
Ficamos aqui a conhecer melhor cada um dos novos sacerdotes. Em discurso direto. Vocações abertas ao mundo para fazer caminho com o povo de Deus.
Nome: Filipe Martins de Sousa Vales
Idade: 28 anos
Naturalidade: Cedofeita, Porto
Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto
P: Quando é que o seu amor a Cristo passou a ser chamamento para a vida sacerdotal?
R: As duas dinâmicas são totalmente inseparáveis na história de uma vocação. Em algum momento, uma certa «curiosidade» pela pessoa de Jesus Cristo passa a ser uma aposta que nos é devolvida sob a forma de confirmação e de estímulo a continuar esse caminho. Foi como jovem que se preparava para o Crisma que comecei a aprofundar a minha fé e a encontrar na comunidade paroquial um espaço para viver de forma concreta aquilo que dizíamos acreditar. Daí à entrada no seminário, alguns anos mais tarde, foi um processo muito natural, porque quando levamos a sério a nossa condição de batizados, é o próprio Jesus que acaba por revelar em nós a nossa vocação, mesmo que para nossa surpresa.
P: Qual foi a importância da família na sua decisão vocacional?
R: Seria impossível definir essa importância. Mas olhando para trás, não posso deixar de me lembrar que foi pela mão da minha avó que ainda antes da primeira comunhão comecei a ir todos os domingos à missa, à Capela das Almas. Mais do que um simples hábito, foi algo que recebi como herança e nunca mais abandonei.
P: Como foi o seu percurso de vida até chegar ao Seminário?
R: Até aos 21 anos, fiz um percurso indistinto de qualquer amigo da minha idade. Frequentei a escola, a catequese e os escuteiros; aos 17 anos, depois do Crisma, juntamente com outros colegas, comecei a fazer catequese e a colaborar mais na vida da paróquia. Ao terminar o 12º ano, entrei para Economia na FEP – Universidade do Porto. Na altura, estava um pouco indeciso sobre o curso que queria fazer, mas nenhuma das hipóteses era entrar no Seminário; essa ideia só me surgiu já no final do curso, como disse acima, como um desenrolar natural da minha vida cristã.
P: Como tem sido a experiência de diácono?
R: É distinto ser diácono em ordem ao presbiterado e ser diácono permanente. Este tempo de diaconado na formação sacerdotal não é fazer a experiência de «um ano de diácono», porque em virtude do 2º grau da ordem não abandonamos, mas antes integramos o primeiro; mas também não pode ser visto como um estágio sacerdotal no sentido de um diácono ser um padre em miniatura. Por isso, eu diria que esta experiência não vale por si mesma, mas como um tempo em que, na qualidade de diácono, vamos assumindo dimensões do ser sacerdote que depois serão assumidas e transformadas pela ordenação sacerdotal. Nesse sentido, tem sido um tempo rico e exigente. Tive o privilégio de ser enviado a quatro paróquias encantadoras do concelho de Amarante – concretamente São Gonçalo e São Veríssimo, Madalena e Cepelos – onde pude conhecer e rezar ao lado de gente que me deu muita força para continuar. A ligação umbilical entre o diaconado e os pobres permite uma forte dimensão humana de proximidade que penso que é a grande lição deste tempo de formação.
P: Para si o que é ser padre hoje?
R: A pergunta tem um defeito, porque aquilo que o padre é ou deve ser não resulta da projeção de uma sensibilidade pessoal, mas do sentir e pensar eclesial, daquilo que a Igreja vive e precisa. Hoje reflete-se muito – e bem – sobre a identidade e a missão dos sacerdotes, porque vivemos num tempo marcado pelo sinal da crise, em que tudo é questionado e revisto. Mas, a meu ver, antes de nos interrogarmos sobre o que deve ser o padre, devemos nos interrogar sobre o que deve ser a Igreja, como a sonhamos e como a construímos. Se queremos a Igreja que já passou, a dos nossos avós, do tempo da cristandade, então pensamos o padre de uma certa forma; se nos lançamos na construção da Igreja do futuro, que lê os sinais dos tempos e procura alcançar os homens e mulheres deste tempo, então pensamos um padre muito diferente. Ao pormos os pressupostos da Igreja que queremos, logo temos à nossa frente o perfil do padre. Sem querer ser exaustivo, num tempo como este de grande afirmação da individualidade, torna-se cada vez mais essencial que o padre seja um homem de escuta, alguém que acolhe de facto cada um na sua situação, para pôr em relação com os outros, construir comunidade, e caminhar com cada pessoa, a partir do lugar onde ela se encontra.
Breves e Diretas
Uma leitura que o tenha marcado: “José e os seus irmãos”, de Thomas Mann
Uma canção ou música especial: “Owner of a Lonely Heart”, dos YES
Filme favorito: “Il traditore”, de Marco Bellocchio
Local de oração preferido: Praia de Francelos
Uma personalidade da Igreja que o tenha influenciado: S. Paulo VI