Domingo XVIII do Tempo Comum

2 de Agosto de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro de Isaías                                                                                  Is 55,1-3

«Firmarei convosco uma aliança eterna, com as graças prometidas a David».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 144 (145)

Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos                                  Rom 8,35.37-39

«Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?».

 

Aclamação ao Evangelho           Mt 4,4b

Aleluia.

Nem só de pão vive o homem,

mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                         Mt 13,24-43

«Quando Jesus ouviu dizer que João Baptista tinha sido morto, retirou-Se num barco para um local deserto e afastado».

«Jesus viu uma grande multidão e, cheio de compaixão, curou os seus doentes».

«Todos comeram e ficaram saciados».

 

Viver a Palavra

Uma imensa multidão segue Jesus e procura-o instantemente. Nem a morte de João, nem o desejo de Jesus de se retirar para um local deserto e afastado demove a multidão de ir ao Seu encontro. Começa a cair a tarde, a hora vai adiantada e aquela imensa multidão permanece em torno de Jesus para O escutar.

Como seria belo escutar Jesus, ouvi-Lo falar do Pai e anunciar os mistérios do Reino! As Suas palavras rasgam horizontes de esperança e os Seus gestos inauguram um tempo novo. Aqueles que O escutam, fascinados pelas Suas palavras não se dão conta do adiantar da hora. Mas os discípulos, homens práticos, temendo a necessidade de providenciar alimento para toda aquela multidão, recomendam a Jesus que os despeça.

Neste Evangelho é bem claro o contraste entre a atitude de Jesus e a dos Seus discípulos. A insensibilidade dos discípulos que exclui e manda embora contrasta com o olhar misericordioso e compassivo de Jesus que acolhe e cura. A lógica de mercado dá lugar à lógica da gratuidade e do «salve-se quem puder» passa-se à nobre arte da partilha que torna o mundo num lugar mais fraterno. Jesus e os discípulos empregam dois verbos bem diferentes: «dar» e «pagar». Para os discípulos, homens práticos e marcados pela sua humanidade, se queres alguma coisa deves comprá-la. É a lógica do mundo: uma lógica comum e correcta. Não existe nada de escandaloso neste modo de pensar, mas também não existe nada de grandioso e belo: se queres alguma coisa, deves pagar. Por isso, Jesus introduz o verbo «dar», o verbo que torna operativo o mandamento novo do amor e inaugura uma nova forma de relação marcada pela gratuidade e pela partilha.

Os discípulos colocam o problema a Jesus e pretendem resolvê-lo demarcando-se da solução. Jesus, porém, ensina-os a passarem da parte do problema, para a parte da solução, envolvendo-se nas dores e carências da multidão faminta: «Não precisam de se ir embora; dai-lhes vós de comer». Eles mesmos, com a sua pequenez, com os seus parcos recursos e com as suas limitações.

Os nossos «cinco pães e dois peixes» para saciar uma multidão de «cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças» é imagem da desproporção entre as nossas forças e capacidades e as necessidades dos homens e mulheres do nosso tempo. Contudo, não nos podemos deixar vencer pela imensidão da tarefa que se coloca diante de nós, porque não estamos sozinhos. Não somos os mais fortes, mas somos filhos do Deus da força. O nosso pouco colocado nas mãos de Deus torna-se pão partido e repartido que sobra em abundância. A nossa vida pronta e disponível para o acontecer de Deus torna-se um instrumento da misericórdia e da graça de Deus que irradia no mundo a esperança e a confiança.

Na verdade, nesta passagem evangélica encontramos quatro passos fundamentais que descrevem os milagres da acção de Deus nas nossas vidas: a carência, o impasse, a oferta humilde e a bênção. Tudo começa com uma carência que gera um impasse: olhando os recursos que temos, não é possível. Contudo, se temos a ousadia da oferta humilde, da partilha desprendida dos nossos cinco pães e dois peixes, podemos abrir a porta ao milagre e ao acontecer de Deus e recebendo a Sua bênção, tornamo-nos sinal de bênção para quantos se cruzam connosco na estrada da vida.

