
Nestes quase 70 dias de retiro forçado, em casa, é verdade, zanguei-me com Deus. Então não é que o meu Deus, que me abençoa, me deu a Terra de Éden, me faz passar por esta terrível pandemia. Eu não sei explicar porquê, por muitas voltas que dê à minha cabeça. Entretanto lembrei-me de duas figuras: Jacob e Job. Jacob porque enganou seu pai e o irmão, com a conivência da sua mãe, e recebeu uma bênção que não era para ele. Certo dia estava Jacob num acampamento sozinho e eis que lutou durante toda a noite com uma misteriosa personagem que lhe apareceu, e nem sequer lhe disse quem era (Génesis, capítulos 32 e 33). E aleijou-o de tal maneira no nervo ciático, que Jacob perdeu a capacidade da luta e perdeu. Mais adiante encontra seu irmão Esaú e fazem as pazes, prosseguindo cada qual o se caminho. Job é um livro encantador, a história que se nos conta é de um homem de bastantes posses, com filhos e filhas, casado, vivendo muito bem, diríamos hoje. Tudo o que tinha, deixou de ter, até a família. Os seus amigos bem lhe diziam porque acreditar em Deus, que tudo lhe tirou, mas Job, diríamos agora “fanático”, continuou a confiar em Deus. E esse Deus acabou por lhe devolver tudo o que lhe tinha tirado. Lembrei-me destas duas situações e disse: também eu estou a lutar contra Deus, porque não sei o que Ele quer, com esta pandemia.
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e lhe deu uma Terra, a luz do dia e da noite, e viu que isso “era bom”. Há cinco anos um senhor bispo de Roma e papa, chamado Francisco, clamou por toda a Terra chamando a Humanidade para o que se estava a passar. Uma economia que mata, uma agressão aos seres viventes, uma sociedade paupérrima onde uns gastam tudo, o que outras produzem, uma sociedade que esmaga a cultura do bem-viver. Passados estes anos voltou a afirmar o sinal de uma conversão ecológica com “sonhos”. Os poderes económicos acharam mal, mas os religiosos não ficaram atrás. “Laudato Si´” e “Querida Amazónia”, afinal não são bem para nós, que somos os eleitos e até conseguimos distinguir o homem e a mulher, ao serviço de Deus.
Zanguei-me com Deus e compreendi os sinais dos nossos tempos. É altura, que nós que detemos os poderes religiosos, deixemos a mensagem de Jesus entrar e fazer a reconciliação ecuménica, sustentando que os “poderes” devem ser “serviço”, mas não encapotado.