Domingo XIII do Tempo Comum

Foto: Rui Saraiva

28 de Junho de 2020

 

Indicação das leituras

Leitura do Segundo Livro dos Reis                                                        2 Reis 4,8-11.14-16a

«Estou convencida de que este homem, que passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus».

 

Salmo Responsorial                                            Salmo 88 (89)

Eu canto para sempre a bondade do Senhor.

 

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos                                  Rom 6,3-4.8-11

«Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos».

 

Aclamação ao Evangelho                       1 Pedro 2,9

Aleluia.

Vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa,

para anunciar os louvores de Deus,

que vos chamou das trevas à sua luz admirável.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus                         Mt 10,37-42

«Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la».

«Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou».

 

Viver a Palavra

Habituamo-nos de tal modo à radicalidade da proposta de Jesus que porventura a dureza das Suas palavras quando nos convida a segui-Lo pode muitas vezes soar a mera poesia: «quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim».

A repetição destes «Mim’s» fazem sempre retornar ao meu coração as palavras do Papa Bento XVI quando recorda que na origem do ser cristão não está uma decisão ética ou uma grande ideia mas o encontro íntimo, único e decisivo com Jesus Cristo (Deus caritas est, 1). Seguir Jesus implica conjugar a intimidade do encontro com Ele com a missão de ir ao encontro dos irmãos, numa radicalidade única que implica toda a vida e a vida toda.

Não se trata de uma competição de amores para saber quem amamos mais: o pai, a mãe, os filhos, a própria vida ou Jesus Cristo. Antes de tudo, trata-se de saber qual o centro unificador da nossa vida e o lugar onde depositamos a nossa confiança e a nossa esperança. Amar Jesus e segui-Lo de todo o coração nunca nos permitirá desvalorizar os outros, muito menos os nossos pais, os nossos filhos ou até a nossa própria vida. Contudo, abraçar a radicalidade do chamamento que o Senhor dirige a cada um de nós levar-nos-á sempre a olhar o mundo, os outros e as relações de um modo novo e diferente.

Encontrar a vida verdadeira implica inscrever a nossa existência nesse horizonte maior do amor de Deus e entrar numa lógica de amar e servir que nos faz redescobrir que a vida é tanto mais nossa quanto mais for dos outros e que a vida é verdadeiramente vida quando entregue sem medida.

Abraçar a cruz para seguir Jesus não é um acto masoquista de quem procura o sofrimento para alcançar a recompensa. Para compreender e acolher estas palavras de Jesus, teremos sempre de olhar para o crucificado e contemplar o imenso amor que Dele brota. Jesus vai até à morte e até à cruz porque nos ama. Por isso, abraçar a cruz significa sempre abraçar o amor na sua maior radicalidade. Significa amar até ao fim e com todas as nossas forças.

Não deixa de ser curioso que na mesma página evangélica onde Jesus nos propõe a radicalidade do seguimento, nos apresente o gesto mais simples, pequeno e banal da oferta de um copo de água fresca. Seguir Jesus na totalidade da nossa vida e com a radicalidade que Ele nos propõe, começa a partir dos gestos mais simples e vive-se precisamente na atenção para com os mais pequenos e frágeis. Dar a vida toda ou ter um pequeno gesto de amor, a cruz ou um simples copo de água fresca, são os extremos de um mesmo movimento: o amor que se faz entrega, a certeza de que no Evangelho o verbo amar não significa um mero sentimento ou simples afeição, mas que se conjuga sempre com o verbo dar e sobretudo na sua forma reflexiva: dar-se.

Nas palavras que Jesus nos dirige neste evangelho está presente a necessidade de uma liberdade interior em relação às nossas seguranças, sejam elas materiais ou afectivas. O pai, a mãe, os filhos ou a própria vida são bens preciosos que devemos amar e estimar. Contudo, Jesus adverte-nos para o perigo da dependência das relações afectivas e familiares que se podem tornar um obstáculo à liberdade para O seguir de todo o coração. Seguir Jesus e depositar Nele toda a nossa confiança ajudar-nos-á a amar os outros e a vida de um modo absolutamente novo que nos fará entrar num horizonte maior de realização e felicidade que nos projecta para a eternidade.

 

 

Homiliário patrístico

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Séc. V)

Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Parece duro e pesado o que o Senhor mandou: se alguém quiser segui-l’O, tem de renunciar a si mesmo. Mas não é duro nem pesado o que manda Aquele mesmo que ajuda a fazer o que manda.

Que significa: Tome a sua cruz? Quer dizer: Aceita tudo quanto custa e segue-Me. Na verdade, quem começar a seguir-Me nos meus exemplos e preceitos, encontrará muitos que o critiquem, muitos que criem dificuldades, muitos que o dissuadam; encontrá-los-á mesmo entre os que parecem discípulos de Cristo. Andavam com Cristo os que proibiam os cegos de clamar. Tu, portanto, no meio de ameaças ou de carinhos ou de proibições, sejam elas quais forem, se quiseres seguir a Cristo, volta-te para a cruz; suporta-a, leva-a e não sucumbas.

Neste mundo santo, bom, reconciliado, salvo, ou melhor, que há-de ser salvo – em esperança é que fomos salvos – neste mundo que é a Igreja e que segue, toda ela, a Cristo, disse Ele a todos, sem exceptuar ninguém: Quem quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo.

Não é coisa que devam ouvir só as virgens e não as esposas, ou que devam ouvir só as viúvas e não as casadas, ou que devam seguir só os monges e não os casados, ou que devam cumprir só os clérigos e não os leigos; mas a Igreja inteira, o corpo inteiro, os membros todos, cada um com as suas funções próprias, distintas e bem distribuídas, todos devem seguir a Cristo.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. O Evangelho deste Domingo fala-nos da radicalidade do seguimento de Jesus Cristo unida ao acolhimento e à hospitalidade que nos desafiam a abraçar a cruz como condição fundamental para O seguir. Este texto evangélico pode constituir a oportunidade para uma reflexão vocacional com uma especial atenção para os mais jovens. No contexto do encerramento do ano pastoral e catequético a Liturgia da Palavra deste Domingo poderá ser também um oportuno ponto de partida para uma actividade que envolva os adolescentes e jovens desafiando-os a pensar na sua vocação e convidando-os a descobrir a alegria de acolher a radicalidade do chamamento que Jesus dirige a cada um.

 

  1. Para os leitores: na primeira leitura, deve ter-se em atenção o tom narrativo e a articulação das diversas frases em discurso directo. Além disso, deve preparar-se bem as palavras «Sunam» (deve ler-se suname) e «Giezi» (deve ler-se jiézi) e ter em atenção o imperativo «Chama-a», tendo cuidado para não ilidir o pronome «a». A complexidade da segunda leitura reside nas frases longas com diversas orações. Este texto exige uma acurada atenção nas pausas e respirações para que se compreenda bem a mensagem do texto.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Louvai o Senhor, povos de toda a terra – A. Crtageno (CN 592); Salmo Responsorial: Eu canto para sempre a bondade do Senhor (Sl 88) – M. Luís (CN 435); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Vós sois geração eleita – J. Roux (CN 54); Ofertório: Baptizados em Cristo – J. Martins (CN 233); Comunhão: Se alguém quiser seguir-Me – C. Silva (CN 898); Pós-Comunhão: A minha alma louva o Senhor – F. Santos (CN 147); Final: Exulta de alegria no Senhor – M. Carneiro (CN 471).