
Ficamos aqui a conhecer melhor cada um dos novos sacerdotes. Em discurso direto. Vocações abertas ao mundo para fazer caminho com o povo de Deus.
Nome: José da Silva Coelho
Idade: 30 anos
Naturalidade: Freamunde
Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto
P: Quando é que o seu amor a Cristo passou a ser chamamento para a vida sacerdotal?
R: Quando “desarmei” o meu ego! Quando “eu comecei a diminuir, para que Jesus Cristo crescesse em mim”. Obvio que isto, não acontece da noite para o dia. Quando iniciei o discernimento vocacional, tinha 16 anos, bem vividos. Fui apresentado ao Seminário do Bom Pastor e iniciei o caminho de discernimento, que completaria no Seminário Maior do Porto. Arrisquei e disponibilizei-me a fazer caminho. Para mim, a forma de Ser e Estar na vida, de Deus, revelado em Jesus Cristo sempre foi entusiasmante. E não é para menos. É a nossa história pessoal, assumida e vivida que colocamos nas mãos de Deus, para Ele mesmo nos devolver em Misericórdia, e a partir daqui servir a todos. Por isso, “desarmar” o ego, não é trilhar pelo caminho de um ascetismo absurdo, ou castigar-se a si mesmo, e muito menos, anular-se ou destruir-se. É muito mais simples que isto, mas, contudo, mais exigente, é não viver dependente de mim mesmo, das minhas coisas e do meu eu. Liberto das “minhas coisas” para viver esta adesão a Jesus Cristo, que me torna homem livre, e da qual assumo o risco que comporta este seguimento, mesmo que não saiba por que caminhos me irá levar. Isto concretizamos em Igreja e com a Igreja.
P: Qual foi a importância da família na sua decisão vocacional?
R: A importância que tem a família na decisão de qualquer via vocacional. É o fundamento de tudo. No entanto, quando falei em casa que queria ser Padre não me puseram entraves, mas recordo-me de me terem dito que “ia durar pouco tempo no Seminário”, esta ideia ia passar. É normal, os meus pais e o meu irmão, conheciam-me bem, sabiam que era irrequieto e emotivo, e pensavam que isto de ser Padre não era para mim. Lá está, hoje já compreendem um pouco mais, deste “poder” de Deus. E que ser Padre não é uma ideia. A graça tem de ter “conteúdo” estrutural onde se “arraigar”, os afetos, a bondade, o espírito de sacrifício, a partilha, a comunhão, o compromisso, a forma como lido com a frustração, etc. são o ar divino, profundamente humano, que respirei na minha família.
P: Como foi o seu percurso de vida até chegar ao Seminário?
R: Até chegar ao Seminário, tive tudo, fiz tudo, estraguei, esbanjei, sonhei, nunca me faltou nada. Até que me cansei e vi, despertei, compreendi que não tinha nada. A minha vida desenvolvia-se entre a escola e os amigos, e a fábrica de moveis do meu avô. Obviamente, fiz mais aneiras, do que trabalhei. Foi no meio desta gente honrada, muito digna, que “suava” todos os dias, e muito, para pôr o pão em cima da sua mesa, que cresci. Fui vivendo entre o tudo, que achava que tinha, e o pouco de uma vida insatisfeita que é como “serrim” da fábrica.
P: Como tem sido a experiência de diácono?
R: R: Tem sido gratificante. Tenho feito caminho de aprendizagem, com o bom povo de São João da Madeira. Sob a orientação do Pe. Álvaro Rocha, tenho aprendido a servir a comunidade. Foi um tempo muito bom de maturação, onde também tivemos de nos reinventar, devido á pandemia. Sem nunca esquecer a comunidade de Aldoar, e o Pe. Lino Maia, que também contribuíram, durante 4 anos, para o que sou e cresci.
P: Para si o que é ser padre hoje?
R: Ir e fazer o que o jovem de Nazaré, Jesus Cristo, fez. Concretizar o Evangelho, a Palavra de Deus. Conhecer o mundo melhor que qualquer mundano, sem nunca abdicar da liberdade de filho de Deus, chamado a servir a todos sem exceção. Cuidar o ser humano, e estar próximo das suas pobrezas. Quanta gente que na vida não se sabe guiar? Quanta gente que duvida do que é ser tratado com respeito e carinho, a quem a vida aleijou? Pessoas que não podem acreditar num Deus bom, porque a vida as magoou. Perdemos demasiado tempo a “engraxar” os sapatos de vela, para levar ao culto, e bem sabemos que há gente na margem e a ficar pelo caminho, sem dignidade e motivo para seguir em frente e acreditar em si mesmas. Ser Padre hoje, é ser parte também desta humanidade, é testemunhar com a vida, que é nessa pobreza humana onde a salvação de Deus se realiza.
Breves e Diretas
Uma leitura que o tenha marcado: “Corrupção e Pecado, Seguido de Sobre a Acusação de si Mesmo” – Jorge Mario Bergoglio
Uma canção ou música especial: “Restolho” – Mafalda Veiga
Filme favorito: “Knight of Cups” (Cavaleiro de Copas), Terrence Malick
Local de oração preferido: Natureza/Montanha
Uma personalidade da Igreja que o tenha influenciado: padre Leonel Oliveira (1934-2015)