
Faleceu no domingo 19 de abril, Domingo da Misericórdia, em Orléans, França, José Coutinho da Silva, cidadão português e ligado à Diocese do Porto, cidade de onde era natural, vítima de doença prolongada. Completara 74 anos em 14 de abril deste ano.
Formado no Seminário do Porto, onde concluiu o Curso de Teologia no ano de 1970, naqueles tempos de controvérsia e interrogações, deslocou-se para França, onde veio a casar, e formar a sua família residindo na cidade de Orléans, a cerca de 120 quilómetros do centro da Paris.
Naquela cidade se tornou colaborador da comunidade cristã, portuguesa e francesa, tendo desenvolvido trabalho pastoral reconhecido em toda a comunidade. Recordo a sua colaboração com o Bispo de Orléans, Monsenhor Riobé, tendo sido indicado a este Bispo por D. António Ferreira Gomes, a quem ele pedira apoio para ajudar a pastoral das comunidades portuguesas na sua diocese.
Por seu intermédio, este Bispo concedeu entrevista à Voz Portucalense, que eu próprio acolhi, em que falava dos problemas e projetos da sua diocese e da Igreja em França e na Europa. Ligou-se e orientou desde cedo sobretudo os movimentos dos trabalhadores e da “Mission Ouvrière” de que foi colaborador e impulsionador.
O seu trabalho pastoral foi de tal modo reconhecido pela própria Igreja francesa, que lhe solicitou o cargo de diretor do Serviço da Pastoral das Migrações da Conferência Episcopal Francesa, quer desempenhou dedicadamente ao longo de muitos anos. Residindo em Orléans, deslocava-se diariamente de comboio à capital, para ali exercer o seu cargo e as múltiplas tarefas que ele envolvia.
No exercício da sua missão, na pastoral social e na pastoral das migrações, escreveu vária crónicas que foram publicadas na Voz Portucalense, ao longo dos anos.
Há uma dimensão sua que importa aqui pessoalmente recordar: a capacidade de um generoso acolhimento aos amigos que por ali passavam, que recebia como gente da sua família, debatendo e repensando os problemas e os dramas dos movimentos da pastoral operária em que se integrava e da pastoral diocesana em que colaborava.
Dignos de registo especial são os testemunhos de D. Januário Torgal Ferreira que, tendo acompanhado a sua ação em França, à Agência Ecclesia declarou ter sido “a pessoa mais sensível e capaz” que encontrou no mundo da emigração: “Foi um português que honrou a Igreja em Portugal e a humanidade”.
Também o P. Lino Maia, que foi seu colega de Curso no seminário do Porto, o recorda como “um homem muito completo”, que se destacava pelas relações humanas e o “grande espírito de serviço”. “Para os colegas era claramente o melhor, tanto em humanidade como na sua vivência eclesial”, refere à Ecclesia.
Esta notável figura da Igreja portucalense, tornada figura da igreja em França, acompanhando o movimento e as pessoas no tempo da emigração para aquele país, num permanente sentido de atenção, de entreajuda e de orientação humana e eclesial, merece não apenas uma recordação, mas sobretudo a imitação da sua ação e da sua obra pastoral.
Aqui deixamos à sua esposa Sofia e aos seus filhos Paulo e Clara a manifestação da nossa saudade e da nossa solidariedade.
CF