26 de Julho de 2020
Indicação das leituras
Leitura do Primeiro Livro dos Reis 1 Reis 3,5.7-12
«Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão».
Salmo Responsorial Salmo 118 (119)
Quanto amo, Senhor, a vossa lei!
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos Rom 8,28-30
«Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio».
Aclamação ao Evangelho cf. Mt 11,25
Aleluia.
Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra,
porque revelastes aos pequeninos
os mistérios do reino.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus Mt 13,24-43
«O reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo».
«O reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas.».
«O reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes».
Viver a Palavra
A nossa fragilidade e debilidade marcam indelevelmente a nossa vida e a nossa oração. Somos pobres, pequenos e pecadores e a nossa oração traduz-se muitas vezes num discorrer de pedidos e súplicas. Na verdade, bem sabemos que é assim a relação filial. Faz parte da condição de filhos dirigirem-se aos pais para pedir, contudo, à medida que vão crescendo percebem como aquilo que é essencial nem precisariam pedir, pois a diligência paterna e materna não abandona os seus filhos, sobretudo naquilo que eles mais necessitam. Deste modo, a maturidade da fé conduz-nos muito mais à confiança e abandono nas mãos de Deus do que ao pedido e à súplica. Contudo, na primeira leitura deste Domingo, não é Salomão que toma a iniciativa para pedir algo a Deus. É o próprio Deus que toma a iniciativa e faz uma proposta a Salomão: «Pede o que quiseres».
Quando leio este texto, interrogo-me sempre sobre aquilo que pediria se Deus me fizesse esta proposta e, neste Domingo, cada um de nós também é convidado a colocar-se diante de Deus e a interrogar-se com verdade: o que é que eu pediria?
Porventura, a resposta de Salomão condiciona hoje a nossa resposta. Já não somos capazes de ser interesseiros como esperava o próprio Deus: «porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo».
Salomão pediu a sabedoria, um coração inteligente para governar o povo que lhe foi confiado e a capacidade de distinguir o bem do mal. A verdadeira sabedoria não consiste na acumulação de conhecimentos e conteúdos intelectuais mas na arte de acolher os desafios de Deus e a missão que Ele nos confia aderindo ao bem e à verdade e afastando-nos daquilo que nos impede de ser fiéis à missão que nos foi confiada.
É esta arte de distinguir o bem do mal que encontramos na terceira parábola evangélica deste Domingo. O Reino dos Céus é semelhante a uma rede cheia de peixe que precisa de ser escrutinada. Nenhum de nós é bom ou mau em estado puro e, por isso, esta arte de destrinçar o bem do mal consiste, em primeiro lugar, na capacidade de descer ao mais íntimo do nosso coração e cultivar o bem e a verdade, afastando-nos do mal, pois ele afasta-nos de Deus e dos irmãos. Distinguir e separar é próprio de Deus que é três vezes Santo. Na verdade, na sua etimologia hebraica a palavra santo significa separado. Deus é totalmente separado do mal, pois é bondade e amor. Nas primeiras páginas da Bíblia, encontramos Deus que cria todas as coisas separando a luz das trevas, as águas superiores das águas inferiores e a água da terra firme (Gn 1,4-9). Contemplando Deus, aprendemos a arte de separar, para ter um coração indiviso. Um coração íntegro e inteiro, todo para Deus e, por isso, todo para os irmãos.
Caminhar na estrada da santidade, segundo o desígnio de Deus como nos recorda S. Paulo, consiste em deixar-se fascinar pelo Reino dos Céus, tesouro inigualável e pérola preciosa que nos faz relativizar todas as outras coisas. Uma marca fundamental que atravessa todo o Evangelho é que aquele que encontra o tesouro escondido ou a pérola preciosa não se entristece ao deixar tudo, mas alegra-se pelo bem precioso alcançado. Efectivamente, todo aquele que se encontra com Jesus Cristo preenche o seu coração da alegria nova que fortalece a confiança e renova a esperança para que possamos partir como verdadeiras testemunhas da alegria.
Homiliário patrístico
Dos Sermões de São Leão Magno, papa (Séc. V)
Diz o Senhor: Se a vossa justiça não superar a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos Céus. Mas esta justiça só será superior à deles, se a misericórdia triunfar sobre o juízo. E que há de mais justo e digno para a criatura, feita à imagem e semelhança de Deus, do que imitar o seu Criador, que estabeleceu o perdão dos pecados como princípio de renovação e santificação dos crentes, a fim de que, evitando a severidade do castigo e suprimindo todo o suplício, o pecador recupere a inocência e o fim do pecado seja a origem da virtude.
É de facto uma grande verdade o que diz o Senhor: Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração. Que é o tesouro do homem senão a acumulação dos frutos do seu trabalho? Cada um recolhe o que tiver semeado: conforme o trabalho assim será o proveito; e onde se concentra a alegria do êxito aí se prende a solicitude do coração. Mas como há muitas espécies de riqueza e diversas causas de alegria, o tesouro de cada um é a satisfação do próprio desejo; e se este se limita aos bens terrenos, tal satisfação não pode trazer a felicidade, mas a infelicidade.
Pelo contrário, aqueles que aspiram às coisas do Céu e não às da terra, nem estão presos aos bens que passam mas aos bens eternos, alcançarão uma riqueza incorruptível, aquela de que fala o Profeta: A sabedoria e a ciência são as riquezas da salvação, o temor do Senhor é o seu tesouro. Por meio destes tesouros da justiça, com o auxílio da graça divina, até os bens terrenos se transformam em bens celestes, quando muitos se servem destas riquezas, justamente herdadas ou justamente adquiridas de outro modo, como instrumentos de bondade.
Indicações litúrgico-pastorais
- Neste tempo estival onde tantos iniciaram ou vão inciar as suas férias, a Liturgia deste Domingo pode ser a oportunidade para exortar a um tempo de repouso com a marca cristã e a presença de Deus. Na sua última audiência antes do tempo de férias, o Papa Francisco exortava os fiéis: «apesar de todas as medidas de segurança ligadas à ameaça de contágio do coronavírus, que este seja um tempo sereno de descanso, de gozo da beleza da criação e de reforço dos laços com os homens e com Deus».
- Para os leitores: a primeira leitura narra o diálogo entre Salomão e Deus. A proclamação desta leitura deve ter em atenção o discurso directo presente no texto e articulação entre as intervenções de Deus e de Salomão. A segunda leitura não apresenta nenhuma dificuldade aparente na sua preparação mas isso não deve descurar a sua preparação. Deve ter-se em atenção a pontuação com as respectivas pausas e respirações devido à presença de vírgulas e ponto e vírgula.
Sugestões de cânticos
Entrada: Deus vive na sua morada santa – F. Santos (CN 362); Salmo Responsorial: Quanto amo, Senhor, a vossa lei (Sl 118) – M. Luís (SRML, p. 140-141); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Bendito sejais, ó Pai – M. Simões (CN 53); Ofertório: Meu Deus, na simplicidade – A. Oliveira (CN 613); Comunhão: A minha alma louva o Senhor – F. Santos (CN 147); Pós-Comunhão: Bendiz, ó minha alma – A. Oliveira (CN 455); Final: Exultai de alegria no Senhor – F. Silva (CN 473).