
No contexto da atual situação sanitária a nível mundial, os Museus do Vaticano elaboraram um guia com orientações práticas para a Higienização de espaços museológicos, edifícios de culto e espaços com obras de arte.
Apresentado de forma sucinta e acessível, visa não só contribuir para a implementação de boas práticas, como ainda evitar, no contexto específico que estamos a viver, que intervenções voluntaristas e desajustadas possam ter consequências desastrosas e irreversíveis, implicando a perda de memória relevante e até custos financeiros.
O documento foi elaborado pela Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano e é recomendado pelo Secretariado Nacional para os Bens Culturais da Igreja, sendo uma ajuda especial para zelar convenientemente pelo património histórico-artístico associado à vivência da Fé.
Particular atenção para a proteção das obras de arte e de todo o património dos edifícios de culto. Destaque especial para as regras sobre a limpeza das superfícies com detergentes neutros e não com produtos químicos desinfetantes. Importante nota para a boa ventilação dos espaços. “É absolutamente desaconselhável intervir nas obras de arte, como pinturas, esculturas, mobiliário, etc” – pode-se ler no guia prático proposto pelo Vaticano.
São estas na íntegra as regras propostas pelos Museus Vaticanos:
MUSEUS DO VATICANO
HIGIENIZAÇÃO DE ESPAÇOS MUSEOLÓGICOS, EDIFÍCIOS DE CULTO E ESPAÇOS COM OBRAS DE ARTE MÓVEIS E IMÓVEIS*
INDICAÇÕES PRÁTICAS
Este breve guia é destinado a todos aqueles que asseguram a gestão de espaços com bens culturais móveis e imóveis, e zonas circundantes. Visa fornecer conselhos práticos de higienização, evitando expor as obras a riscos desnecessários. As indicações apresentadas têm em consideração as medidas de contenção e prevenção do contágio por SARS-COV-2 sugeridas pela Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano.
-É recomendável garantir uma boa ventilação dos espaços, considerando as necessidades específicas dos diferentes materiais das obras de arte, e tendo o cuidado de respeitar os parâmetros termo-higrométricos adequados à correta conservação das peças.
-Considerando a inativação espontânea do vírus após 9 dias, não é necessário proceder à higienização na reabertura de espaços museológicos, culturais, basílicas, ou outros locais de cultura.
-As superfícies não devem ser higienizadas com produtos químicos desinfetantes, mas apenas limpas com detergentes neutros.
-Limpe diariamente os espaços de uso comum e/ou de passagem, todas as superfícies e objetos (incluindo puxadores, corrimãos, mesas, interruptores, genuflexórios, bancos, confessionários, tablets, áudio-guias individuais, etc.), usando água e detergente neutro. A desinfeção pode ser feita com panos de microfibra humedecidos com uma solução de álcool etílico de 70% (que se pode obter diluindo soluções concentradas em água potável ou usando álcool etílico desnaturado), evitando produzir salpicos e pulverizações, e assegurando a distância de fontes de calor, como velas, lâmpadas, etc.
Diluição de álcool etílico 95°-96 ° (o tipo mais frequente no mercado): 4 partes de álcool etílico e 1,5 de água. Ex.: 400 ml de álcool etílico + 150 ml de água.
Tempo de contato: máximo 1 minuto.
-É desaconselhável testar a compatibilidade dos produtos de limpeza (detergentes) ou de desinfeção (soluções de água e álcool) em superfícies com acabamentos orgânicos (tintas, esmaltes…) ou douramento. É absolutamente desaconselhável intervir nas obras de arte, como pinturas, esculturas, mobiliário, etc.: tal não afeta a propagação do contágio por COVID-19 podendo, pelo contrário, danificá-las seriamente. Se as superfícies a higienizar
forem sensíveis ao álcool (vernizes, lacas e outros acabamentos de madeira), podem ser utilizados produtos “desinfetantes” à base de sais de amônio quaternário (50% de amônia).
