Ano Laudato Si: para cuidar da casa comum

Este ano especial decorre de 2020 a 2021 e tem o objetivo de “chamar a atenção para o grito da terra e dos pobres”. Para promover o cuidado da casa comum através de uma ecologia integral.

No passado dia 24 de maio, o Papa Francisco assinalou o quinto aniversário da Encíclica “Laudato Si” lançando um ano especial que decorrerá até maio de 2021 com o objetivo de “chamar a atenção para o grito da terra e dos pobres”. O ano dedicado à ‘Laudato si’ é promovido pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Recordemos que o documento do Papa publicado em 2015 desenvolve um conceito concreto: ecologia integral, novo paradigma de justiça. Em tempo de pandemia redobrou a importância deste tema e da iniciativa do Papa de dedicar um ano à reflexão e à ação ecológica e social.

Pela casa comum

No âmbito do ano “Laudato Si” foi publicado pelo Vaticano, no mês de junho, um documento com o título ‘A caminho para o cuidado da casa comum – Cinco anos depois da Laudato Si’. Trata-se de um texto elaborado pela “Mesa Interdicasterial da Santa Sé sobre ecologia integral”, organismo criado em 2015 para analisar como promover e implementar a ecologia integral. Os participantes deste organismo são instituições ligadas à Santa Sé envolvidas nesta área e algumas Conferências Episcopais e Organismos Católicos.

Este documento, embora tenha sido elaborado antes da pandemia da Covid-19, destaca que tudo está ligado, não há crises separadas, mas uma única e complexa crise ambiental e social que requer uma verdadeira conversão ecológica.

Desde logo, é apontada a necessidade de uma mudança de mentalidade que compreenda que os problemas do mundo estão interligados. É assinalada a importância de cuidar da vida e da Criação, valorizando a centralidade da pessoa humana e rejeitando a cultura do descarte.

É sugerida a valorização de tradições monásticas que ensinam a contemplação, a oração, o trabalho e o serviço, como forma de ajudar à educação para o equilíbrio pessoal, social e ambiental.

Em particular, é assinalada a tão falada “transição para energias disponíveis para todos” sublinhando a “eficiência energética” e alertando para a necessidade de transportes menos poluentes:

“É preciso promover transportes menos poluentes, tendo em consideração não só o combustível, mas também o ciclo de vida dos veículos” – podemos ler no documento do Vaticano que também assinala preocupações com a habitação e o trabalho denunciando “novas formas de escravatura”.

São precisos novos estilos de vida mais saudáveis, mas também “economias ecologicamente mais sustentáveis”. Economias que sejam inclusivas e que respeitem os pobres, marginalizados e pessoas com deficiência.

Economia de Francisco

Recordemos que na própria Encíclica “Laudato Si”, o Papa Francisco pede diálogo entre política e economia a nível internacional e não poupa um juízo severo aos líderes mundiais relativamente à falta de decisões políticas a nível ambiental. Propõe uma nova economia mais atenta à ética.

Como consequência concreta desta necessidade de diálogo entre política e economia e a construção de uma economia mais ética, foi lançada a iniciativa “Economia de Francisco” que deveria ter acontecido em março passado e que, devido à pandemia, teve que ser adiada para o próximo mês de novembro.

Decorrendo em ano especial “Laudato Si”, a “Economia de Francisco” terá lugar na cidade italiana de Assis e deverá reunir mais de 2 mil jovens de 115 países, incluindo Portugal. Entretanto, o evento foi reorganizado e os participantes estão a preparar o evento através de uma plataforma digital com o objetivo de se encontrarem presencialmente em novembro.

O Papa Francisco convida para este encontro de Assis jovens empreendedores e jovens economistas que desejam fazer um pacto, no espírito de S. Francisco, procurando construir uma nova economia, que seja viável e ética, socialmente justa e sustentável a nível ambiental. Um verdadeiro compromisso para o futuro.

Compromisso ambiental

A propósito de compromisso é importante assinalar as medidas concretas do próprio Estado da Cidade do Vaticano para a defesa do ambiente: recolha seletiva de resíduos e reciclagem; proteção dos recursos hídricos; cuidado de áreas verdes e controlo do consumo de recursos energéticos.

Como exemplos deste compromisso, em 2008 foi instalado um sistema fotovoltaico no telhado da Sala Paulo VI e os novos sistemas de iluminação LED na Capela Sistina, na Praça de S. Pedro e na Basílica do Vaticano reduziram os custos em 60, 70 e 80 por cento, respetivamente.

As dioceses de todo o mundo procuram também dar expressão concreta a estes desafios ambientais. A diocese do Porto é exemplo dessa procura de aplicar o espírito da Encíclica Laudato Si pois inaugurou um conjunto fotovoltaico no topo da Casa Diocesana de Vilar no passado dia 1 de julho. Foi no dia em que se celebravam 25 anos daquele importante espaço diocesano, que o bispo do Porto inaugurou um complexo de 530 painéis solares com uma capacidade instalada que poderia alimentar 50 habitações familiares. E, desta forma, uma estrutura dedicada à pastoral, à formação e ao acolhimento transformou-se também num local de reconversão energética e de responsabilidade ambiental.

RS