
14 de Junho de 2020
Indicação das leituras
Leitura do Livro do Êxodo Ex 19,2-6a
«Se ouvirdes a minha voz, se guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade especial entre todos os povos».
Salmo Responsorial Salmo 99 (100)
Nós somos o povo de Deus, as ovelhas do seu rebanho.
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos Rom 5,6-11
«Deus prova assim o seu amor para connosco: Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores».
Aclamação ao Evangelho Mc 1,15
Aleluia.
Está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus Mt 9,36-10,8
«Jesus, ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão, porque andavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor.».
«Depois chamou a Si os seus doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos impuros e de curar todas as doenças e enfermidades.».
Viver a Palavra
Os textos evangélicos referem-nos algumas vezes o olhar de Jesus que se eleva para o Céu (Jo 17,1), que olha o horizonte e contempla os reinos do universo (Lc 4,5), que olha para o chão (Jo 8,6). Contudo, ao ler os evangelhos fica sempre gravado no meu coração o modo como Jesus olha para aqueles que se cruzam com Ele. Tem a capacidade de olhar as multidões e dirigir a todos palavras de alento e esperança. Mas não se detém apenas a olhar para as multidões como uma massa anónima e indiscriminada, mas fixa alguns em particular, chama-os pelo nome, entra na sua história e oferece-lhes um sentido novo.
Jesus olha realmente a realidade não para a julgar e condenar mas para a conhecer e amar. Jesus, o Enviado do Pai, não é portador de um plano predeterminado mas diante de cada pessoa, de cada realidade e de cada circunstância faz presente o amor que salva, redime e oferece vida nova.
Seguir Jesus é entrar nesta nova lógica de ser e de estar que se traduz numa nova lógica de servir e amar. Quantas vezes, de modo individual ou colectivo, perdemos tanto tempo a julgar a realidade ou a lutar contra ela ao invés de cultivar um olhar compadecido e misericordioso capaz de dialogar com a realidade, oferecendo a vida nova que nasce da única proposta que temos para levar ao mundo: Jesus Cristo.
Diante das multidões que andam desorientadas e abatidas «como ovelhas sem pastor», Jesus enche-se de compaixão e alerta-nos para a desproporção entre o imenso trabalho a fazer e a escassez dos meios disponíveis: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara». O anúncio do Reino de Deus há-de ter sempre esta marca da desproporção entre a imensa missão a realizar e a fragilidade das nossas forças. Contudo, será precisamente esta desproporção a recordar-nos em cada dia que somos operários da seara e que a obra é de Deus e que através das nossas frágeis mãos e das nossas vidas tantas vezes vacilantes Deus actua no mundo para lá das nossas capacidades.
Da compaixão pelas multidões e do pedido de oração para que o Senhor envie trabalhadores para a Sua seara nasce a missão dos doze que são chamados cada um pelo seu nome com instruções e recomendações precisas. Na verdade, a missão nasce da compaixão e da oração.
Olhar o mundo com o olhar de Jesus, contemplando «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem» (GS 1) é o ponto de partida para a missão. Mas sabemos que não vamos sozinhos. Não somos senhores da seara nem trabalhadores por conta própria, por isso, unimo-nos a Deus pela oração e nela encontramos a fonte da missão, a força para o caminho e a garantia de que é Deus que age no mundo para que o Reino de Deus aconteça através de nós e em nós. Neste envio dos doze, Jesus convida os seus discípulos a olhar o outro na totalidade da sua vida e a socorrer as suas necessidades: acolher, amar, curar, expulsar os demónios.
Muitas vezes a acção da Igreja centra-se apenas nos sacramentos e de modo particular na celebração da Eucaristia e bem sabemos a falta da Eucaristia na vida de uma comunidade. Nestes tempos exigentes de pandemia, reconhecemos como celebração comunitária da fé se constitui como fonte e cume da vida cristã. Contudo, enviados por Jesus como os doze, somos chamados a alargar o nosso horizonte e partir como discípulos missionários para contagiar o mundo com o amor misericordioso de Deus. A compaixão e a oração serão pilares seguros e ponto de partida fundamental para repensar a nossa pastoral e para fazer ecoar no mundo a certeza do amor de Deus que transforma a vida e torna o mundo um lugar melhor e mais feliz.
