
Faleceu em 23 de maio de 2020 Maria Velho da Costa (1938-2020), reconhecida escritora, romancista, crítica literária, autora de teatro e cinema, cujo maior reconhecimento foi o Prémio Camões, recebido em 2002, que consagra a sua carreira como expressão da escrita em língua portuguesa no mundo. Nascida em 1938, contava 81 anos e faleceu inesperadamente em casa. Entre os prémios com que foi distinguida contam-se o “Grande Prémio Vida Literária” da Associação Portuguesa de Escritores.
A sua entrada no conhecimento literário em Portugal verificou-se em 1973, com a publicação com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta da “Novas Cartas Portuguesas” que agitaram o meio cultural pela crítica à marginalização e defesa da presença da mulher na sociedade, tendo merecido crítica e proibição pelas autoridades mentoras da época. A sua entrada na narrativa verificou-se com o romance “Maina Mandes” (1969), sobressaindo mais tarde obras como “Lucialima” (1983), “Missa in Albis” (1988), ”Irene ou o contrato social” (2000), “Myra” (2008) e o texto revivalista publicado em 2006 com Armando da Silva Carvalho, “O livro do meio” (2006). Foi casada com o economista Adérito de Sedas Nunes (fundador da revista “Análise Social” e ministro da Cultura e da Ciência no governo de Maria de Lourdes Pintasilgo (1979-80) e autor dos Princípios de Doutrina Social, e Questões Preliminares sobre as Ciências Sociais (1971), falecido em 1991.
Estre as características mais relevantes da escrita de Maria Velho da Costa são referenciadas a originalidade da construção romanesca, a atenção aos problemas humanos e sociais dos diversos tempos da sua vivência pessoal e social e a atenção e cultivo cuidadoso e inovador da língua portuguesa, cujas raízes buscava na expressão popular, como recorda ao ter ouvido a um ancião do povo, ao perguntarem-lhe por alguém que esperava: “Se houver de vir, há de vir vindo”, como modelo de como o português coloquial guardava a memória dos clássicos. É este gosto de uma “portuguesa língua” atenta aos dramas humanos que devemos agradecer-lhe.
O seu desaparecimento inesperado constitui apelo è divulgação e leitura dos seus livros.
CF