
Por António José da Silva
O populismo é um vírus que, nos últimos anos, vem marcando fortemente a vida política de muitos países. Embora o conceito de populismo não seja unívoco, pode dizer-se que ele não designa propriamente uma ideologia, de esquerda ou de direita, mas sim um estilo de governação baseado numa resposta simplista para os problemas pontuais e imediatas do povo. Ou, pelo menos, de uma parte do povo com o qual o líder faz questão de se identificar. De qualquer modo, se nem sempre é fácil definir o populismo, não parece muito difícil identificar os políticos a que chamamos populistas.
Embora oriundos ou próximos de ideologias diferentes, os políticos populistas apresentam geralmente alguns traços comuns. Cultivam um patriotismo a toda a prova, mas confundem muitas vezes esta virtude com nacionalismo doentio e xenófobo, descobrindo sempre inimigos de estimação a quem podem responsabilizar pelas dificuldades que atingem o seu povo que, assim, pode ser facilmente mobilizado contra um inimigo comum. Finalmente, tendem a fazer do exercício do poder uma missão de tipo mais ou menos messiânico com que pensam encobrir os seus tiques ditatoriais. Este vírus está espalhado por muitos países e regiões do mundo, mas podemos registar alguns dos seus exemplares mais notórios nos tempos que correm, acreditando que a grande ameaça que esse populismo enfrenta advém dos seus próprios intérpretes, alguns dos quais trudo parecem fazer para o desacreditar.
Começamos naturalmente por Donald Trump, o presidente daquela que á ainda a mais forte das potências mundiais. Já é cansativo recordar aqui o eco profundamente negativo da maioria das suas intervenções políticas, e dizemos profundamente negativo, quer no conteúdo quer na forma de que se revestem. De qualquer modo, a última dessas intervenções, relativa à utilização de desinfectantes no combate à Covid terá excedido tudo o que seria desculpável em quem foi investido no exercício das suas funções.
Ainda no continente americano, temos o caso de Jair Bolsonaro, o populista que é presidente do Brasil. Depois das suas declarações iniciais e polémicas sobre esta pandemia, ele veio agora agitar a política brasileira com intervenções públicas que se situam na área da aplicação da justiça, isto em casos que envolvem os seus próprios filhos. Para todos os que defendiam e defendem a sua incapacidade legal para continuar na presidência do país, este foi o melhor argumento com que poderiam sonhar na campanha pela sua demissão. Trata.se de um argumento que o próprio Bolsonaro acabou por lhes oferecer, dando assim razão àqueles que pensam que os grandes golpes contra o populismo político vêm precisamente de alguns dos seus intérpretes mais conhecidos….