Jesus, que queremos e dizemos seguir.

Ou pensam que o automóvel do senhor padre, bispo ou diácono, não emite dióxido de carbono, contaminante da atmosfera? Ou pensam que os cafés que tomam regularmente, cada um, no seu ciclo de vida, não gasta 150 litros de água, por serem padres, bispos ou diáconos? Ou pensam que o consumo de energia elétrica não conta, por ser de um templo? Ou pensam que as pegadas ecológica, hídrica ou carbónica, não contam por serem das Igrejas? Ou pensam que as marcas que deixam na Natureza, por a delapidarem, é um pecado remível com uma confissão?

Pois é minha Igreja, de crentes embevecidos, convencida que a defesa da Criação – na economia, na cultura, no ambiente, na coesão social, no espiritual -, é uma Missão temporária. Olhem que não, o pecado ecológico é grave, mas mesmo muito grave.