Mensagem (84): Solidez

A Igreja de Roma –e, por ela, a de todo o mundo, já que lhe preside “na caridade”- edifica-se a partir do fundamento sólido dos Apóstolos São Pedro e São Paulo. Vale a pena uma pequena reflexão sobre isso. Em três pontos.

Pedro, um dos primeiros a ser «matriculado» na Escola do Mestre, aprendeu a lição como pôde. E aprendeu bem, a julgar pelas «confissões» altamente teológicas que o Evangelho regista. Por exemplo, a que se segui ao «estudo de opinião» que Jesus ordenou com aquele “Quem dizem, por aí, que é o Filho do Homem?”: “Tu és o Cristo, o Messias, o Filho do Deus vivo”. Mas este saber intelectual não evitou a negação por alturas do julgamento de Pilatos. Foi só aí, quando o olhar misericordioso de Jesus o penetrou, que o seu coração se sentiu atingido e as coisas mudaram: o conhecimento foi caldeado com o amor e a contrição. E a «confissão de fé» intelectual tornou-se adesão de vida «enamorada». Por isso, inseparável.

Em Paulo, cujo processo de fé acontece de forma radicalmente diferente, vemos outro dado: fé assumida é fé difundida. É fé refletida, fé rezada, fé meditada, fé celebrada, fé iluminada pela alta cultura. Certo. Tudo isso é verdade. Mas precisamente por tudo isso, fundamentalmente, é fé difundida ao perto e ao longe. Ou, simplesmente, não seria fé.

É desta fé que arranca a Igreja. Quando o Mestre a estabeleceu, não assentou os seus fundamentos em qualquer realidade movediça. Por exemplo, na metáfora de um barco. Pelo contrário, pegou em Simão, foi busca-lo ao mar da Galileia, trouxe-o para terra firme e garantiu-lhe: “Daqui para a frente, serás pescador de homens”. E até lhe mudou o nome para Pedro, ou seja, pedra, rocha firme. Afiançando-lhe: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Portanto, fiquem todos cientes que a Igreja é inabalável, pois não se fundamenta na fluidez das vagas, mas em rocha firme. Rocha que, curiosamente, tem um alicerce debaixo de outro alicerce: “A pedra que os construtores rejeitaram – que é Cristo- é que se tornou pedra angular”.

Assim sendo, não vejo outra forma de definir a Igreja que não seja esta: é fé amassada pelo contributo do conhecimento e do coração; é atividade missionária; é certeza de solidez, não obstante os ventos, as tempestades e a viscosidade da cultura dominante em todos os tempos.

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