Homiliário patrístico
Das Homilias de São Gregório Magno, papa,
sobre os Evangelhos (Séc. VI)
Ouçamos o que diz o Senhor ao enviar os pregadores do Evangelho: A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe. Os trabalhadores são poucos para messe tão grande; não podemos falar nesta escassez de operários do Evangelho sem deixar de sentir uma profunda tristeza, pois embora haja quem esteja disposto a escutar a Boa Nova, faltam os pregadores. O mundo está cheio de sacerdotes, mas são raros os que encontramos a trabalhar na messe de Deus.
Recebemos o ministério sacerdotal, mas não cumprimos as exigências desse ministério. Reflecti, irmãos caríssimos, reflecti no que dizemos: Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores para a sua messe. Rogai também por nós, para que sejamos capazes de trabalhar por vós como convém, para que a nossa língua não deixe de exortar-vos, de modo que, tendo recebido o ministério da pregação, não sejamos um dia acusados diante do justo Juiz pelo nosso silêncio. Muitas vezes é a própria maldade dos pregadores que lhes impede de fazer ouvir a sua voz; outras vezes é por culpa dos súbditos que a palavra dos que presidem às nossas comunidades não chega aos ouvidos do povo.
Há outra coisa, caríssimos irmãos, que me aflige profundamente na vida dos sacerdotes; mas para que a ninguém pareça injurioso o que vou dizer, acuso-me também a mim mesmo, apesar de me encontrar neste lugar, não por minha vontade, mas obrigado por este tempo calamitoso em que vivemos. Somos arrastados muitas vezes para assuntos profanos, o que não corresponde às exigências da missão sacerdotal. Abandonamos o ministério da pregação e, para nossa vergonha, continuamos a chamar-nos bispos, tendo de bispos o título honorífico mas não a virtude.
Indicações litúrgico-pastorais
- No dia de 19 de Junho, Sexta-feira depois do segundo Domingo depois do Pentecostes, celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Este dia é também dedicado à oração pela santificação dos sacerdotes. Deste modo, celebrando o amor misericordioso de Jesus revelado pelo Seu coração cheio de amor, somos convidados a rezar pela santificação daqueles a quem o Senhor confiou o ministério ordenado. As comunidades cristãs são convidadas a dinamizar este dia, através dos mais diversos meios, exortando sempre à oração e podendo fazer desta data também uma oportunidade para um trabalho de sensibilização vocacional.
- Para os leitores: na primeira leitura deve ter-se em atenção as palavras «Refidim» e «Sinai» para uma correcta pronunciação. Além disso, ter em conta a articulação entre a parte narrativa e o discurso directo em que Deus se dirige a Moisés. A segunda leitura exige uma acurada preparação, assinalando as pausas e respirações. A falta de atenção na proclamação deste texto pode distorcer completamente a sua mensagem e torná-la imperceptível. Pede-se uma especial atenção nesta frase: «Dificilmente alguém morre por um justo; /// por um homem bom, talvez alguém tivesse a coragem de morrer». Depois da palavra «justo», deve haver uma clara separação da frase seguinte.
Sugestões de cânticos
Entrada: Chegue até vós, Senhor – F. Santos (CN 295); Salmo Responsorial: Nós somos o povo de Deus (Sl 99) – M. Luis (CN 654); Aclamação ao Evangelho: Aleluia | Está próximo o Reino de Deus… – J. Roux (CN 54); Ofertório: Como o Pastor ama o seu rebanho – T. Sousa (CN 304); Comunhão: O Cordeiro de Deus é o nosso Pastor – C. Silva (CN 674); Pós-Comunhão: Cantarei ao Senhor – F. Silva (CN 287); Final: Louvai ao Senhor – J. Santos (CN 591).