Solução de cloreto de benzalcônio 50% (comercialmente com a marca PHASE1): 1 parte de cloreto de benzalcônio 50% (comercialmente com a marca PHASE) e 99 de água (solução a 1%). Ex.: Cloreto de Benzalcônio 50% 10 ml + 990 ml de água. Comercialmente solução Alcosan Diversey2: pronto a usar
Tempo de contato: máximo 3-5 minutos
-Não utilizar produtos à base de lixívia (hipoclorito puro ou produtos comerciais) para limpar e higienizar os espaços considerados nestas orientações, mesmo em baixas concentrações. Podem causar efeitos nocivos (por contato direto ou através dos vapores) em diversos materiais, como metais, substâncias orgânicas, pigmentos, etc.
-Não utilizar produtos à base de lixívia, mesmo em baixas concentrações, para limpar espaços sem bens móveis / imóveis, mas a eles adjacentes, por exemplo, instalações sanitárias ou escritórios, próximos de zonas sensíveis.
-Não utilizar produtos à base de peróxido de hidrogénio (água oxigenada), mesmo em baixas concentrações, para limpeza e higienização de espaços onde se conservem bens de interesse cultural. Podem desencadear processos de degradação. Não use misturas de diferentes produtos.
-Não utilizar sistemas de produção de ozono que, apesar de atuarem no COVID-19, possuem um forte poder oxidante, altamente prejudicial para muitos materiais, como metais, camadas pictóricas (especialmente se contiverem aglutinantes orgânicos), pigmentos, papel, couro, pergaminho, etc… Se os sistemas por utilização de ozono forem aplicados em ambientes sem património cultural, certifique-se de que não existe comunicação com os espaços onde se encontram.
-Evite procedimentos de higienização que usem radiação UV. Podem ser perigosos para a saúde e prejudiciais para os materiais orgânicos que compõem as obras, provocando processos de degradação rápidos e perigosos, como descoloração e fragilização estrutural.
-A execução dos procedimentos de higienização em espaços onde se conservam bens culturais deve evitar rigorosamente a nebulização de produtos e soluções alcoólicas, com pulverização de gotículas.
-Durante a manipulação de detergentes e soluções alcoólicas, siga as instruções relativas à segurança dos operadores, use o equipamento de proteção individual adequado (como luvas, máscaras e óculos), e respeite os tempos de contato recomendados.
-Para as superfícies de uso frequente (como tapetes, carpetes, sofás etc.), proceda à aspiração regular, adotando equipamentos com filtro HEPA 14 e sistemas a vapor, verificando se são compatíveis com a natureza do material.
1 www.phaseitalia.it/negozio/benzalconio-cloruro-tecnico-concentrato-al-50
2 www.puliveneta.com/public/files/scheda-tecnica-disinfettante-alcosan-vt10-750ml.pdf
-Em espaços com mobiliário ou outros equipamentos de uso comum, sem valor, e em áreas próximas de obras de arte, peças históricas e de interesse cultural, é altamente recomendável que, antes de prosseguir as operações de limpeza e desinfeção, essas obras sejam protegidas (com folhas de polietileno ou outro dispositivo eficaz) ou deslocadas para um espaço isolado e adequado.
-Caso seja necessário deslocar ou expor peças, para procissões ou outras funções litúrgicas, apenas poderão ser manuseadas com luvas e equipamento de proteção adequado. Se houver risco de contaminação, separe o objeto num ambiente isolado durante 10 dias sucessivos.
-Delimitar uma área em torno de balaustradas, pias de água benta e outros equipamentos que não sejam imprescindíveis, tendo em vista impedir o acesso aos fiéis e, assim, evitar repetidas operações de higienização, que devem ser realizadas por pessoal especializado.
A Direção de Museus e de Bens Culturais permanece à disposição para fornecer esclarecimentos úteis.
*Tradução portuguesa do documento divulgado pelos Museus do Vaticano – SANIFICAZIONE DI AMBIENTI MUSEALI, EDIFICI DI CULTO E AMBIENTI CON OPERE D’ARTE MOBILI E IMMOBILI.