
O casal Celeste e Óscar tem duas filhas, Leonor e Matilde. Apresenta aqui a sua experiência dos últimos meses. Publicamos a reflexão inspirada da Celeste que não perdeu o foco naqueles que dependem da Obra Social onde trabalha. A da Boa Viagem. Onde todos os que ali colaboram assumem a missão da solidariedade.
Nesta pandemia, muitas coisas mudaram nas nossas vidas. A vida adquiriu novas rotinas e uma nova forma de olhar em volta.
De repente, tudo ficou suspenso: escola, catequese, dança, ballet… Aos poucos, algumas destas atividades foram reiniciando, mas em formatos diferentes. Um novo membro foi admitido lá em casa: o Zoom passou a ser presença diária, muitas vezes em simultâneo no computador e no tablet, qual stereo surround…
As filhas passavam muito tempo sozinhas em casa, o que despertou o desafio do aumento de responsabilidade e da sua autodisciplina no ensino à distância e na gestão do novo modo de realizar as atividades paralelas.
Ambos continuámos a trabalhar. O Oscar às vezes em teletrabalho, e eu a tentar gerir uma situação completamente nova num Lar de Idosos, numa altura em que as notícias eram assustadoras, mostrando os Lares por todo o país como autênticos “barris de pólvora”.
Na Obra Social Nossa Senhora da Boa Viagem, o desafio era tentar, a cada dia, proteger a vida dos mais vulneráveis; gerir a informação disponível sobre a doença e novos procedimentos, tentando salvaguardar também colaboradores e respetivas famílias. Em dada altura, ponderamos ficar confinados no Lar, abdicando da família, em prol da missão que nos foi confiada.
Esta era uma tarefa árdua e desgastante, que exigia atenção e foco constantes, e que absorvia todas as minhas energias; enfrentei muitas vezes o dilema de não conseguir prestar a devida atenção à família, confiando ao Oscar toda a atenção às filhas (e também à despensa e à cozinha!).
Dos momentos de Celebração da Fé, recordamos o Tríduo Pascal celebrado, em comunhão familiar, em frente à TV, marcado por um momento ao qual ninguém terá ficado indiferente: a Via Sacra, na Praça de S. Pedro, vazia de pessoas, mas repleta de significado!
Ficou também marcado o domingo de Páscoa vivenciado a quatro, num dia que seria de habitual reunião familiar. Mas, recordando a Visita Pascal, na hora do almoço fizemos questão de anunciar a Boa Nova, tocando a sineta à entrada do refeitório da Obra Social: “Cristo Ressuscitou. Aleluia, aleluia!”. Aquele som estridente e a presença das cruzes enfeitadas em alguns locais da casa, reforçavam a presença do Cristo Ressuscitado nas nossas vidas.
Também em nossa casa, a cruz desenhada em família, mais uma vez sem a minha presença, foi momento de união familiar a recordar o tempo que vivíamos. Serviu também de “postal ilustrado” para nos fazermos presentes na vida daqueles que amamos e a quem fizemos questão de desejar uma SANTA PÁSCOA!
A vida segue, diferente, mas segue. E eu dou graças a Deus…
… por regressar a casa, a cada dia com a certeza de ser acolhida com o amor, compreensão e paciência de que tanto necessitava. Se a minha casa sempre foi o meu refúgio, nesta fase isto atingiu uma proporção ainda maior.
… por o nosso agregado familiar não ter sido afetado em termos de trabalho.
… por aquela Sexta-feira Santa em que recebemos, em lágrimas, a boa notícia dos resultados negativos dos testes COVID19 de todos os idosos e funcionários.
… por conseguir manter coesa e otimista uma equipa de trabalho sob enorme pressão a quem não me canso de agradecer a sua dedicação. Com a Graça (e a Inspiração) de Deus fomos conseguindo antecipar e tomar as medidas corretas para impedir, até agora, que o vírus nos entrasse portas dentro.
Obra Social Nossa Senhora da Boa Viagem
Instituição Particular de Solidariedade Social, fundada em 1988. Tem sede bem junto à Casa Diocesana de Vilar na zona do Palácio de Cristal. No seu trabalho diário de solidariedade social serve a comunidade com um Serviço de Apoio Domiciliário (SAD) e um Centro de Dia e Convívio. Relevo especial para a sua Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) e um Centro Comunitário.