Tempos novos exigem criatividade e os padres da Vigararia de Matosinhos quiserem reunir, mesmo de portas fechadas, abrindo todas as janelas de oportunidade que as novas tecnologias oferecem à comunicação. A partir da aplicação Zoom, na passada sexta-feira, pelas 21h00, começou a reunião, não presencial, presidida por Dom Pio. Todos os padres da Vigararia estiveram à altura do desafio. O Pe. Pedro, Pároco de Leça do Balio, natural de Cortegaça, e em período de convalescença, na sequência de uma cirurgia, ficou retido em casa, sujeito ao cerco sanitário do concelho de Ovar. Com ajuda ou com esforço pessoal, foi possível uma longa conversa entre todos.
No primeiro ponto da agenda, estava a partilha da situação pessoal, de vida e saúde, de cada um dos participantes, registando-se com alegria a boa performance de todos, apesar das contingências do confinamento e do distanciamento social. Maior preocupação revelou o Pe. Joaquim Mário, Pároco do Padrão da Légua, que dirige o Lar Mãe de Jesus, onde 31 idosos dos 92 residentes testaram positivo para a COVID-19 bem como 18 funcionários. Apesar do apoio da Câmara, as dificuldades em encontrar materiais de proteção são imensas e a disponibilidade para revezar as equipas de trabalho é um desafio hercúleo. Os outros lares da Vigararia, em Lavra, Perafita, Matosinhos e Santa Cruz do Bispo, para já, não atingiram tal gravidade, mas esperava-se do Governo uma resposta mais rápida e eficaz. De saúde, encontram-se felizmente todos os padres da Vigararia.
A reunião permitiu ainda uma partilha sobre os caminhos de missão em tempos de pandemia: a maior parte dos párocos recorre à transmissão, pelo Facebook e Youtube, da Missa Dominical. Outros oferecem tempos de reflexão e oração, para além da Eucaristia. Está em curso um esforço por garantir a Catequese em casa, com a ajuda das novas tecnologias, e aproveitando os recursos disponibilizados pelo SNEC. Os párocos, visitadores de doentes e MEC’s mantêm contacto com as pessoas doentes, ou em situação de luto, via telefone ou pelo WhatsApp. Os funerais, dentro dos limites, contam com a presença dos párocos e diáconos e às famílias é prometida a possibilidade de uma celebração póstuma de gratidão pela vida dos que partiram, e que congregue posteriormente a família e amigos agora impedidos de participar. As conferências vicentinas ressentem-se da pobreza súbita de muitas famílias e esta é uma oportunidade de renovação, integrando novos elementos, estabelecendo parcerias com outros grupos paroquiais, para dar resposta a novas situações mais exigentes.
Em algumas paróquias, como Senhora da Hora, Matosinhos, Leça da Palmeira e Padrão da Légua, os párocos organizaram uma visita pascal móvel, que foi muito bem acolhida pela população, desejosa de um sinal, de uma mensagem e de um gesto de esperança, nesta Páscoa “confinada” e de portas fechadas, com medo do contágio do vírus, mas também uma Páscoa de muitas varandas e janelas abertas, com as pessoas a agradecer, a venerar a Cruz, a bater palmas, a pedir a bênção, mesmo à distância. Lavra e Perafita tiveram também uma experiência semelhante, no domingo de Páscoa e na segunda-feira da oitava.
Num terceiro ponto, discutiram-se alguns desafios para os próximos tempos, nomeadamente o aproveitamento pastoral do mês de maio, «mês de Maria». As respostas terão de se adaptar às medidas adotadas pelo governo depois do fim do estado de emergência. Os recursos digitais, a oração em família, eventuais orações ao ar livre, mantendo pessoas à janela, são hipóteses de trabalho pastoral. Pareceu a todos, que está fora de questão pensar em celebrações e festas de catequese, no presente ano pastoral (até final de junho), tendo em conta o previsível lento regresso à normalidade. Os párocos de Matosinhos irão promover uma concelebração, por ocasião do Pentecostes ou do dia habitual em que se realizaram as Festas do Senhor de Matosinhos.
A terminar, os párocos manifestaram-se preocupados com o agravamento da situação económicas das Paróquias, sendo que, para os funcionários das mesmas, podem recorrer às soluções laborais e apoios sociais, propostos pelo governo. Mas os párocos sugeriram que a Diocese pudesse, pelo menos, mediar e ajudar a negociar, eventuais pedidos de empréstimo, sobretudo para obras em curso. No domingo anterior ao fecho das Igrejas, a Paróquia da Senhora da Hora tinha tudo “lançado” para iniciar o concurso para a 1.ª fase de Requalificação da Igreja. E, na mesma altura, a Paróquia de São Mamede de Infesta acabara de realizar as obras na Igreja Paroquial, enfrentando agora naturalmente maiores dificuldades nos previstos contributos dos fiéis, tendo em conta a crise económica que a pandemia provocará. Por isso, foi sugerido que também a Diocese começasse a pensar num “Gabinete de Crise”, porque os tempos vindouros exigirão maior entreajuda, coragem e sábio discernimento, numa Igreja onde a comunhão efetiva é bem mais do que uma boa comunicação.
Esta reunião via zoom concluiu com a bênção de Dom Pio e foi uma excelente ocasião para partilhar a vida pessoal e pastoral e encontrar novos caminhos de missão em tempos desafiantes. Uma enorme graça este encontro que, em breve, se alargará também aos diáconos permanentes. Aqui fica o registo para a História do futuro. que já começou.
(inf: padre Amaro Gonçalo)