Conselho Presbiteral deita contas à vida e repensa a pastoral

Igreja Doméstica, pastoral digital e cuidado dos pobres

No passado dia 20 de maio, desde as 10h00 da manhã até às 13h00, reuniu, via eletrónica (pelo «zoom»), todo o conselho presbiteral da Diocese do Porto, sob a presidência do seu Bispo Diocesano. Depois da oração inicial, o Bispo da Diocese, Dom Manuel Linda, saudou todo o presbitério diocesano e agradeceu o empenho de todos os padres da Diocese, que procuraram novas formas de relação, de contacto e de proximidade, de serviço pastoral e de nova evangelização, em tempos de pandemia e de confinamento obrigatório, “não abandonando o barco”. Os Padres agradeceram a preocupação pastoral do seu Bispo e o cuidado que teve de os contactar pessoalmente, para exprimir a sua proximidade e preocupação peles seus colaboradores mais próximos. Dada as dificuldades das paróquias, privadas de uma boa parte das suas receitas habituais, com a suspensão temporárias das missas com a participação do Povo, para evitar o contágio da COViD-19, Dom Manuel autorizou que o primeiro ofertório consignado e destinado ao Apostolado dos Leigos revertesse para a vida paroquial. Da agenda deste Conselho constavam dois pontos: a apresentação e discussão das contas da Diocese relativas ao ano de 2019 e os desafios pastorais na sequência da presente pandemia da COVID-19.

Contas à moda do Porto

Coube ao Ecónomo diocesano, Pe. Samuel Guedes, em colaboração com os membros da sua Equipa e do Conselho Económico Diocesano, fazer a apresentação das Contas da Diocese, relativas ao ano económico de 2019, num gesto de total transparência, que muito foi louvado e apreciado. O Ecónomo Diocesano explicou com precisão todas as rubricas de despesas e receitas e esclareceu os presentes, sobre o estado da vida económica da Diocese, de que se destacam aqui algumas informações sumárias mais relevantes:

O ano de 2019 foi para a Diocese do Porto um ano de consolidação das suas contas a diversos níveis e nos diferentes setores em que está presente: dos seminários, aos colégios, aos secretariados diocesanos, à gestão do património, entre outros. Desde logo, importa referir o grande esforço de consolidação financeira que foi feito ao nível das contas individuais da Diocese. Foram alienados alguns imóveis que permitiram, antes do final do ano, amortizar a totalidade dos financiamentos em aberto e ainda fechar o exercício com um resultado líquido positivo. Com a amortização da totalidade do endividamento bancário permite-se um equilíbrio do balanço e evita-se o pagamento de juros que tinham ainda um peso relevante nas contas.          De salientar que, neste exercício, foram ainda efetuadas obras de recuperação/melhoramento do edifício do Paço e outros imóveis.

Relativamente ao património imobiliário, foi finalizada a sua inventariação detalhada em ordem à maior rentabilidade do mesmo. Está em curso a sua recuperação e procura de investimento ao mais alto nível.

Em relação ao setor dos colégios diocesanos, este continua a ser o maior desafio, para que se consiga a sustentabilidade de cada um deles. Todos apresentaram melhorias significativas face ao ano anterior: os Colégios de São Gonçalo e de Ermesinde são os que apresentam maior preocupação pelo valor elevado da rúbrica de custos com pessoal, face às receitas atuais. Para estes, foram apresentados os Business Plan 2020-2023, prevendo-se que em 2022 se concretize o turnaround das contas de Amarante e Ermesinde apresentando resultados líquidos positivos, cumprindo-se os pressupostos considerados. Para que isso seja possível, várias iniciativas e medidas têm vindo a ser tomadas, quer do ponto vista pedagógico, oferta de cursos, quer do ponto vista financeiro (controlo de custos e investimento na melhoria contínua das instalações físicas e recursos materiais). No caso do Colégio de Gaia, os seus resultados trazem-nos alguma tranquilidade. Conseguiu já em 2019 apresentar um resultado líquido positivo.

No que respeita ao Seminário de Vilar – Casa Diocesana – este tem mantido nestes últimos anos as contas consolidadas. No ano de 2019 apresentou um significativo investimento em obras de recuperação, que se prolongará por 2020, face aos 25 anos que o imóvel tem. Há ainda um grande investimento em energia renovável, com a montagem de uma grande área de painéis fotovoltaicos, porventura a maior da cidade do Porto.

