Uma pessoa que nunca tivesse ouvido falar de religião e entrasse nas nossas igrejas barrocas, cheias de estatuária, de imagens de santos, e logo a seguir, passasse à secção grega ou romana de um museu, com as suas estátuas mitológicas, seria capaz de distinguir uns e outros?
Os desuses pagão são criações humanas para justificar as paixões, loucuras e crimes do “homem carnal”: o «belo» Apolo é o pinga-amor infeliz que coleciona amantes e gera filhos, mas sempre insatisfeito por nem amar nem ser amado; Afrodite/Vénus representam a beleza física, a atração sexual desregrada e a própria prostituição; Ares/Marte tutelam o desejo de vingança mais atroz, a selvajaria, a sede de sangue, a matança em série; Hermes/Mercúrio protegem a mentira, ladrões e trapaceiros; Dionísio/Baco incentivam as bebedeiras e consequentes loucuras, insânias e caos; etc.
Os santos do cristianismo, pelo contrário, são apontados como “exemplo a imitar”. Os que figuram nos altares são os melhores dos melhores. Não os únicos bons. Mas aqueles que se distinguiram por “virtudes heroicas”: abnegação de si mesmos, extirpação dos vícios e cultivo da perfeição, caridade sublime e contínua, capacidade de suportar as afrontas e o martírio sem desejos de vingança, dedicação a Deus no silêncio e na oração ininterruptos, promoção dos irmãos no ensino ou na saúde, humildade e pureza de vida, desprendimento dos bens e abraço do zelo missionário, etc.
Humanamente falando, quem é mais fácil seguir? Ninguém duvida que serão os pagãos: é mais agradável quem justifique as maluqueiras e depravações do que aquele que apela à conversão, à superação, aos valores morais e à virtude. Num contexto próximo deste conceito, o povo diz que “para cima, os santos ajudam; mas para baixo, todos os diabos empurram”. Pois empurram. E de que maneira!
Habitualmente, o verão é o tempo das “festas em honra” deste ou daquele santo. A começar pelos “Santos Populares”. É verdade que, este ano, não pode haver aglomerados de pessoas. Porque, quando nos juntamos, temos sempre a tendência ao abandalhamento, à asneira, ao desregrado. Então, será momento de nos interrogarmos: a quem cultuar? Aos que nos desafiam a sermos como eles no sacrifício da elevação ou aos que exploram e «justificam» a baixeza dos nossos piores instintos?
Por aqui passa a diferença entre cristianismo e paganismo. Mesmo o paganismo atual.
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