Editorial: Em tempo de epidemia, méritos da imprensa regional

Por M. Correia Fernandes

O Presidente da República, pessoa sensível ao universo da informação e da comunicação social, em que trabalhou, tanto na escrita como na audiovisual, assumiu a iniciativa de um encontro com representantes dos órgãos da chamada imprensa regional, por contraposição à de âmbito nacional. Na verdade a imprensa regional é parente pobre no universo da comunicação social, e parece que o Presidente tem sido sensível a esse dado, bem como às especiais dificuldades de que padece no contexto da atual pandemia.

A imprensa regional desempenha um papel muito importante no panorama da informação. Recordemos algumas das suas mais relevantes características:

  1. A imprensa regional é próxima das mais diversas comunidades em todo o país. São as realidades locais, os seus movimentos sociais, os seus hábitos e dimensões culturais, as suas festas, as suas iniciativas de desenvolvimento, as suas escolas e coletividades, as múltiplas realidades a que a imprensa regional está atenta;
  2. A imprensa regional constitui um instrumento importante de educação e valorização da literacia das populações, através da presença nos contextos familiares e sociais;
  3. A imprensa regional, sem desprezar os acontecimentos de alcance nacional e internacional, os movimentos de um mundo globalizado, foca especialmente as iniciativas mais relevantes em cada localidade, concelho e região, desempenhando assim uma função de regionalização efetiva, sem poderes nem ambições políticas;
  4. A imprensa regional está especialmente atenta às autarquias, aos movimentos de cidadãos, às organizações culturais, às iniciativas de valorização da população. A imprensa regional entra na casa das famílias, porque a maioria ou a totalidade das suas edições se faz por assinatura, desenvolvendo assim laços antigos de afetos e de proximidade, num diálogo do presente com o passado das populações e dos valores humanos que vivem e edificam.
  5. A imprensa regional constitui um notável instrumento de defesa e ação da língua portuguesa, porque geralmente está bem escrita, desenvolvendo competências linguísticas e literárias dos seus próprios autores.

Por tudo isto tem especial sentido que o Presidente se inquiete com as dificuldades que esta situação pandémica fez recair sobre este sector edificador da vida comunitária. Com especiais dificuldades, ausência de publicidade, mesmo a institucional que legalmente lhe deve ser atribuída, tem-se verificado até o encerramento de algumas publicações. A sua missão social é acentuada pelo próprio Papa Francisco, que enaltece o papel dos pequenos jornais e revistas como presença junto das pessoas e animação das comunidades.

Por isso fazemos nossas as palavras do Presidente da direção da AIC (Associação da Imprensa de Inspiração Cristã), juntamente com outros representantes de associações de imprensa: “Quando um jornal fecha as portas num concelho, a democracia sai prejudicada assim como a comunidade que serve. Nunca foi tão importante uma imprensa regional ativa, com qualidade, que a temos, que sempre assumiu as suas responsabilidades; há bons projetos regionais e fechando a porta à democracia, acabam os jornalistas por não ter acesso ao mercado de trabalho”. A imprensa regional desempenha assim um papel de promoção da cidadania e da cultura.

Por isso é de saudar a iniciativa do Presidente em receber e inteirar-se dos problemas pelos quais esta imprensa, como a outra, aliás, mas com menos meios de resistência, atravessa. Voz Portucalense tem vindo a realizar um esforço de presença especial neste momento, continuando a entrar na casa dos assinantes. Apelamos por isso a que as comunidades cristãs valorizem a divulguem os seus conteúdos, que temos vindo a procurar alargar e aprofundar através de leituras oportunas das iniciativas e acontecimentos.

Importante é que os responsáveis dos ministérios atendam ao apelo do Presidente, e procuram criar soluções justas e equitativas que ajudem o sector a sobreviver. Para valorização das populações e do país, em complemento crítico e construtivo aos grandes meios.