O Ecónomo Diocesano revelou o estado económico das entidades sob a alçada da Diocese: Ecclesialis, Fundação Voz Portucalense e Livraria do SEDEC. Todas apresentaram contas equilibradas no seu exercício. Sobre a Quinta do Paiço (a que nos ligam laços mais fortes), foi dito que está em curso um estudo, para eventual reestruturação, em ordem à sua capacitação para produção e provisão de bens essenciais para a Diocese.

Relativamente à Quinta do Paraíso, está a ser ponderada a sua venda, tendo em conta o prejuízo que está a dar. Para concluir, uma curiosidade: foram divulgados os números de gastos com o pessoal da totalidade das entidades sob a responsabilidade da Diocese: representam um total de custos na ordem dos 12 milhões de Euros.

Para uma cultura de lealdade de transparência mútuas

Esta apresentação das contas, esta partilha da situação económico-financeira e dos projetos (em mente e em curso), por parte da Diocese do Porto estimulará, por certo, igual comportamento por parte das paróquias e de outros organismos diocesanos e um maior sentido de corresponsabilidade e de comunhão de bens, na vida da Igreja Diocesana. Dom Manuel agradeceu o trabalho do Ecónomo, da sua Equipa, dotada de pessoas muito qualificadas, bem como o contributo do Conselho Económico Diocesano e desafiou-nos a todos a viver uma cultura de lealdade e de transparência mútuas.

Três prioridades para 2020/2021: Igreja Doméstica, pastoral digital e atenção aos pobres

A segunda parte da reunião do Conselho Presbiteral foi dedicada à partilha de experiências, dificuldades e expetativas quanto à Pastoral em tempos de pandemia e o cuidadoso regresso às celebrações com a participação do Povo.

Foram partilhadas experiências diversificadas neste âmbito. Referidas, por alguns, foram as dificuldades, sobretudo de ordem económica, associadas à ausência de celebrações com a participação dos fiéis, mas também foi relevada por outros a estima e a atenção do povo de Deus para com os seus párocos e as suas paróquias, encontrando reciprocamente outras formas de presença, de proximidade e mesmo de contribuição para a sustentação do clero e da vida paroquial.

Emergências pastorais

A crise pandémica acelerou processos de mudança que estavam em curso e fez emergir debilidades e potencialidades pastorais já latentes na vida das nossas comunidades. Ficou claro que é preciso repensar as prioridades pastorais e as formas e redes de ligação entre os cristãos no interior das nossas comunidades e destas com o meio envolvente.

O “regresso a casa”, o estudo em casa, o teletrabalho, a catequese em casa, propiciaram o reforço da família e a descoberta desta como Igreja doméstica, e ativaram dons e carismas do sacerdócio batismal de todos os fiéis, que precisa agora de ser mais valorizado e capacitado, para uma Igreja cada mais discipular. Mas colocam em risco o sentido de pertença e a participação na vida sacramental da Igreja. O sinal das “Igrejas vazias” aponta, todavia, para a necessidade de levar em frente o projeto pastoral sonhado pelo Papa Francisco de uma “Igreja em saída”, verdadeiro “hospital de campanha”, potenciando o papel e os ministérios dos leigos e cuidando muito mais e melhor da pastoral digital.

Estamos todos onlife

As experiências que floresceram neste campo, sobretudo com a transmissão direta das celebrações pela internet e através das redes sociais, a realização de reuniões de formação e de encontros por via eletrónica, exigem uma ponderada reflexão, que salvaguarde a dimensão comunitária da vida cristã e evite a sua virtualização, mesmo se hoje parece inadequada a distinção rígida entre virtual e real, pois o ambiente digital coloca-nos a todos “onlife”.

A agenda digital estará certamente presente no próximo plano diocesano de pastoral. Foram pedidas ações de formação, para o clero e para os leigos, não apenas de ordem técnica, mas de tipo litúrgico e pastoral para enfrentar, com discernimento pastoral e qualidade de produção, os desafios da pastoral digital, com as suas novas ferramentas e linguagens.

A valorização da família como Igreja doméstica, a emergência de uma pastoral digital e a necessidade de uma pastoral sociocaritativa capaz de responder com amor criativo à pandemia da pobreza, para que ninguém fique para trás, são os principais desafios que a Diocese do Porto deverá enfrentar, para não cair na tentação de voltar “ao antigamente”, pois estamos em tempos novos, que exigem respostas novas. Foi destacado que é preciso mais tempo e mais calma para refletir, nestes tempos de pandemia, em ordem a uma ação pastoral mais assertiva e atenta aos desafios que o Espírito faz à Igreja na hora presente.

padre Amaro Gonçalo, secretário do Conselho Presbiteral