Covid-19. A família em tempo de pandemia: mudanças e desafios

O casal Pedro e Vera e a sua filha Carolina estão a viver intensamente a experiência da vida em tempo de pandemia. Publicamos o seu testemunho na inspiração da Vera. Em discurso direto respondem a quais foram as mudanças na vida da família vivendo aí a presença de Deus.

O que mudou na nossa família neste tempo, pensamos que foi a própria família. O corre, corre diário estava a permitir que, apesar de vivermos na mesma casa, apenas acumulávamos tarefas: era levar a filha às atividades, cumprir os horários dos nossos compromissos, resolver as tarefas que nos eram apresentadas, parávamos de vez em quando para estarmos com os amigos e familiares (se é que era parar, pois a cabeça nem sempre estava nesse encontro com o outro), os dias passavam a correr e no final nem percebíamos que estávamos tão pobres. 

Neste tempo, três grandes desafios apareceram: o de ser professora e depois das primeiras semanas de aulas nas quais passei pelo desespero, pelo choro, por me sentir incompetente, por sentir saudade não tanto de locais mas de trabalho verdadeiro em conjunto onde todos são um e ninguém é deixado para trás…  a Carol nas aulas online e com um plano de trabalho rigoroso, e o Pedro a receber a notícia que a empresa ia entrar em layoff… O que fazer?… como nos organizarmos?… Confesso que desesperei… desliguei-me por completo da fé, da esperança, de que tudo poderia ser diferente. Nem parecia ser cristã, nem parecia que era a pessoa que acredita que tudo poderá ser diferente porque Cristo é Vida. 

Penso que é aí que entra o Pedro com uma serenidade, com uma calma e com uma vontade de continuarmos a estar presentes na liturgia. O Pedro, não praticante, no entanto, dominicalmente fazia questão de à hora da Eucaristia dizer que tínhamos que estar os três em frente da televisão para celebrar o Mistério da Fé. Era costume celebrarmos intensamente o Tríduo Pascal, mas este ano, foi diferente… Ao desafio lançado pelo Sr. Pe. Artur de comprarmos um Pão ázimo, ajudando assim a Cantina Social da Paróquia, e na celebração da Ceia do Senhor, na quinta feira santa, repartirmos por todos, foi ele, o Pedro, quem disse não podemos esquecer de o comprar. Antes de iniciarmos cada refeição, a oração foi uma presença. Foi ele que recebendo o desafio da colocação da Cruz na Porta na Sexta Feira Santa, resolveu pegar em madeira e construir a Cruz que hoje está no nosso quarto. Enfeitamos a cruz com flores do campo que ele foi apanhar no campo baldio, perto de casa. Era costume celebrarmos a Sexta Feira Santa com a Via Sacra, não foi possível este ano, ficou o vazio, o silêncio, faltou o encontro com o outro e vivemos num “silêncio interior”, sentindo-nos pequeninos, frágeis, parando verdadeiramente o tempo. O Sábado foi vivido nas limpezas e na preparação da Cruz para viver a Ressurreição. O Dia de Páscoa fomos à Eucaristia como normalmente na sala, e tivemos a bênção da Cruz de Cristo Ressuscitado que passou por nossa casa, abençoando-nos. 

Como vivemos a presença de Deus na nossa família neste tempo? Posso dizer que Deus entrou na nossa Família de uma forma intensa e presente, mas não da forma que supostamente seria normal – eu dizendo vamos, ou temos de fazer isto ou aquilo – mas através do Pedro, que viveu e sentiu mais presente Deus e que nos permitiu não desistir, de continuar a acreditar que o amanhã será ainda mais vivido e mais sentido, vivendo a verdadeira Páscoa, em família e em comunidade, porque não estamos sós. Hoje rezamos juntos, tendo a oportunidade de … Recomeçar!