
Por M. Correia Fernandes
Nestes dias de continuidade pandémica, sem que antes se tenha falado muito disso, celebrou-se o Dia da Língua Portuguesa (em 5 de maio).
Este dia foi aprovado por unanimidade em 2019 pela UNESCO (a organismo das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura, acrónimo segundo as inicias inglesas). A aprovação deste dia foi salientada por António Sampaio da Nóvoa, Embaixador de Portugal junto daquela organização, como “um passo conducente a que a língua portuguesa venha a tornar-se língua de trabalho na Organização das Nações Unidas, já que atualmente as línguas de trabalho desta organização mundial são o inglês, o francês, o chinês, o espanhol, o árabe e o russo. Tudo línguas de gente grande, embora falte o alemão. Segundo o Presidente do Instituto Camões, Luís Faro Ramos, pretende-se “a afirmação do Português como uma língua de comunicação internacional e como uma língua plural, de pontes e de encontros”.
Este ano na sede da UNESCO estavam previstos eventos valorizando a literatura, a música, as artes e outras atividades culturais em língua portuguesa, sendo sido também salientada a importância do jornalismo na sua difusão. A proposta fora apresentada ao conselho executivo pelos países lusófonos, que salientaram o facto de a língua portuguesa ser a mais falada do hemisfério sul e ter sido a primeira língua europeia transportada na primeira vaga de globalização (da Europa para o Oriente, já que para ocidente foi o espanhol), nos anos dos descobrimentos (para o universo europeu, claro, porque a Índia, a Indonésia e a China eram universos do maior relevo mundial), deixando a sua marca em muitas palavras e expressões em outras línguas no mundo.
Por esta ocasião foi também lançado um concurso literário destinada a estudantes, designado “Contos do Dia Mundial da Língua Portuguesa”, numa iniciativa do Instituto Camões, da Porto Editora e do Plano Nacional de Leitura, pelo qual se procura desafiar os alunos de português a escreverem um conto inédito, que poderá ser objeto de publicação posterior. Nesse dia também algumas das nossas rádios deram relevo à música de expressão portuguesa, facto de que esqueceram no dia seguinte, onde a anglo-americana assumiu o seu lugar de predomínio alegremente assumido.
Lembra-se também que o Português é língua oficial dos nove países-membros da CPLP (Comunidade dos Países de Língua), que são Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) e ainda Macau, tendo sido admitida também em 2014 a Guiné Equatorial.
Só é pena que nas linguagens modernas ande a língua muito maltratada, sobretudo pela inclusão de estrangeirismos e muitos solecismos da própria linguagem portuguesa, apesar das rubricas “cuiado com a língua” ou “Bom português”. Basta pensarmos na profusão de palavreado inglês que floresceu, como as plantas daninhas nos relvados das nossas casas ou nos seus espaços circundantes nos tempos da pandemia, já que elas não tiveram isolamento: Já temos o joker, mas regressa big brother, o on line, a power box , os reality show, facebook, bem como a Web therapy, o Got Talent Portugal, o Fama show, o Voice Portugal e similares. Tudo isto nos é fornecido pelos nossos inestimáveis canais de televisão, destinados à educação do povo português. Não falemos dos que nos chegam pelas vias digitais, porque aí nos afogamos.
Confrontamo-nos também com as maleitas introduzidas pelo Acordo Ortográfico: onde se devia fomentar a pronúncia de consoantes que devem identificar vocábulos relacionados, estimulando a pronúncia em casos com sector, característica, pacto, óptico, acto (como facto).
O setor (escrito) lembra sempre o tratamento dos alunos aos professores que era o s’tor; a grafia ótico constitui sempre uma confusão entre o óptico referente aos olhos: curioso é que uma revista que divulgava “empresas de ótica” ao lado instalava publicidade de “multOpticas”; para que o nervo óptico da visão se confunda com o elemento ótico, de ouvido, que se encontra por exemplo em otorrino: ótico vem do genitivo grego otós, e óptico deriva do adjetivo optikós, da forma verbal opsomai, que significa ver.
Eis pois como teria sido útil e necessária uma pedagogia da pronúncia do português (pedagogia inexistente no espírito e letra do acordo ortográfico), conduzida através de um Vocabulário oficial, que orientaria para a pronúncia destas palavras como sector, óptico, cacacterística, facto, levando a que a grafia não confundisse os referentes diversos, orientando para a devida pronúncia. A pronúncia também se deve educar.
Também seria útil à nossa portuguesa língua que fosse ensinado aos senhores ministros, deputados, jornalistas, comentadores desportivos e divulgadores do coronavírus da capital que não pronunciassem púrque (em vez de porque), priúdo em vez de período (com acento no i) ou xesso, ou xessivo em vez de excesso ou excessivo.
Talvez não seja pedir muito.