O olhar compadecido e misericordioso que Deus em Jesus Cristo derrama sobre cada um de nós torna-se uma escola da arte de acolher e amar e ensina-nos que o nosso pouco colocado generosa e disponivelmente nas mãos de Deus ao serviço dos irmãos torna-se fermento que leveda toda a massa, pão partido e repartido que sacia em abundância.

 

Homiliário patrístico

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Séc. V)

Como é grande a riqueza da sua bondade, que reserva para aqueles que O temem e comunica aos que n’Ele esperam! Agora o nosso conhecimento é ainda imperfeito e incompleto, até que chegue o que é completo e perfeito.

Somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos como Ele é. Que são aqueles tesouros de sabedoria e de ciência, para que servem aquelas riquezas divinas, senão para satisfazer a nossa pobreza? Para quê aquela imensa riqueza de bondade, senão para nos saciar?

Portanto: Mostrai-nos o Pai e isso nos basta. E em certo salmo, é um de nós, ou em nós, ou por nós, que diz ao Senhor: Serei saciado, quando se manifestar a vossa glória. Ele e o Pai são um só e quem O vê o Pai. Portanto, Ele é o Senhor dos Exércitos, o Rei da glória. Voltando-Se para nós, Ele nos mostrará o seu rosto e seremos salvos e saciados; e isso nos bastará.

Enquanto isto não acontece, enquanto não nos mostrar o que nos basta, enquanto não pudermos beber e saciar-nos daquela fonte da vida que é Ele mesmo, enquanto caminhamos na fé, como peregrinos, longe d’Ele, enquanto temos fome e sede de justiça e anelamos com ardor inefável contemplar a beleza de Cristo na forma de Deus, celebremos com devoção o nascimento de Cristo na forma de servo.

Se não podemos ainda contemplar Aquele que foi gerado pelo Pai antes da aurora, festejemos o seu nascimento da Virgem em plena noite. Se não podemos ainda compreender Aquele cujo nome é eterno e permanece acima do sol, reconheçamos como levantou a sua tenda no sol. Se não podemos ainda contemplar o Unigénito que permanece no Pai, recordemos o Esposo saindo do seu tálamo. Se não estamos ainda preparados para o banquete do nosso Pai, reconheçamos o presépio de nosso Senhor, Jesus Cristo.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. «Dai-lhes vós de comer». Este desafio que Jesus lança aos Seus discípulos é um convite para os discípulos de todos os tempos e manifesta a solicitude do Mestre, comprometendo-nos com as necessidades dos irmãos. As comunidades cristãs são chamadas a ser lugares de acolhimento e misericórdia, estando atentas aos mais frágeis e necessitados. Deste modo, é importante que as comunidades cristãs promovam a acção caritativa envolvendo todos os fiéis e dinamizando grupos concretos que promovam e realizem esta tarefa. Neste Domingo, podem ser apresentados os diversos grupos da comunidade que se dedicam a esta missão, pedindo a colaboração de todos e responsabilizando toda a comunidade na atenção aos mais necessitados.

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura possui um forte tom exortativo. Deste modo, a proclamação deste texto deve ter presente este tom exortativo com uma especial atenção às diversas formas verbais no imperativo. A segunda leitura exige uma acurada preparação para uma correcta proclamação. Deve ter-se em atenção as duas frases interrogativas iniciais, bem como as diversas enumerações presentes no texto.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Deus vinde em nosso auxílio – F. Silva (CN 364); Salmo Responsorial:  Vós abris, Senhor, a vossa mão e saciais a nossa fome  (Sl 144) – M. Luís (SRML, p. 142-143); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Nem só de pão vive o homem  –  C. Silva (CN 47); Ofertório: Vós todos, os que tendes sede – C. Silva (CN 1029); Comunhão: Saciastes o vosso povo – F. Silva (CN 873); Pós-Comunhão: Dai graças ao Senhor – F. Santos (CN 335); Final: Louvai o Senhor, louvai – J. Santos (CN 591).