Covid-19: A China, os Estados Unidos, e a pandemia

Era de prever que a pandemia do Covid 19 acabasse por ter ressonâncias políticas. Como acontece sempre em situações de tragédia, é fácil apontar responsabilidades e fazer acusações: que houve falhas nas previsões, que se cometeram erros de avaliação, que não se agiu atempadamente. Em Portugal, temos o exemplo dos incêndios no verão de 2017, embora se deva dizer que as reacções a esse drama chegam para justificar a afirmação de que somos, geralmente, um país de brandos costumes, ou pelo menos, um país de brandas recções.

A disseminação geográfica do vírus que está a mudar o mundo não podia deixar de ter ressonâncias políticas, sobretudo a partir do momento em que atingiu alguns países cujos dirigentes políticos não conseguiram dar mostras da necessária contenção, perante a dimensão galopante do drama que atingiu a humanidade. Falamos particularmente, embora em sentido contrário, de dois países, cujas relações não têm sido muito amistosas nos últimos tempos: a China e os Estados Unidos. É verdade que, neste caso, a falta de contenção apenas diz respeito ao presidente norte-americano, isto para não fugir à regra. Já os chineses optaram por uma política de aproveitamento inteligente da tragédia que teve origem no seu território, mas que foi combatida com tal eficácia que redundou numa vitória política para o regime. Sobretudo a partir do momento em que Pequim assumiu o papel de grande distribuidor de material sanitário que fazia falta em muitos países. Mas a verdade é que os chineses estão a tirar proveito político desta pandemia.

Acontece isto numa altura em que a China assumiu já, sem complexos, o papel de superpotência. Pode mesmo afirmar-se que o regime de Pequim veio ocupar o lugar da Rússia como grande rival e principal opositor da política americana no mundo. Basta recordar as várias e recentes crises entre os dois países, nomeadamente as que se relacionavam com o comércio internacional, não se podendo dizer, com muita certeza, quem saiu vencedor destas contendas. Tudo indica, no entanto, que não terá sido a China a perder

O mesmo se pode afirmar relativamente ã crise mundial provocada pela pandemia do Cofid 19, bastando para isso comparar as estatísticas referentes aos seus efeitos na China e nos Estados Unidos. Apesar das repetidas afirmações optimistas de Donald Trump, os números referentes a este país são impressionantes. São números próprios de uma verdadeira guerra que o estado mais poderoso do mundo ainda não dá sinais de vencer rapidamente. Uma situação bem diferente da China, apesar de todas as dúvidas que o alegado êxito de Pequim ainda levanta…