
Por António José da Silva
El Salvador é um pequeno país da América Central, conhecido sobretudo pela violência que tem atingido a vida do seu povo ao longo do tempo. Nos anos noventa do século passado, essa violência esteve ligada particularmente à política, tendo-se traduzido mesmo numa guerra civil que se prolongou por vários anos, fazendo algumas dezenas de milhares de mortos. A luta fratricida que ensanguentou o país travou-se entre grupos de esquerda ligados à Frente de Libertação Nacional Farabundo Marti, e grupos da direita ou de extrema direita, reunidos à volta da ARENA, ou Aliança para a Renovação Nacional.
A guerra civil terminou com a vitória temporária da ARENA, mas não sem antes o país ter motivado um grande interesse mediático internacional com o assassinato, em plena celebração eucarística, do já então famoso bispo Óscar Romero que a Igreja Católica elevou rapidamente à honra dos altares, já depois de o povo o considerar como santo. O país parece ter conhecido, desde então, uma certa acalmia política que se traduziu mesmo em algum desenvolvimento económico e social Este durou pelo menos até ao aparecimento em força das famosas “maras”, grupos que vieram recuperar e trazer para as ruas a velha tradição da violência salvadorenha. Estas e outras circunstâncias criaram condições para a emergência dum qualquer político populista que prometesse ao povo uma luta séria contra esses grupos e sobretudo contra a corrupção.
E esse político apareceu na figura dum homem que nem tinha nome latino-americano, porque se chamava Nayib Bukele, de origem muçulmana, naturalmente. Isso não o impediu, no entanto, de fazer uma carreira política de sucesso e de chegar mesmo à presidência da República de El Salvador, em 2019, já depois de ter sido presidente da Câmara da capital do país. Por ser muito jovem, fotogénico, e capaz de atitudes invulgares, como foi aquela de mandar o exército invadir a sede do Senado, vangloriando-se de ser um político contra o sistema, tornou-se rapidamente muito popular para uma grande parte dos salvadorenhos com quem passou a contactar directamente através das redes sociais, o que não é propriamente uma novidade entre os políticos populistas. E é nas redes sociais que, em compensação, os seus apoiantes manifestam geralmente um grande entusiasmo face a um governante que ameaça utilizar, cada vez mais, uma força letal contra a violência das “maras”. E quem consulta as redes sociais dá-se conta de como o povo apoia essas medidas de força, aparentemente sem se preocupar muito em saber se elas violam ou não os direitos humanos. Para já, é a vitória do populismo…