
Por Joaquim Armindo
A encíclica do bispo de Roma, papa Francisco, Laudato Si`, não pode ser confinada. Nem sequer a carta “Querida Amazónia”. Ambos os documentos são para todos as mulheres e homens cristãs ou não, religiosos ou não, ateus e agnósticos. Aliás – como tenho referido -, são os ateus e agnósticos que mais têm refletido sobre o Cuidar da Casa Comum. Qualquer tentativa de confinamento destes documentos será uma subjugação do património mundial. Faz-me lembrar o “Sermão do Monte”, que não é propriedade de ninguém, mas da Humanidade, onde Jesus explana claramente – diríamos em linguagem de hoje -, as suas linhas programáticas, ou também a célebre afirmação de Jesus de quem “vai para o céu”, aqueles e aquelas que “tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, estava nu e vestiste-me, preso e visitaste-me”, estes é que estão a descobrir o “céu”. Não se pergunta se foste padre, bispo ou diácono, ou quantas vezes “estiveste na eucaristia”. Não estou a dizer que não se deve ser participante na eucaristia, centro da vida cristã, mas que isso é alimento para cada um e cada uma, mas não necessariamente o compromisso cristão na Vida plena.
Por outro lado, os documentos citados não se confinam a uma reconciliação com a Natureza, ou seja, com as alterações climáticas ou os problemas ambientais. Os sonhos de Francisco ou as suas reflexões, atingem em profundidade a vida humana – com todos os seres vivos -, não estão confinados ao ambiente. Eles são de uma verdadeira conversão ecológica – e ecologia também é ambiente, mas não só -, na economia, na cultura, na coesão social e, claro, em todas as questões ambientais. Confinar a Laudato Si` ao ambiente é não perceber nem o texto, nem o contexto. Nesta encíclica estão as grandes questões dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ONU) e a chamada para a grande conversão da humanidade, para uma Vida Plena de Reconciliação, com o passado, com o presente e com o futuro.
Quem quiser confinar a Laudato Si` está votado a um desespero de tendência a absorver todas e todos na sua Fé e, ainda bem, que não é isso que se pretende. Jesus morto e ressuscitado, a quem anunciamos, deseja que nos envolvamos na humanidade, mesmo nas águas mais sujas, no caminho que a Laudato Si`, pelo Espírito do Senhor, hoje também anuncia.