Relembrando D. António Ferreira Gomes (1906-1989)

Por M. Correia Fernandes

No dia 13 de abril deste ano de pandemia, cumpriram-se 31 anos sobre a data do falecimento de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto de 1952 a 1982, um longo bispado de 30 anos, 10 dos quais no exílio, tendo sido neste período Administrador Apostólico da Diocese D. Florentino de Andrade e Silva (1959-1969). Faleceu na Quinta da Mão Poderosa, do Colégio Diocesano do Ermesinde, onde se acolheu entre 1982 e a data do seu falecimento.

Depois do seu pontificado episcopal já a Diocese contou com 5 Bispos (D. Júlio Tavares Rebimbas (1982-2002), D. Armindo Lopes Coelho (2002-2006), D. Manuel Clemente (2007-2013), D. António Francisco dos Santos (2014-2017) e D. Manuel Linda (desde 2018), e com os Administradores Apostólicos D. João Miranda Teixeira (nov. 2006-mar. 2007), D. Pio Alves de Sousa (jul.2013-abr.2014) e D. António Bessa Taipa (set.2017 a abr.2018).

Ajude-nos esta breve cronologia a recordar estas figuras de Bispos que serviram (e ainda servem) a Diocese do Porto, cada um no tempo e na missão que lhes foi confiada para responder ao serviço pastoral da nossa Diocese de mais de dois milhões de habitantes, expressando o reconhecimento de toda a comunidade cristã.

A propósito desta data de 13 de abril de 1989, publicou o Arquivo Distrital do Porto uma nota informativa que aqui transcrevemos, como memória e reverência à figura do insigne Prelado.

“D. ANTÓNIO FERREIRA GOMES, antigo BISPO DO PORTO, faleceu a 13 DE ABRIL de 1989, em [Ermesinde] Valongo, distrito do Porto.

D. António foi bispo das dioceses de Portalegre (1948-1952) e do Porto (1952-1982), distinguindo-se pela atenção dada à miséria social do povo português, pela crítica do corporativismo do Estado e pela exigência de livre expressão do pensamento e da ação política.

No exercício do magistério episcopal e em defesa da doutrina social da Igreja Católica, dirigiu, em 1958, uma carta ao então chefe do Governo, António de Oliveira Salazar, na qual criticava a situação política, social e religiosa da nação. Devido à inconfidência de um amigo de D. António e de um ministro de Salazar, o texto chega ao conhecimento público, gerando uma grande polémica nos jornais. Como consequência, foi forçado ao exílio em 1959.

O exílio durou 10 anos, passados em Espanha (Vigo, Santiago de Compostela, Valência, Ciudad Rodrigo e Salamanca), em França (Lourdes) e em Itália. Regressou a Portugal em 1969, retomando o governo da sua diocese, funções que desempenhou até 2 de maio de 1982.

Foi agraciado a 22 de abril de 1980 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e a 20 de abril de 2017, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. A 20 de maio de 1982, foi homenageado na Assembleia da República.

D. António deixou uma importante obra publicada, que inclui: as “Homilias de Paz (1970-1982)”, “Pareceu ao Espírito Santo … E a nós?”, “Reconciliação. Caminhos para a paz.”, “Escritos pastorais de Portalegre (1948-1952)” e “Igreja na vida pública: catolicismo português e historicidade”, entre outras…

Natural de Milhundos, Penafiel, onde nasceu a 10 de maio de 1906, é possível consultar o averbamento do seu óbito no registo do seu batismo, que hoje partilhamos e está disponível em https://pesquisa.adporto.arquivos.pt/viewer?id=1503873”.

Além das obras referenciadas pelo Arquivo Distrital do Porto, poderiam acrescentar-se da autoria de D. António Ferreira Gomes, as “Cartas ao Papa – Sobre alguns problemas do nosso tempo eclesial” (1987); “Ser Bispo Conciliar no Exílio (1959-1969), publicado em 2007; “Provas: a outra face da situação e dos factos do caso do Bispo do Porto” (2008); “Para uma civilização de amor e liberdade. Homilias Pascais, 1974-1982”, publicado em 2008; “Igreja na vida pública: Catolicismo português e historicidade” (publicado em 2018). Em 18 de outubro de 2019 a Fundação Spes recordou através de uma edição e de sessão solene a “Pró Memória (Carta a Salazar”.

Lembramos também as publicações mais importantes e recentes sobre a ação e o pensamento do Bispo: “Reconciliação, caminho para a paz”, vários autores (2000); “A Igreja e o Estado Novo na obra de D. António Ferreira Gomes”, por Manuel de Pinho Ferreira (2004), “Andragogia Política em D. António Ferreira Gomes”, de Manuel da Silva Rodrigues Linda (2000), tese de doutoramento do atual Bispo do Porto, estudo minucioso de uma obra de cultura ética da ação política; “Ser cristão na sociedade, aqui e no futuro”, (Actas do Congresso Internacional no centenário do nascimento de D. António Ferreira Gomes em 8-10 de maio de 2006); e o recente “Pensamento e ação pastoral de D. António Ferreira Gomes (1969-1982 – Receção pastoral do Concílio Vaticano II na Diocese do Porto), por Emanuel António Brandão de Sousa (tese de doutoramento, 2018).

Todas estas publicações foram realizadas e se encontram disponíveis na Fundação Spes, criada por D. António Ferreira Gomes.