Por João Alves Dias
Neste «Mês de Maria», lembro a notícia “Santuário do Monte da Virgem renovado para acolher 2500 pessoas”. (JN, 20/12/2019)
O projeto dum novo templo fez-me recordar um opúsculo de 27 de janeiro de 1943, sobre o Monte da Virgem que passo a citar.
“O Monte da Virgem é um lugar de maravilha, não tanto pela amplidão e variedade do horizonte que faz vibrar as almas de quem o visita, como pela abundância de graças espirituais e temporais que Nossa Senhora vem repartindo aos que oram com fé e amor.”
Apresenta uma breve resenha da sua tão gloriosa quão perturbada história.
“Foi feita a sua escolha no dia 8 de dezembro de 1904, quando a fortaleza da Serra do Pilar dava a salva de estilo em honra da Padroeira. No primeiro dia de Janeiro de 1905, às três horas da tarde, foi mudado o nome de Monte Grande em Monte da Virgem, em atenção à cidade que lhe fica mesmo em frente e se ufana, com razão, de ser a cidade da Virgem.
Dias depois desta pequena mas fervorosa peregrinação, principiou a esboçar-se alguma contestação que ganhou vulto após a bênção da primeira pedra do monumento em 25 de junho de 1905. Em verdade esta peregrinação foi um assombro. Assistiram os Venerandos Prelados: D. António Barroso; D. Teotónio, Bispo de Meliapor; Cabido da Sé do Porto; Governador Civil; Câmara de Gaia; Câmara do Porto e mais de 50 000 peregrinos, vindos até de Lisboa.”
A respeito do terreno, informa
“Em 11 de Setembro deste mesmo ano, foi vendido ao Prelado da Diocese do Porto todo o terreno na posse dos fundadores. Desejavam eles que o Monte fosse um lugar todo consagrado à Santíssima Virgem, no qual os católicos do Porto, de Gaia e cercanias se reunissem coletivamente, ao menos uma vez por ano, em homenagem bem sentida e vibrante, toda impregnada de fé e amor à Celeste Padroeira”.
Depois de descrever a sanha anticlerical -“Tudo eram comícios contra o Monte da Virgem, artigos espumantes de raiva na imprensa e folhas de combate pelas ruas e por debaixo das portas” – acrescenta: “Estes ataques, porém, não conseguiram esmorecer as manifestações em honra da Santíssima Virgem. Animava-as o Senhor D. António Barroso com a sua palavra de missionário e o seu exemplo de santo.”
Mas, “com o advento da República foi mandada fechar pelo governo a pobre capelazinha até que, em 1914, o governador civil aprovou os estatutos em que os 20 indivíduos da confraria se declaravam católicos, e eram em verdade.”
Termina com um pedido. ”A Virgem Imaculada vele sempre pelo seu Monte e os Senhores Bispos da Diocese descansem nele os seus olhares”.
Deixo um voto. Que o novo projeto contemple a história que anima este local privilegiado onde a beleza e o sagrado se dão as mãos num apelo à transcendência.
E um convite. Logo que possível, para desanuviar, subamos o monte. Respiremos o ar puro e “descansemos nele os nossos olhares”.